Mundo

Ex-militares chilenos presos por morte de cantor na ditadura

Até agora, a justiça não conseguiu identificar os autores materiais de seu assassinato, um dos crimes mais marcantes da cruel ditadura de Pinochet

Crianças ficam perto do caixão do cantor e compositor Víctor Jara: em dezembro deste ano, milhares de chilenos acompanharam sua viúva no funeral do músico (©afp.com / Martin Bernetti)

Crianças ficam perto do caixão do cantor e compositor Víctor Jara: em dezembro deste ano, milhares de chilenos acompanharam sua viúva no funeral do músico (©afp.com / Martin Bernetti)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2012 às 16h08.

Santiago - A justiça chilena ordenou nesta sexta-feira a prisão de oito ex-oficiais do Exército chileno acusados de serem autores e cúmplices do assassinato do cantor e compositor Víctor Jara, ocorrido poucos dias depois da instalação da ditadura de Augusto Pinochet, em 1973, informou o Poder Judicial.

Víctor Jara Martínez, executado em 16 de setembro de 1973, no Estádio do Chile, foi detido no dia seguinte ao golpe de Estado que derrubou o governo do socialista Salvador Allende e instalou a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Depois de permanecer detido junto a outros 5.000 prisioneiros no estádio de Santiago, o corpo de Jara foi encontrado em um terreno baldio com 44 impactos de bala e com as mãos mutiladas.

Até agora, a justiça não conseguiu identificar os autores materiais de seu assassinato, um dos crimes mais marcantes da cruel ditadura de Pinochet, que deixou mais de 3.000 vítimas.

Em sua resolução, a justiça ordenou a prisão como autores do delito de "homicídio em primeiro grau" dos ex-oficiais Hugo Sánchez Marmonti e Pedro Barrientos Núñez, que vive atualmente nos Estados Unidos, para quem foi emitida uma ordem de prisão internacional.

Como cúmplices, foi ordenada a prisão de outros seis ex-oficiais.

Mais cedo, o Poder Judiciário havia informado sobre sete acusados no total, mas após uma retificação este número subiu para oito.


O juiz Miguel Vázquez estabeleceu nesta sexta-feira que Jara foi detido quando se encontrava na Universidade Técnica do Estado, onde atuava como professor, e depois levado ao Estádio do Chile, um recinto fechado no centro de Santiago que hoje leva o nome do cantor e que foi utilizado como centro de tortura após o golpe de Estado.

Durante sua detenção, o cantor "foi reconhecido pelos funcionários militares mobilizados no interior do Estádio do Chile, sendo separado do resto dos prisioneiros para ser levado a outras dependências localizadas nos vestiários, ocupados como salas de interrogatórios e coação, onde foi agredido fisicamente de forma permanente por vários oficiais".

"No dia 16 de setembro de 1973 (...) ocorreu a morte de Víctor Lidio Jara Martínez, fato que ocorreu em consequência de, ao menos, 44 impactos de bala, segundo informa o respectivo relatório de necropsia", conclui a resolução.

A investigação judicial foi reativada em 2005, depois que um soldado que esteve no Estádio do Chile reconheceu ter disparado contra o cantor, embora posteriormente tenha desmentido o fato. Sua versão, no entanto, levou a justiça a ordenar a exumação de seu corpo.

Em dezembro deste ano, milhares de chilenos acompanharam sua viúva, a britânica Joan Turner, e suas filhas Manuela e Amanda, no funeral que o músico não teve em 1973, quando foi sepultado em um anonimato quase total.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaChileCrimeDitadura

Mais de Mundo

Putin sanciona lei que anula dívidas de quem assinar contrato com o Exército

Eleições no Uruguai: Mujica vira 'principal estrategista' da campanha da esquerda

Israel deixa 19 mortos em novo bombardeio no centro de Beirute

Chefe da Otan se reuniu com Donald Trump nos EUA