Mujica também questionou a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez (Roberto Serra/Iguana Press / Correspondente/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 16h41.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2024 às 16h41.
José Mujica, ex-presidente do Uruguai e referência da esquerda latino-americana, afirmou que "há um governo autoritário" na Venezuela que destrata as pessoas, e também criticou a vice-presidente deste país por seus comentários esta semana contra o mandatário uruguaio Luis Lacalle Pou.
Em declarações dadas a jornalistas na sexta-feira, 16, Mujica, um ex-guerrilheiro que governou o Uruguai de 2010 a 2015, considerou que o governante venezuelano, Nicolás Maduro, pode ser chamado de "ditador".
"A desgraça da Venezuela é que tem muito petróleo, sente-se cercada e tem um governo autoritário que vai na direção oposta", disse. "Mas eu aprendi isto: em uma praça sitiada, qualquer dissidente é um traidor, então tratam as pessoas como merda", acrescentou Mujica.
Ao ser perguntado se o governo Maduro era uma ditadura, respondeu: "Onde se origina o conceito de ditadura? Era uma decisão do Império Romano quando as batatas estavam assando, que concentravam o poder e o entregavam a um único cara, para que mandasse. Nenhuma discordância nem nada."
"Ordem fechada, porque em momentos de perigo não se pode discutir. Deve haver alguém no comando. Ali foi inventada a figura do ditador. Na Venezuela existe um governo autoritário e você pode chamá-lo [Maduro] de ditador, chame-o do que quiser", frisou.
Mujica também questionou a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, que na segunda-feira chamou Lacalle Pou de "lacaio", acusando-o de ser um fantoche dos Estados Unidos, depois que ele classificou o governo Maduro de "ditadura".
"Ela perdeu a mão. Assim não se deve falar dos presidentes da América. Não se deve falar, até por conveniência e por razões diplomáticas. Ela perdeu a mão", enfatizou Mujica.
A troca de farpas entre Lacalle Pou e Delcy Rodríguez aconteceu depois que o Uruguai chamou para consultas, em 9 de fevereiro, seu embaixador em Caracas, Eber da Rosa, por considerar que há fatos que "tornariam inviável" a realização de eleições livres na Venezuela este ano.
Nesta quinta-feira, o Uruguai se juntou a Argentina, Costa Rica, Equador e Paraguai para expressar, em um comunicado, "sua profunda preocupação com a detenção arbitrária da ativista [venezuelana] de direitos humanos Rocío San Miguel" e a suspensão das atividades do escritório do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (ACNUDH) na Venezuela.