Fachada do hospital do MSF: Inicialmente, o ataque tinha como alvo um edifício dos serviços de inteligência afegãos em Kunduz (norte), conquistado pelo Taleban (Reuters / Stringer)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2015 às 15h51.
O exército americano se equivocou de alvo quando bombardeou o hospital afegão da organização Médicos Sem Fronteira (MSF) em outubro passado, deixando ao menos 30 mortos, afirmou nesta quarta-feira seu comandante no Afeganistão, o general John Campbell.
"O centro médico foi identificado erroneamente como um alvo militar", declarou o militar ao anunciar os resultados da investigação sobre o ocorrido.
"Os soldados acreditaram que estavam atacando outro prédio a centenas de metros de distância, onde foram informados que havia combatentes", acrescentou.
O general John Campbell, que comanda 13.000 soldados estrangeiros da Otan no Afeganistão além das tropas americanas no país, falou durante uma coletiva de imprensa às 14h30 GMT (12h30 de Brasília), sobre o inquérito realizado pelo exército americano sobre o ataque de 3 de outubro, uma das três investigações em curso com as da Otan e do exército afegão.
"Foi uma combinação de fatores", declarou pouco antes uma autoridade do departamento americano de Defesa, entrevistado pelo jornal New York Times.
Duas outras autoridades americanas familiarizadas com a investigação evocaram uma cadeia de erros humanos, violações de procedimentos e falhas técnicas, segundo o jornal americano.
Inicialmente, o ataque tinha como alvo um edifício dos serviços de inteligência afegãos em Kunduz (norte), conquistado pelo Talibã.
Mas "os membros da tripulação não puderam contar com as ferramentas de navegação da aeronave para localizar o alvo", indica o jornal. "Desta forma, basearam-se na descrição do local pelas tropas terrestres" e atingiram "por engano" o hospital localizado nas proximidades.
Mas desde 3 de outubro, a direção da MSF refuta categoricamente o termo "erro". Seu presidente Joanne Liu chegou a evocar "suspeitas de crimes de guerra" e exigir uma investigação internacional independente, assegurando não confiar no Pentágono.
Além disso, Kate Stegeman, porta-voz da MSF no Afeganistão, explicou à AFP que "nós não vimos o resumo do relatório e estamos no escuro sobre o resultado" da investigação, conduzida por três generais americanos que não pertencem ao estado-maior da Otan no Afeganistão.
A ONG, duplamente atingida pelos bombardeios contra seu hospital de Kunduz e em 27 de outubro contra o de Haydan, no Iêmen, publicou nesta quarta-feira fotos e uma breve biografia de seus 14 funcionários, todos os afegãos, mortos em Kunduz.
Confusão
O foco do relatório americano reside na atribuição de responsabilidades nas falhas na cadeia americana de comando.
Imediatamente após o atentado, o general Campbell indicou que o ataque americano havia sido realizado por solicitação do exército afegão, segundo o qual combatentes talibãs estavam escondidos no interior do hospital.
Ele também assegurou perante uma comissão do Congresso americano que suas forças "não visavam" hospitais, mesmo tendo inimigos em seu interior.
Na época, as forças afegãs estavam envolvidas em violentos combates com o Talibã em Kunduz, grande cidade do norte do país, então nas mãos dos insurgentes.
A MSF admitiu recentemente que "vinte" talibãs recebiam tratamento em seu hospital, mas garantiu que transmitiu as coordenadas GPS do hospital para os exércitos afegão e americano antes do ataque.
A organização também alertou as autoridades assim que as primeiras bombas caíram, o que não impediu que o bombardeio continuasse por quase uma hora.
Os funcionários entrevistados pelo New York Times ressaltaram que o ataque não cumpriu algumas das regras do compromisso militar americano no Afeganistão.
Uma autoridade também informou ao Wall Street Journal que "havia certa confusão quanto ao alvo que eles estavam atirando".