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Exército da Nigéria ignorou avisos de sequestro, diz AI

Exército não conseguiu reunir tropas para impedir ataque "devido à falta de recursos e a um suposto temor de enfrentar" islamitas, disse Anistia Internacional


	Protesto na Nigéria: Anistia disse que havia verificado dados de sequestro com fontes confiáveis
 (AFP)

Protesto na Nigéria: Anistia disse que havia verificado dados de sequestro com fontes confiáveis (AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2014 às 19h17.

O Exército da Nigéria ignorou os avisos de que o grupo islamita Boko Haram iria realizar um ataque no dia 14 de abril contra uma escola, onde sequestrou mais de 200 adolescentes, acusou a Anistia Internacional nesta sexta-feira, dia da chegada de especialistas americanos e britânicos para ajudar nas operações de busca.

"A Anistia Internacional ouviu testemunhos incriminadores que revelam que as forças de segurança nigerianas não reagiram a avisos prévios sobre o ataque armado do Boko Haram a um internato público em Chibok que levou ao sequestro" de centenas de jovens, indicou o grupo de defesa dos direitos humanos.

A Anistia acrescentou que havia verificado as informações sobre o sequestro com fontes confiáveis.

"A Anistia Internacional confirmou (...) que o quartel-general do Exército nigeriano em Maiduguri estava ciente sobre o ataque iminente pouco depois das 19h00 (15h00 de Brasília) de 14 de abril, quase quatro horas antes de o Boko Haram lançar o ataque à cidade" de Chibok, no estado de Borno (nordeste).

O Exército, no entanto, não conseguiu reunir as tropas necessárias para impedir o ataque "devido à falta de recursos e a um suposto temor de enfrentar" os islamitas, "frequentemente mais bem equipados", segundo a Anistia.

Os 17 militares de Chibok foram dominados pelos criminosos e precisaram se retirar, acrescentou o grupo com sede em Londres.

"O fato de as forças de segurança terem sido alertadas sobre o ataque iminente do Boko Haram, mas não terem conseguido dar a resposta imediata necessária para detê-lo, só aumentará o clamor nacional e internacional em torno deste crime horrível", previu Nesat Belay, diretor de investigação e defesa para a África da Anistia Internacional.

Este sequestro sem precedentes continua a provocar comoção e solidariedade internacionais.

Chegada de especialistas americanos e britânicos

O Conselho de Segurança da ONU também afirmou que os sequestros cometidos pelos extremistas podem "constituir crimes contra a Humanidade". Os 15 países membros do Conselho se disseram preparados para "acompanhar ativamente a situação das jovens sequestradas e preparam as medidas apropriadas contra o Boko Haram".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, decidiu enviar seu representante especial no Oeste da África, Said Djinnit, a Abuja para oferecer a ajuda das Nações Unidas.

Equipes de especialistas americanos e britânicos chegaram à Nigéria para ajudar na busca das mais de 200 estudantes sequestradas.

"Estão aqui. A equipe está na Nigéria", declarou Rhonda Fergusson-Augustus, porta-voz da embaixada americana, sem fornecer mais detalhes sobre a composição do grupo.

As autoridades americanas haviam anunciado o envio de uma equipe de menos de 10 militares, especialistas do departamento de Justiça e do FBI ao país africano.

"Uma equipe de especialistas britânicos que irá aconselhar e ajudar as autoridades nigerianas para que respondam ao sequestro chegou nesta manhã em Abuja", anunciou, por sua vez, o Foreing Office britânico em um comunicado.

A equipe da Grã-Bretanha inclui diplomatas e especialistas em planejamento e coordenação do Ministério da Defesa. Ela "não irá apenas levar em conta os incidentes recentes, mas também pensará em soluções de longo prazo para o combate ao terrorismo, a fim de impedir que tais ataques se repitam no futuro e permitir que o Boko Haram seja derrotado", indica o comunicado.

A China e a França também ofereceram ajuda, principalmente por meio do compartilhamento de informações recolhidas pelos serviços de inteligência e satélites, e pelo envio de especialistas.

A França começou a enviar nesta sexta-feira material à Nigéria, segundo uma fonte diplomática. O chanceler francês, Laurent Fabius, conversou com seu colega nigeriano na quinta-feira para determinar as necessidades da Nigéria.

Discursando no Fórum Econômico Mundial para a África, o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, reiterou que seu país "está completamente envolvido no resgate às jovens meninas".

A inação das autoridades ante este ataque foi muito criticada pelas famílias das vítimas e pela comunidade internacional.

A mobilização internacional é grande, inclusive nas redes sociais, onde várias celebridades, entre elas a atriz Angelina Jolie, pediram mais compromisso das autoridades para encontrar as meninas ainda cativas.

A viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, rompeu o silêncio imposto pelo luto para pedir ao governo da Nigéria e à comunidade internacional que intensifiquem os esforços nesta missão.

Orações e jejum

Localmente, o movimento de protesto contra o governo e de solidariedade com as vítimas continuava a ganhar força nesta sexta-feira.

Uma manifestação foi realizada na parte da manhã no centro de Lagos, organizada pelo grupo "Mulheres pela paz e pela justiça".

Outro protesto, que reuniu centenas de pessoas, foi organizado em Maiduguri, capital do estado de Borno, em frente ao gabinete do governador.

"Organizamos esta mobilização para expressar nossa insatisfação com a indiferença com que o governo nigeriano lidou com o sequestro das estudantes", disse à AFP Manaseh Allan, de Chibok.

O governador do estado de Borno, Kashim Shettima, anunciou três dias de oração e jejum em apoio às reféns.

Uma manifestação também foi realizada em Londres nesta sexta-feira em apoio às estudantes.

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