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Europa discute relação distante com Turquia e América Latina

Os ministros de relações exteriores da UE se reúnem para debater a relação com dois aliados cada vez mais distantes: a Turquia e a América Latina

A BASÍLICA DE SANTA SOFIA: novo palco de distancialmente entre a Turquia e a União Europeia (Murad Sezer/Reuters)

A BASÍLICA DE SANTA SOFIA: novo palco de distancialmente entre a Turquia e a União Europeia (Murad Sezer/Reuters)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 13 de julho de 2020 às 06h28.

Última atualização em 13 de julho de 2020 às 18h08.

Os ministros de relações exteriores da União Europeia se reúnem nesta segunda-feira (13) para debater a relação com dois aliados cada vez mais distantes: a Turquia e a América Latina.

O encontro ocorre dias depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decidir converter a basílica de Hagia Sophia (“Santa Sofia”) em uma mesquita, causando consternação entre líderes europeus. O comissário de relações exteriores da União Europeia, Josep Borrell, considerou a decisão da Turquia “lamentável”.

O monumento construído no ano 532 durante o Império Bizantino é considerado um patrimônio histórico da humanidade. Ele foi um importante templo da igreja católica romana e da igreja ortodoxa durante séculos e, em 1453, foi convertido em uma mesquita durante o Império Otomano. Em 1935, a basílica foi transformada em um museu.

A mudança de status do templo é apenas o mais recente movimento do governo de Ancara para se distanciar dos valores e das políticas defendidos pela União Europeia. Desde o ano passado, a Turquia tem promovido atividades de perfuração no Mar Mediterrâneo em uma área que a Grécia e Chipre consideram fazer parte do seu território. O caso levou a União Europeia a adotar sanções contra a Turquia em novembro.

Outro foco de tensão foi uma recente provocação de navios turcos contra uma fragata da França no mês de junho. A embarcação francesa operava em uma missão da Otan e tinha ordens para inspecionar um navio de bandeira da Tanzânia suspeito de contrabandear armas para rebeldes da Líbia.

Os navios da Turquia – que também é membro da Otan – impediram a ação e provocaram a fragata francesa. Por causa do incidente, a França pressiona para que novas sanções contra a Turquia sejam aplicadas pela União Europeia e pretende colocar o tema em discussão na reunião ministerial desta segunda-feira.

Durante anos a Turquia foi uma potencial candidata a se juntar à União Europeia. Mas as negociações estão estagnadas desde que um golpe de Estado frustrado contra o presidente Recep Erdogan levou a uma escalada autoritária do seu governo. Erdogan também vem se aproximando cada vez mais do presidente russo Vladimir Putin. Recentemente, a Turquia finalizou um acordo com a Rússia para comprar mísseis antiaéreos do modelo S-400, capazes de derrubar caças americanos.

Entretanto, a dependência econômica da União Europeia limita as ações do presidente da Turquia. Os países do bloco europeu são o destino de metade das exportações da Turquia e fornecem 36% dos produtos importados pelo país. Além disso, as empresas europeias correspondem a 65% dos investimentos estrangeiros diretos na Turquia. E, apesar de a pandemia ter interrompido o fluxo de turistas, a Turquia recebe todos os anos milhões de turistas de países da União Europeia, especialmente da Alemanha. O custo da briga com a Europa, portanto, tende a ser alto para o governo Erdogan.

No caso da América Latina, a discussão da UE é sobre uma ajuda ao combate à Covid-19. Os europeus até agora pouco cooperaram no combate à pandemia fora de suas fronteiras. “A China, primeiro epicentro da crise, tem sido mais solidária”, diz o ex-secretário de comércio exterior Welber Barral. Sinal disso é que o principal bilionário chinês, Jack Ma, fundador do comércio eletrônico Alibaba, se comprometeu a enviar máscaras e luvas a profissionais de saúde de países latinos severamente atingidos pela pandemia, inclusive o Brasil.

Para além da apatia, os europeus olham os governos da América Latina com desconfiança cada vez maior, em particular o do Brasil. “A imagem do País está muito abalada por causa da política ambiental equivocada do governo Bolsonaro”, diz Carlos Braga, professor de economia internacional na Fundação Dom Cabral e mediador de negociações com a UE quando trabalhou no Banco Mundial, nos anos 2000. “Essa situação atrapalha a cooperação inclusive em outras áreas, como o combate à Covid-19”.

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