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Exército do Egito pede desculpas e confirma eleições

Apesar dos pedidos dos manifestantes, militares disseram que não vão deixar o governo imediatamente

Protestos no Egito: manifestantes e militares aceitaram uma trégua (Khaled Desouki/AFP)

Protestos no Egito: manifestantes e militares aceitaram uma trégua (Khaled Desouki/AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2011 às 15h27.

Cairo - Os militares que governam o Egito pediram desculpas nesta quinta-feira pelas mortes dos manifestantes nas mãos da polícia, enquanto insistiram que as eleições serão mantidas na próxima semana, como planejado.

"O Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) lamenta e pede desculpas pelas mortes dos mártires entre os leais filhos do Egito durante os recentes acontecimentos na Praça Tahrir", indicava um comunicado na página do SCAF no Facebook.

Ainda havia uma multidão na Praça Tahrir nesta quinta-feira, palco de dias de confrontos violentos entre as forças de segurança e manifestantes que pedem o fim imediato do governo militar, mas os ânimos estavam calmos depois de uma trégua negociada pelos clérigos muçulmanos.

"Um acordo foi feito recentemente entre as forças de segurança e os manifestantes para suspender os confrontos entre os dois lados", indicava um comunicado na página do gabinete do Egito no Facebook.

Pelo menos 38 manifestantes foram mortos desde sábado, quando os primeiros enfrentamentos eclodiram e mais de 2 mil pessoas ficaram feridas, suscitando a preocupação dos governos do Ocidente e um pedido da ONU por uma investigação independente sobre o "uso excessivo da força".

Os manifestantes querem que a liderança militar renuncie imediatamente e permita um retorno ao governo civil. Mas o conselho militar disse nesta quinta-feira que fazer isso significaria uma "traição" ao povo.

"O povo nos confiou essa missão e, se nós a abandonarmos agora, isso seria uma traição ao povo", declarou o General Mukthar al-Mulla, membro sênior do SCAF, em uma coletiva de imprensa.

"As Forças Armadas não querem ficar no poder. Queremos colocar os desejos do povo acima de qualquer coisa", disse ele, acrescentando que desde o começo do período de transição este tem sido o "primeiro objetivo" do Exército para restaurar a segurança das ruas do Egito.


"Nós não vamos adiar as eleições", declarou outro membro sênior do SCAF, o Major-general Mamduh Shahine. "Esta é a palavra final. Elas serão realizadas de acordo com as datas originais".

Os egípcios estão prontos para votar na segunda-feira nas primeiras eleições desde que Hosni Mubarak foi derrubado, mas a violência obscureceu o primeiro passo do país em direção ao governo democrático.

Enquanto isso, um tribunal decidiu libertar três americanos presos durantes protestos na praça, com uma investigação pendente, de acordo com a agência de notícias Mena.

A colunista egípcio-americana Mona Eltahawy, que foi presa durante a noite depois de aderir aos protestos por mudanças democráticas, tuitou que ela foi libertada, mas foi submetida a horas de agressões sexuais pela polícia durante sua detenção.

A agência de avaliação de crédito Standard and Poor, nesta quinta-feira, reduziu a avaliação de longo prazo do Egito, em um ponto para B+, dada a perspectiva política e econômica deteriorada do país.

"O rebaixamento reflete nossa opinião que o fraco perfil econômico e político do Egito se deteriorou ainda mais", após os conflitos dos últimos dias, disse a S&P.

A desculpa do Exército veio depois de um discurso do marcehal Hussein Tantawi, Ministro da Defesa de Mubarak por um longo período, agora no poder do país, na terça-feira, que buscava acalmar os manifestantes na praça, mas foi duramente criticado por não mencionar as mortes nas mãos da polícia.

O SCAF prometeu investigar e processar todos os que estão por trás das mortes e oferecer assistência às famílias dos mortos e feridos. As mortes provocaram uma declaração incomum expressa com firmeza pelo Al-Azhar, o mais alto instituto acadêmico do islã sunita, pedindo à polícia para não atirar nos manifestantes.


O grande imã, xeque Ahmed al-Tayyeb, disse que qualquer diálogo "manchado com sangue é condenado e seus frutos serão amargos".

O Al-Azhar "pediu ao líder da polícia para dar ordens de não apontar suas armas aos manifestantes, não importam quais sejam as razões", disse Tayyeb em uma mensagem transmitida pela televisão estatal.

O instituto pediu "para as Forças Armadas usarem todo o seu peso para evitar confrontos entre o povo", acrescentou.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, considerou as imagens que vêm do Egito "altamente chocantes" e pediu às autoridades para acabar com o uso excessivo da força" contra os manifestantes.

O secretário britânico das Relações Exteriores, William Hague, expressou sua preocupação profunda pela "violência inaceitável e perda de vidas" em Tahrir e arredores.

Analistas disseram que, mesmo que os manifestantes em Tahrir possam não representar a maioria da população egípcia, sua influência é inquestionável. "Nós estamos vendo a juventude de classe média ser morta e isso mobiliza grandes segmentos nas cidades e nas províncias", disse Nabil Abdel Fatah, do Centro Al-Aharam para Estudos Políticos e Estratégicos.

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