Uma professora mede a temperatura de uma criança na frente de um colégio na Bélgica (15/05/2020) (Johanna Geron/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de maio de 2020 às 10h40.
Última atualização em 18 de maio de 2020 às 10h03.
Uma nova síndrome inflamatória potencialmente fatal associada à Covid-19 afetou 230 crianças na Europa e já matou duas neste ano, disse um organismo de saúde regional nesta sexta-feira, e médicos de todo o mundo foram orientados a ficar em alerta.
Sediado na Suíça, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) disse em uma avaliação de risco que duas crianças sucumbiram à moléstia, uma no Reino Unido e uma na França.
Até agora, o novo coronavírus vitimou especialmente os idosos e as pessoas com problemas de saúde crônicos, mas relatos sobre a síndrome em crianças provocou o temor de que ela represente um risco maior do que se imaginava aos jovens.
Em um briefing em Genebra, a Organização Mundial da Saúde (OMS) exortou os clínicos a ficarem em alerta para a síndrome rara, mas alertou que os laços com a Covid-19 ainda não estão claros.
A doença, conhecida como síndrome multissistêmica inflamatória pediátrica (Pims), compartilha sintomas com o choque tóxico e a síndrome de Kawasaki, como febre, irritação cutânea, glândulas inchadas e, em casos graves, miocardite.
"Peço a todos os clínicos do mundo que trabalhem com suas autoridades nacionais e com a OMS para ficarem em alerta e entenderem melhor esta síndrome em crianças", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A OMS deve emitir ainda nesta sexta-feira uma definição da síndrome, que disse ter se tornado mais frequente durante a pandemia atual, mas também ter aparecido em crianças que não foram diagnosticadas com Covid-19.
"Por enquanto, sabemos muito pouco sobre esta síndrome inflamatória", disse Maria Van Kerkhove, epidemiologista da OMS.
Na França, médicos disseram que um menino de nove anos morreu uma semana atrás em Marselha, cidade do sul do país, depois de desenvolver uma síndrome semelhante à de Kawasaki e de ter contato com o coronavírus, mas sem apresentar seus sintomas.
O ECDC, uma agência da União Europeia, acrescentou que concordou em incluir a síndrome como uma possível complicação da Covid-19 a ser relatada para uma vigilância em toda a Europa.
O CDC dos Estados Unidos emitiu na quinta-feira diretrizes aos médicos sobre como reconhecer e relatar casos da síndrome, seguindo os relatos de casos na Europa e mais de 100 no Estado de Nova York.
(Por Ludwig Burger em Frankfurt, Michael Shields em Zurique, Francesco Guarascio em Bruxelas, Marc Leras e Benoit Van Overstraeten em Paris)