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Ex-motoqueira e conservadora, Sanae Takaichi será 1ª mulher a comandar o Japão

Nova presidente do LDP, partido que chefia o país há décadas, se tornará primeira-ministra — entenda os planos e polêmicas que envolvem a nova líder do Japão

Sanae Takaichi, futura premiê do Japão (Yuichi Yamazaki - Pool/Getty Images)

Sanae Takaichi, futura premiê do Japão (Yuichi Yamazaki - Pool/Getty Images)

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 15h53.

Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 16h52.

Sanae Takaichi, de 64 anos, é a primeira mulher a liderar um partido político do Japão. Depois de ter ganhado as eleições para a presidência do partido LDP, no último sábado 4, ela deverá ser nomeada como primeira-ministra na próxima semana.

Como ela lidera o partido majoritário no Congresso do Japão, ela será também a primeira-ministra, segundo as regras do sistema político japonês. A nomeação deverá ser confirmada provavelmente no dia 15 de outubro, em sessão extraordinária.

Takaichi é de direita e conservadora. Ela cita como inspiração a ex-premiê britânica Margaret Thatcher (1925-2013), que ficou conhecida por suas medidas de austeridade fiscal.

Ela queria atuar na política desde jovem, mas sua família, por ser conservadora, era contra. Assim, ela recusou vagas em universidades de prestígio para estudar política e foi cursar administração em Kobe.

No entanto, depois de se formar, ela foi atrás de seu sonho e entrou para o Instituto de Governança e Administração Matsushita, famoso por formar líderes políticos.

Depois, para ganhar experiência, foi trabalhar no Congresso dos Estados Unidos, no gabinete da representante democrata Pat Schroeder, onde trabalhou de 1987 a 1989.

Ao retornar ao Japão, conseguiu se eleger de maneira independente à Câmara dos Representantes em 1993 e se aliou à LDP em 1995.

Durante o primeiro mandato do primeiro-ministro  Shinzo Abe, em 2006, foi nomeada como ministra encarregada de Okinawa e de assuntos dos territórios do norte. No segundo mandato de Abe, de 2012 a 2020, se tornou ministra do Interior e da Comunicação em 2014, servindo dois turnos de 2014-2017, e de 2019-2020. Por fim, se tornou ministra da Segurança Econômica em 2022, cargo que ocupou até 2024.

Em sua vida pessoal, Takaichi é baterista e ávida fã de heavy metal e chegou a ter uma banda do gênero em sua juventude.

Cita entre suas bandas favoritas artistas populares do rock japonês, conhecido como J-Rock, entre os quais estão Demon Kakka, B’z e X Japan.

Quando jovem, foi motociclista. Também é fã de corridas de cavalo, e apoia o time de futebol Gamba Osaka, e o de beisebol Hanshin Tigers.

As promessas de Takaichi

Sua campanha para o cargo atual foi focada em medidas para controlar a inflação e retirar o Japão da estagnação econômica que aflige o país há décadas. Além disso, prometeu regras mais restritas em relação à imigração.

Apesar de seu conservadorismo político, Takaichi promove créditos fiscais e expansionismo fiscal e foi muito crítica às políticas do Banco do Japão (BOJ).

A desigualdade de gênero não foi um tema central de sua campanha: “Não as vou nomear só por serem mulheres”, disse a um comício partidário semana passada. “Mas a intenção é que escolhamos muito mais mulheres que são capazes e estão dispostas a servir a nação

De acordo com o relatório global de desigualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial, de 2025, o Japão se encontrava em 118º lugar, em uma lista de 148 países. Quanto mais baixa a posição, maior a desigualdade de gênero.

Dados de 2021 da Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD), órgão intergovernamental com 38 democracias desenvolvidas como membros, apontam que mulheres ocupavam apenas 13,2% das posições de liderança no país.

As mulheres ocupam apenas 15% dos assentos na Câmara dos Conselheiros, a câmara alta do Congresso que governa o país.

Apesar de ter postura conservadora, Takaichi promete trazer mudanças para as mulheres no Japão.

Entre suas pautas, está a conscientização de homens sobre a saúde das mulheres, em assuntos como a menopausa e o aumento da participação de mulheres na política do país, a qual pretende elevar a “níveis nórdicos”.

Seu desafio, no entanto, será conciliar estas pautas com as demandas de seu partido.

Especialistas disseram ao jornal Asahi Shimbun que Takaichi deve aderir a pautas conservadoras com um certo afinco para buscar satisfazer as agendas e interesses de membros influentes do LDP, onde há forte domínio masculino.

Se não o fizer, arrisca ter uma liderança curta.

Sua inclinação ao conservadorismo pode ser o que diferenciou a sua ascensão política, enquanto muitas outras mulheres não conseguiram avançar, devido às suas pautas progressivas, apontam especialistas.

Por exemplo, defendeu suporte financeiro a tratamentos de saúde e fertilidade para mulheres a fim de defender os interesses do LDP de que mulheres sejam principalmente mães e esposas.

Conservadorismo e polêmicas 

Apesar do apoio às mulheres, Takaichi continua defendendo pontos conservadores, tais como sua oposição ao casamento homossexual e sua defesa às tradições de sucessão exclusivamente masculina da família imperial.

Também se opôs à revisão de uma lei do século 19 que proíbe casais de terem sobrenomes diferentes, o que resulta em mulheres adotando os sobrenomes de seus maridos na vasta maioria dos casos.

Mas a sua postura mais controversa até então pode ser suas visitas regulares ao santuário Yasukuni, que honra e imortaliza milhares de nomes de soldados que deram suas vidas pelo Japão em conflitos.

O que torna o santuário tão polêmico é que, entre os mortos, estão imortalizados dezenas de criminosos de guerra condenados por crimes contra a paz e a humanidade após a Segunda Guerra Mundial, tornando o santuário uma homenagem ao brutal militarismo do Japão aos olhos de muitos.

A família imperial não faz visitas a Yasukuni desde 1975.

A presidente do LDP, todavia, trata suas visitas de maneira leve, adicionando que “devemos considerar com cautela como honramos as memórias daqueles que sacrificaram suas vidas por seu país e como rogamos pela paz”, e que “essas visitas não deveriam se tornar incidentes diplomáticos”.

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