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Ex-presidente argentino pede desculpas, mas afirma que agiria da mesma forma

Fernando de la Rúa se desculpou por seus erros, mas se declarou vítima de um "golpe de Estado civil" e garantiu que agiria da mesma maneira para enfrentar a crise

De la Rúa: "Vivi um tempo muito difícil" (Wikimedia Commons)

De la Rúa: "Vivi um tempo muito difícil" (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2011 às 18h43.

Buenos Aires - Dez anos após deixar a presidência em meio à mais grave crise da Argentina, Fernando de la Rúa se desculpou por seus erros, mas se declarou vítima de um "golpe de Estado civil" e garantiu que agiria da mesma maneira para enfrentar a crise.

Aos 74 anos, o advogado De la Rúa vive totalmente afastado da política e da cena pública, esquecido por seu partido, a União Cívica Radical, e focado em preparar suas memórias "tolerantes, sem rancores" para contar "a humilde verdade", à espera do julgamento que pesa contra ele por suborno no Senado.

Poucos lembram que o ex-presidente chegou ao poder em dezembro de 1999 com 48,5% dos votos, à frente da Aliança pelo Trabalho, após uma bem-sucedida carreira como senador que o levou a ser o primeiro chefe do governo da cidade de Buenos Aires, entre 1996 e 1999.

"Assumo meus erros e peço desculpas", sustenta em entrevista à Agência Efe.

Na memória dos argentinos ainda está muito fresca a imagem do helicóptero que o tirou da Casa Rosada na tarde de 20 de dezembro de 2001, após um dia de violência que deixou cinco mortos na capital argentina e em meio à maior crise econômica e social da democracia do país.

"Vivi um tempo muito difícil", afirma o ex-presidente, que se prende ao roteiro que repetiu durante a última década sobre a "conspiração" que acabou com seu governo em apenas dois anos.

Para enfrentar a crise, "era necessária uma dose de compreensão e patriotismo" que De la Rúa não encontrou nem em suas próprias fileiras, nem na oposição peronista que, segundo ele, "preparou uma conspiração e deu o primeiro golpe de Estado civil que se tem notícia na história".


"Foi um erro pensar que o justicialismo (peronismo) assumiria uma atitude patriótica e que não avançaria contra o governo e que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estaria à altura de sua responsabilidade", afirmou, acrescentando: "Não reprovo ninguém, assumo as coisas como são".

Foram muitos erros para um país à beira da quebra, com um presidente isolado que buscou uma saída milagrosa com receitas de um polêmico ministro da Economia, Domingo Cavallo, o promotor da dolarização durante a era de Carlos Menem e, já com De la Rúa, o "corralito", a restrição à retirada de fundos dos bancos.

"O corralito foi uma desgraça necessária diante de uma corrida bancária. Era inevitável. Eu reconheço como uma dor, não como um erro, era imprescindível", avalia o ex-presidente, para quem o mais grave dano foi causado por Eduardo Duhalde, que em 2002 decretou como presidente o "corralón", a "pesificação" das economias em dólares que afetou centenas de milhares de pessoas.

"Duhalde se apropriou diretamente dos fundos. Eu nunca teria permitido o corralón", afirma De la Rúa, que acusa o dirigente peronista de liderar a "conspiração" e o "golpe de Estado civil" contra seu Executivo.

"Ele havia avisado meses antes a Aznar (o ex-presidente do governo espanhol José María Aznar) que iria assumir a presidência em dezembro, o que confirma o golpe", insiste De la Rúa, que reconhece que nunca encarou o peronista para falar sobre o tema.

Foi exatamente o "golpe" - continua - a origem da violência gerada durante aquela semana trágica, porque "o justicialismo trouxe pessoas para provocarem", denuncia o ex-presidente, que carrega em suas costas a "dor" pelas vítimas, mais de 30 em todo o país.

"A repressão de modo algum se deveu a uma ordem do presidente", ressaltou.


De la Rúa acredita que se tivesse tido uma margem razoável, poderia ter driblado a crise. "Eu tive o vento de cauda, agora a Argentina tem o vento a favor", considerou.

Após sua experiência, o ex-presidente se permite dar conselhos aos governos europeus para sair da crise: "Não é preciso dar créditos apenas para pagar as dívidas, mas para reativar a economia".

Um valioso conselho que ele mesmo não soube, ou não pôde, aplicar durante seu mandato.

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