Nascimento: “Eu não sou lixo, meu partido não é lixo, nossos sete senadores não são lixo” (José Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 4 de agosto de 2011 às 15h34.
Brasília - O ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR-AM) disse hoje (2) que deixou a pasta porque não encontrou apoio no governo da presidente Dilma Rousseff após a publicação de denúncias de corrupção que envolveram a cúpula do ministério e do partido dele, o PR.
Apesar de ressalvar que a presidente não o demitiu e que ela “sabe" que o ex-auxiliar é "um homem limpo”, Nascimento se queixou, em discurso na tribuna do Senado, de reuniões feitas com membros do ministério e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) sem a presença dele. Segundo o senador, o conteúdo dessas reuniões foram posteriormente vazados para a revista Veja, que desencadeou a crise no ministério.
“Na medida em que tal conteúdo jamais foi desmentido, eu me pergunto até hoje: por que a Presidência não me convocou para a reunião? Aquele recado era para quem? Será que a presidenta [Dilma Rousseff] preferiu conduzir aquela conversa sem a minha presença?", indagou o ex-ministro.
Nascimento se mostrou indignado com a maneira como as demissões no Ministério dos Transportes, chamadas pela imprensa de “faxina”, têm sido tratadas. “Eu não sou lixo, meu partido não é lixo, nossos sete senadores não são lixo”, disse Nascimento.
No discurso, o ex-ministro fez um relato sobre a atuação dele no ministério desde o início do ano. Disse que encontrou a pasta “muito diferente” da que deixou quando se afastou do cargo em março do ano passado para disputar o governo do Amazonas. Segundo Nascimento, houve um “incremento” nos gastos do ministério durante o afastamento dele.
“Quando saí, junto com a presidente Dilma, então ministra, o PAC [Plano de Aceleração do Crescimento] do Ministério dos Transportes significava um pacote de investimentos da ordem de R$ 58 bilhões. Quando retornei, já estava em R$ 72 bilhões. Dediquei os primeiros noventa dias de gestão a uma imersão em todos os projetos e ações em andamento. Em fevereiro, fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente fino para conhecer a origem de tal movimentação”, afirmou ele.
De acordo com Nascimento, o descontrole nos gastos colocavam em risco a execução de novos projetos. “Na prática, o cenário que encontrei, quando reassumi a pasta, em janeiro, significava que a nova administração não teria recursos necessários para iniciar nenhuma nova ação, limitando-se a pagar e a entregar as obras das gestões anteriores. Mantida aquela destinação do orçamento, não teríamos o PAC 2”, garantiu.
Para corrigir a situação, o ministro disse que acordou com a presidente Dilma que apresentaria uma solução até o dia 15 de julho. Antes, contudo, uma série de acusações foi lançada na imprensa contra o ministro e o filho dele. O senador creditou a origem das denúncias ao ex-deputado estadual do Amazonas e radialista Ronaldo Tiradentes. Segundo Nascimento, Tiradentes teria induzido jornais de grande circulação nacional ao erro ao fornecer dados distorcidos sobre as movimentações financeiras da empresa de Gustavo Nascimento, filho do ex-ministro.
“Construídas com o objetivo de atingir-me, tais mentiras já haviam sido desmontadas em 2009, quando mobilizaram setores da imprensa. Os ataques ao meu filho agora reprisados fazem parte da estratégia mesquinha de um desafeto que, protegido pelo anonimato, manipula o noticiário a partir do Amazonas para alimentar suas chantagens e perseguições”, afirmou o ex-ministro, que informou que irá buscar na Justiça a reparação ao que considera "injustiças" contra a família dele.
Nascimento declarou ainda que é mentiroso o dado de que a empresa do filho aumentou em 86.500% o capital social. Segundo ele, a informação foi distorcida porque considerou apenas os ativos da empresa, ignorando os passivos. O ex-ministro garantiu que filho nunca teve negócios com empresas fornecedoras do governo e que não gosta de política.
Sobre a permanência dele o do PR na base aliada, Nascimento lembrou que reassumiu a presidência nacional do partido e que não cogitou a retirada do apoio ao governo. Mas se permitiu dar um conselho para a presidente Dilma Rousseff: “Quero fazer uma sugestão à presidente: tome para si a responsabilidade de corrigir esse PAC", para que o programa volte a ter a credibilidade que tinha quando Dilma era a ministra responsável.