O ex-líder do Khmer Vermelho Nuon Chea, no tribunal (Mark Peters/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2014 às 08h52.
Bangcoc - A defesa dos ex-líderes do Khmer Vermelho, condenados pelo Tribunal Internacional do Camboja à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, anunciou nesta quinta-feira que apresentará recursos de apelação da sentença e um pedido de impugnação dos juízes.
Os acusados são o ideólogo e número 2 da organização comunista, Nuon Chea, de 88 anos, e o ex-chefe de Estado do regime, Khieu Samphan, de 83, que negaram as acusações da primeira fase do processo.
O advogado de Nuon Chea, Victor Koppe, disse que seu cliente já esperava esta sentença e questionou a integridade dos juízes, além de anunciar que apresentará uma queixa com a intenção de substituí-los.
"Acreditamos que não são imparciais", disse Koppe em entrevista coletiva. O advogado também argumentou que os magistrados não podem garantir um julgamento justo a seu cliente nas próximas fases do processo, uma vez que já o condenaram.
Além disso, outro defensor do "número 2", San Arun, denunciou que o tribunal "só se ocupou do corpo do crocodilo, mas não da cabeça nem dos rabos".
Os advogados de Khieu Samphan, por sua vez, afirmaram que a sentença foi "injusta" e "desproporcional", ao argumentar que seu cliente recebeu a mesma pena de Nuon Chea, apesar de os juízes terem isentado o ex-chefe de Estado do Khmer Vermelho de várias acusações.
"Não existem provas concretas sobre a participação de Khieu Samphan na tomada de decisões dos fatos que foram julgados", disseram os advogados, que buscam a absolvição de seu cliente com o recurso.
Os defensores alegaram que Khieu Samphan não fazia parte do comitê central do Partido Comunista de Kampuchea e que, como chefe de Estado, desempenhou apenas um papel institucional.
Os promotores classificaram o dia como "histórico" e se deram por satisfeitos com a decisão judicial, mas lamentaram que "nada vai trazer de volta os familiares" mortos.
O Tribunal Internacional do Camboja condenou hoje os dois ex-dirigentes à prisão perpétua, a máxima pena legal, por sua responsabilidade nos eventos considerados na primeira fase do processo.
Essa parte do processo serviu para julgar os deslocamentos forçados de Phnom Penh, a capital do país, e o envio de população urbana para campos de trabalho coletivo em zonas rurais, além das execuções de soldados republicanos feitas pelo Khmer Vermelho depois que o regime tomou o poder em 1975.
O tribunal decidiu dividir o caso contra os líderes do Khmer Vermelho em várias fases devido à complexidade do processo e pelo temor que os acusados, todos eles com idade avançada e saúde frágil, morressem antes que fosse ditada a sentença.
O chefe do Khmer Vermelho, Pol Pot, morreu em 1998 no último reduto da guerrilha maoísta na floresta do norte do Camboja, após se tornar prisioneiro de seus próprios correligionários.
Aproximadamente 1,7 milhão de pessoas morreram durante o regime do Khmer Vermelho, entre 1975 e 1979, por causa de trabalhos forçados, doenças, crises de fome e razões políticas.