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Ex-diretor do FBI retrata Trump como egocêntrico, mafioso e fóbico

James Comey, que deixou o FBI em 2017, retrata o presidente americano em seu livro "A Higher Loyalty"

Comey: a presidência de Donald Trump ameaça grande parte do que é bom nesta nação (Gary Cameron/File Photo/Reuters)

Comey: a presidência de Donald Trump ameaça grande parte do que é bom nesta nação (Gary Cameron/File Photo/Reuters)

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AFP

Publicado em 13 de abril de 2018 às 21h01.

James Comey, o diretor do FBI demitido em 2017 por Donald Trump, retrata um presidente americano egocêntrico e anárquico em seu livro "A Higher Loyalty", que sairá à venda na terça-feira.

Primeira impressão

"Seu rosto parecia ligeiramente alaranjado, com meias-luas muito brancas debaixo de seus olhos, onde, acho, havia colocado óculos (durante suas sessões de bronzeamento artificial), e (tinha) um penteado impressionante, um cabelo muito loiro que, depois de uma cuidadosa inspeção, parecia ser todo seu. Lembro de ter me questionado quanto tempo levava para colocar tudo isso em seu lugar pela manhã, e, quando estendeu a mão, mentalmente me ocupei de comprovar seu tamanho. Era menor que a minha, mas não anormalmente menor".

'Poderoso chefão'

"O círculo silencioso de concordância. O chefe no controle total. Os juramentos de lealdade. A cosmovisão de nós contra eles. A mentira sobre todas as coisas, grandes e pequenas, a serviço de algum código de lealdade que coloca a organização acima da moralidade e acima da verdade".

Fobia de germes

"Tenho fobia a germes. Não há maneira de deixar que as pessoas urinem sobre mim ('golden shower'). De forma nenhuma", diz Trump, citado por Comey, ao desmentir relatos de um ex-espião britânico que fala de uma suposta tarde com prostitutas em 2013 em Moscou. "Depois falou de casos nos quais mulheres o acusaram de agressão sexual, um tema que eu não tinha analisado. Mencionou várias mulheres e pareceu ter memorizado suas acusações. Quando começava a ficar mais na defensiva e a conversa se encaminhava para o desastre, instintivamente eu disse: 'não o estamos investigando, senhor'. Isso parecia acalmá-lo".

Sem risos

"Não me lembro de tê-lo visto rir, nunca. Nem durante uma conversa antes das reuniões. Existe o risco de que esteja interpretando isso mal (...), mas não sei de outro líder que não ria com certa regularidade em público. Suspeito que sua aparente incapacidade para fazer isso esteja enraizada em uma profunda insegurança, sua incapacidade de ser vulnerável, ou de se arriscar a apreciar o humor dos demais, o que, após refletir, é realmente muito triste em um líder, e dá um pouco de medo em um presidente".

Os e-mails de Hillary

"Repassei mentalmente o caso dos e-mails de Hillary Clinton centenas de vezes (...) Estou convencido de que se pudesse fazer tudo de novo, faria o mesmo, dado meu papel e o que sabia naquele momento. Mas também acho que pessoas razoáveis poderiam tê-lo manejado de forma diferente (...) Li que (Hillary Clinton) sente raiva de mim, e eu sinto muito. Lamento não ter podido explicar melhor a ela e a seus partidários o motivo de tomar as decisões que tomei".

O 'beijo'

"Impedi o abraço, mas obtive algo pior. O presidente se inclinou e colocou sua boca perto da minha orelha direita. 'Tenho muita vontade de trabalhar com você', me disse. Infelizmente, devido à posição privilegiada das câmaras de televisão, muitos, incluindo meus filhos, pensaram ter visto um beijo. Todo mundo 'viu' Donald Trump beijar o homem que alguns acreditavam que havia conseguido que ele fosse eleito presidente".

A ligação de Kelly

"Recebi uma emocionada ligação do general John Kelly, então secretário de Segurança Interior. Me disse que estava doente pela minha demissão, que tinha a intenção de renunciar como protesto (...) Pedi a ele que não fizesse isso, que o país precisava de pessoas de princípios ao redor deste presidente, especialmente deste presidente".

'Incêndio florestal'

"A Presidência de Donald Trump ameaça grande parte do que é bom nesta nação. Todos somos responsáveis pelas opções profundamente viciadas que se apresentaram aos eleitores durante a votação de 2016, e nosso país está pagando um alto preço: esse presidente não é ético e está desvinculado da verdade e dos valores institucionais. Sua liderança é transacional, impulsionada pelo ego e pela lealdade pessoal. Somos sortudos de que alguns líderes éticos tenham escolhido servir e permanecer em altos níveis do governo, mas não podem evitar todo o dano do incêndio florestal que é a Presidência de Trump. Sua tarefa é tentar contê-lo".

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