Em Delaware, Biden carrega pastas para reunião em seu primeiro dia de trabalho, na segunda-feira: acesso barrado a milhões de dólares para a transição (Jonathan Ernst/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 18 de novembro de 2020 às 19h41.
Última atualização em 18 de novembro de 2020 às 21h38.
Mesmo com a vitória de Joe Biden consumada há vários dias e já reconhecida (ainda que parcialmente) até mesmo por Donald Trump, a tradicional transição republicana entre o atual e o próximo governo continua inexistente. Acusando Biden de ter vencido a eleição de maneira ilegal, Trump faz de tudo para atrasar a chegada de Biden à Casa Branca, bloqueando recursos e, principalmente, acesso às informações da administração americana.
"Até agora a equipe do Biden não conseguiu contato com a equipe do Trump nem recebeu nenhuma informação de segurança nacional. Pelo menos a Kamala [Harris, vice de Biden] faz parte da Comissão de Segurança do Senado e sabe de algumas coisas", explica o jornalista Sérgio Teixeira Jr., correspondente da EXAME em Nova York, no último episódio do podcast EXAME Política — Temporada Eleições Americanas. "Talvez Trump deixe a Casa Branca no dia 20 de janeiro sem admitir o resultado da eleição."
Enquanto a transição não caminha, as atenções se voltam para o estado da Georgia — um dos mais decisivos e demorados na apuração. Por lá, os cidadãos terão um segundo turno em 5 de janeiro para definir qual partido assumirá as duas cadeiras do estado no Senado. A decisão afeta diretamente o futuro governo Biden já que, com um Senado controlado pelos republicanos, o democrata certamente terá mais dificuldade para governar.
"Para o grau de importância que essa eleição da Georgia ao Senado tem, ela é até muito cheia de problemas", destaca Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. "O sistema de votação é exatamente igual e pode suscitar os mesmos questionamentos da eleição presidencial. Além disso, quem optar pelo voto pelo correio, por exemplo, deverá votar durante as festas de fim de ano."
Com a chegada da segunda onda de covid-19, novas restrições de circulação devem ser implementadas em vários estados americanos. Ao mesmo tempo, as discussões sobre uma nova rodada de estímulo para salvar a economia nessa nova fase da pandemia seguem estacionadas no Senado, ainda republicano.
"Quanto mais o tempo passa, pior fica para o Biden. Se não houver um acordo sobre uma nova rodada de estímulo, o governo dele já larga atrasado", analisa Teixeira Jr., lembrando que o presidente eleito já discursou algumas vezes implorando que os americanos usem máscara. "Isso mostra que a comunicação do governo agora vai ser muito mais direta. Só essa nova postura já é uma mudança e tanto. Biden não pode determinar a obrigatoriedade do uso de máscara no país, porque isso é prerrogativa dos governadores, mas deve fazer campanhas nesse sentido."
Mediado pela editora de macroeconomia da EXAME, Fabiane Stefano, o podcast EXAME Política vai ao ar todas as sextas-feiras com os principais temas da eleição americana. Clique aqui para ver o canal no Spotify, ou siga em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.