Moshe Katsav, ex-presidente de Israel: ao longo da carreira, estupros e assédios sexuais (Uriel Sinai/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2010 às 07h13.
Jerusalém - O ex-presidente de Israel, Moshe Katsav, foi declarado nesta quinta-feira culpado de dois delitos de estupro e de vários de assédio sexual, após quatro anos de pesquisas e processo judicial cercados de grande polêmica política.
A sentença do Tribunal do Distrito de Tel Aviv condenou Katsav por dois estupros a uma ex-funcionária do Ministério do Turismo, cargo que ocupou entre 1996 e 1999, e de abuso e assédio sexual a duas outras servidoras da Presidência, na qual esteve de 2000 a 2007, e de outros delitos menores como abuso de poder, obstrução à justiça e assédio a testemunhas.
"A denunciante de violação ('A' de Turismo) disse a verdade, e segundo a lei ficou provado de que não houve consentimento de sua parte", sustentaram os juízes ao descrever o testemunho de Katsav como "semeado de mentiras".
O juiz George Kara, presidente do Tribunal disse que o ex-presidente "produziu provas o tempo todo" para eludir as acusações.
Mas esclareceu que as provas falam por si mesmas e demonstram que ele se "aproveitou de sua autoridade e da força física" para violar à funcionária.
Pela ata de acusação, o ex-chefe do Estado, casado e pai de cinco filhos, violou a funcionária de Turismo em um hotel e no escritório no segundo semestre de 1998.
Com 65 anos e nascido no Irã, Katsav renunciou em 29 de junho de 2007 após fortes pressões políticas que haviam começado um ano antes ao denunciar ele mesmo ao Procurador-geral do Estado que estava sendo extorquido por uma ex-funcionária da Presidência, conhecida pela inicial "A" e cujo caso não estava incluído no atual processo por falta de provas.
O ex-presidente revelou com isso o que se transformaria para ele em um pesadelo, com denúncias de ao menos outras nove mulheres por diferentes delitos sexuais e a fracassada tentativa do Parlamento, pela primeira vez na história política israelense, de separar do cargo a um chefe do Estado.
Um dia antes de apresentar sua renúncia, seus advogados chegaram a um acordo fora de tribunais com a Promotoria pelo que se devia haver declarado culpado de vários delitos de assédio, mas não de violação, o que teria o eximido de prisão.
No entanto, ao chegar aos tribunais dez meses depois para pedir ao Tribunal que referendasse o acordo, o ex-presidente se retratou no último momento e, sem descer do automóvel, abandonou o local em frente às câmeras de televisão.
"Katsav fez uma arriscada aposta acreditando que a Promotoria não tinha provas suficientes contra ele", explicou uma jornalista do "Canal 2" de televisão, que transmitiu a sessão ao vivo.
Em março de 2009, a Promotoria o processou formalmente e restituiu na ata de acusação os dois delitos de violação que acabarão enviando a prisão quando o tribunal dite sentença.
"A justiça israelense estabelece até 16 anos de prisão para os casos de violação, e não há nenhum juiz que até agora se tenha abstido de enviar a prisão um violador", explicou o jornalista Gay Peleg, do "Canal 2".
Segundo a sentença do tribunal, formado por um homem e duas mulheres, "o acusado cometeu um erro ao acreditar que o Estado não poderia provar" as denúncias contra ele e que graças a seu cargo poderia eludir a justiça.
Nesta quinta-feira, dezenas de mulheres se manifestaram com cartazes em frente aos tribunais para encorajar outras vítimas a denunciar os delitos de assédio sexual e sentar com o caso do ex-presidente um precedente claro nas normas nacionais de conduta.