Mundo

Evo Morales diz que está disposto a voltar à Bolívia

Presidente interina da Bolívia designou nesta quarta seus primeiros 11 ministros e promete novas eleições

Protestos na Bolívia: movimentos contrários e a favor de Evo Morales já deixaram 10 mortos (Henry Romero/Reuters)

Protestos na Bolívia: movimentos contrários e a favor de Evo Morales já deixaram 10 mortos (Henry Romero/Reuters)

A

AFP

Publicado em 14 de novembro de 2019 às 06h36.

Última atualização em 14 de novembro de 2019 às 06h38.

São Paulo — O ex-presidente boliviano Evo Morales disse nesta quarta-feira (13) no México, onde está na qualidade de asilado, que voltaria para "pacificar" seu país se os bolivianos pedissem, após semanas de protestos violentos que levaram à sua renúncia.

Morales deu nesta quarta sua primeira coletiva de imprensa do exílio, na qual reiterou que sua demissão visou a conter a violência que sacudiu a Bolívia.

"Se meu povo pedir, estamos dispostos a voltar para apaziguar, mas é importante o diálogo nacional", disse Morales, acrescentando: "vamos voltar cedo ou tarde. Quanto antes melhor para pacificar a Bolívia".

Ele reiterou seu chamado a um diálogo nacional, no qual poderiam participar "países amigos" em uma espécie de mediação entre as forças políticas.

"É importante o diálogo nacional. Sem diálogo nacional, estou vendo que vai ser difícil deter este confronto", acrescentou.

Algumas horas mais tarde, Morales fez um apelo a organismos internacionais como a ONU e a Igreja Católica, por meio do papa Francisco, a acompanhar "o diálogo para pacificar nossa querida Bolívia".

"A violência atenta contra a vida e a paz social", escreveu no Twitter.

Antes, ele fez um apelo à Polícia e às Forças Armadas, que o pressionaram para que apresentasse sua renúncia, a não "usar tiros contra o povo".

Até quarta-feira a Bolívia registrava 10 mortos nos protestos após as eleições polêmicas em que Morales foi eleito para um quarto mandato, pleito que foi tachado de fraudulento pela oposição e que uma missão da OEA qualificou como repleto de "irregularidades".

Morales também condenou no Twitter a "decisão de (Donald) Trump de reconhecer o governo de fato e autoproclamado pela direita" liderado pela presidente interina Jeanine Áñez.

Ele se antecipou a um comunicado do Departamento de Estado americano que reconheceu Áñez como presidente interina e afirma que Washington espera trabalhar com a Bolívia e sua população "enquanto preparam eleições livres e justas o mais rápido possível

"O golpe de Estado que provoca mortes dos irmãos bolivianos é uma conspiração política e econômica que vem dos EUA", afirmou Morales.

Na noite desta quarta-feira, o secretário americano de Estado, Mike Pompeo, reconheceu formalmente Añez como a nova presidente da Bolívia.

"Os Estados Unidos aplaudem a senadora boliviana Jeanine Áñez por tomar posse como presidente interina para guiar a nação nesta transição democrática, sob a Constituição da Bolívia", destacou Pompeo.

O secretário de Estado disse que espera trabalhar com a Bolívia e seu povo "enquanto preparam eleições livres e justas, o mais cedo possível".

Sobre a proclamação de Añez como presidente interina, Morales disse que é a confirmação do "golpe" contra ele e que foi um ato fora da legalidade, pois não foi celebrada a sessão em que o Legislativo aceita sua renúncia, como prevê a Constituição.

À tarde, Morales foi recebido em uma cerimônia pela prefeita da Cidade do México, a esquerdista Claudia Sheinbaum, que lhe entregou uma medalha e um pergaminho para declará-lo um "hóspede distinto" da capital.

Ao chegar, dezenas de pessoas o receberam do lado de fora da prefeitura gritando "Aimará, irmão, o povo te dá a mão!" e "você não está sozinho".

Em agradecimento, Morales disse que dentro e fora de seu país "eles não aceitam que a Bolívia é anticolonialista e anti-imperialista" e que ele não renunciou como "covarde", mas por "cuidar da vida" dos bolivianos.

Morales chegou na terça-feira ao México na qualidade de asilado em um avião militar mexicano.

Presidente interina

A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, designou nesta quarta-feira seus primeiros 11 ministros, de um total de 20, um dia após assumir o poder após a renúncia de Evo Morales, que se asilou no México.

Na nova equipe se destacam a acadêmica e diplomata Karen Longari como chanceler, e o senador de direita Arturo Murillo como ministro do Interior.

"Vamos à caça de Juan Ramón Quintana (ministro da Presidência de Morales), porque é um animal que se alimenta de sangue", anunciou Murillo após tomar posse.

Quintana é acusado de ser o "cérebro" das ações contra a oposição, especialmente a guerra suja que supostamente realizava o governo do ex-presidente de esquerda.

Já Añez afirmou que "o trabalho principal da nossa administração será restabelecer a paz social".

A onda de protestos contra e pró-Morales já deixou 10 mortos e 400 feridos na Bolívia, segundo números oficiais.

Para ministro das Finanças foi nomeado José Luis Parada, assessor econômico do governo de Santa Cruz, rica região oriental e bastião opositor a Morales.

O novo ministro da Presidência é Jerjes Justiniano, um advogado ligado ao líder cívico promotor dos protestos contra Morales, Luis Fernando Camacho.

A pasta da Defesa coube ao consultor de marketing Fernando López Julio, e a da Comunicação à jornalista Roxana Lizarraga.

Na mesa onde estava sentada a presidente durante a cerimônia de posse, no Palácio Quemado, havia um crucifixo, duas velas acesas e uma Bíblia.

"Este Conselho de Ministros que é apresentado hoje de forma parcial (...) inclui pessoas conhecedoras e especializadas de perfil técnico, como corresponde a um governo de transição", destacou Añez em seu discurso.

A presidente reafirmou que o outro desafio do governo é convocar novas eleições o mais rápido possível.

"Não aceitarei qualquer outra saída que não sejam eleições democráticas", já havia afirmado Añez, uma senadora de direita de 52 anos, até então pouco conhecida nacionalmente.

"Convidaremos a Organização dos Estados Americanos e a União Europeia" como observadoras das eleições, disse a nova chanceler Longari, única integrante do gabinete que falou durante a cerimônia de posse.

"Faremos o necessário para deixar uma política externa estruturada", destacou Longari, acrescentando que a Bolívia assumirá um papel "ativo" na diplomacia latino-americana.

Uma das primeiras ações de Añez nesta quarta-feira foi designar uma nova cúpula militar, que terá como comandante das Forças Armadas o general do Exército Sergio Carlos Orellana, que ocupa o lugar do general Williams Kaliman, que passou à reserva.

O general Kaliman, nomeado chefe das Forças Armadas há um ano, se negou a enviar militares para reprimir os protestos e a revolta policial contra Morales, deflagrada na sexta-feira passada.

O "Estado é necessário mais do que nunca para manter a paz", disse Orellana em um discurso no qual pediu aos seguidores de Morales que "deponham suas atitudes intransigentes".

A presidente também nomeou o novo chefe do Estado-Maior, e os novos comandantes do Exército, Marinha e Força Aérea.

Áñez elogiou "a disposição democrática das Forças Armadas e da Polícia", que abandonaram Morales, o que precipitou sua renúncia horas após a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgar um relatório recomendando a anulação das eleições de outubro.

O novo gabinete assume após três semanas de greves e manifestações deflagradas pelas eleições de 20 de outubro, questionadas pela oposição.

Golpe e contragolpe

Ao nomear a nova cúpula militar, a presidente afirmou que "não há golpe de estado na Bolívia, há sim uma reposição constitucional".

"O único golpista deste país foi Evo Morales", disse Añez, em referência à decisão do ex-presidentede ignorar o resultado do referendo que negou sua reeleição indefinida, em 2016, e da suposta fraude na apuração das eleições de 20 de outubro.

No México, Morales voltou a denunciar "o golpe" e declarou, em entrevista coletiva, que "se meu povo pedir, estamos dispostos a voltar para apaziguar, mas é importante o diálogo nacional".

"Vamos voltar cedo ou tarde. Quanto antes melhor para pacificar a Bolívia", declarou o ex-presidente.

"É importante o diálogo nacional. Sem diálogo nacional, estou vendo que vai ser difícil deter este confronto", acrescentou sobre a violência que persiste no país.

Na tarde desta quarta-feira, a tensão voltou a subir em La Paz, onde partidários de Morales enfrentaram a polícia e militares, que utilizaram ao menos um blindado na repressão.

No povoado de Yapacaní, na região da cidade de Santa Cruz, um jovem de 20 anos morreu com um tiro na cabeça em um confronto com a polícia, durante uma manifestação pró-Morales.

Em declarações no Twitter, Morales disse que "o golpe de Estado que provoca mortes dos irmãos bolivianos é uma conspiração política e econômica que vem dos EUA".

Acompanhe tudo sobre:América do SulBolíviaEvo MoralesMéxico

Mais de Mundo

Rússia expulsa diplomata britânico por atividades de espionagem

Presidente do México alerta Trump que imposição de tarifas não impedirá migração e drogas nos EUA

Comissão de investigação civil culpa Netanyahu por ignorar indícios de ataques de 7 de outubro

Grupos armados bloqueiam distribuição de ajuda humanitária em Gaza