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Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2012 às 17h36.
Washington - Os Estados Unidos mantêm uma forte prudência em relação às eleições venezuelanas, seguindo a linha habitual de evitar um confronto verbal com o presidente Hugo Chávez, mas um resultado apertado pode mudar essa estratégia, acreditam analistas.
O presidente Barack Obama, que também está mergulhado em uma campanha eleitoral, se recusou em diversas ocasiões a aumentar o tom com Chávez, o presidente mais problemático para a sua discreta política para a América Latina.
Apesar de seus vínculos com o Irã, a Venezuela não é uma ameaça para Estados Unidos, declarou Obama em uma entrevista à televisão em julho.
O mandatário americano advertiu, no entanto, que sua "grande preocupação" é que o país sul-americano "possa ter eleições livres e justas".
A estratégia de evitar o confronto se deve também, em grande parte, ao suspense em torno da saúde de Chávez, que permitiu desviar a tensão diplomática durante meses.
"Os Estados Unidos devem manter uma política de não dar a Chávez o oxigênio retórico que tanto deseja", declarou à AFP Dan Restrepo, ex-conselheiro de Obama sobre América Latina e atual assessor de sua campanha eleitoral.
Mas em caso de um resultado incerto, em que a vitória de Chávez ou do opositor Henrique Capriles seja muito apertada, vários analistas em Washington advertem que a estratégia pode ser superada pelos acontecimentos.
"Uma repetição do enfrentamento que caracterizou os esforços da região para resolver a crise de Honduras em 2009 seria corrosivo para as relações dos Estados Unidos com a região", considera Patrick Duddy, especialista da Universidade Duke, em uma análise para o Conselho de Relações Exteriores.
"A resposta para qualquer frustração que as pessoas possam ter com o processo democrático, com seu candidato ganhando ou não, deve ser 'violência nunca'", declarou na sexta-feira passada Roberta Jacobson, responsável pela diplomacia com a América Latina.
"Me surpreenderia se os Estados Unidos não tivessem planos de contingência caso a situação saia do controle", considera Michael Shifter, diretor do Diálogo Interamericano, consultado pela AFP.
Mas Restrepo acredita que uma resposta "não é algo que envolva apenas os Estados Unidos, e sim (mais) países das Américas".
A Organização dos Estados Americanos (OEA) atravessa, no entanto, uma crise de legitimidade diante das acusações da própria Venezuela e de seus aliados na região, e ainda tem que encontrar uma posição de consenso sobre a recente crise no Paraguai, onde o presidente foi destituído do poder por um julgamento político no Congresso.
Para prever qualquer risco, "o governo americano deveria consultar regularmente, no mais alto nível, as autoridades brasileiras. O Brasil é o jogador mais crítico e relevante neste contexto", considera Shifter.
Washington e Caracas retiraram seus respectivos embaixadores em 2010 e a Venezuela rejeita a presença da Administração Antidrogas (DEA) no país.
A Colômbia também adotou um papel especial entre Washington e Caracas recentemente, após o bem-sucedido "desgelo" das relações com a chegada do presidente Juan Manuel Santos.
Há duas semanas, a Venezuela capturou o principal chefão do narcotráfico colombiano, David "El Loco" Barrera, em uma operação que teve informações fornecidas pela DEA a partir de Washington.
Mesmo que os Estados Unidos recusem o confronto direto com Chávez, ao contrário do que aconteceu durante os anos de presidência de George W. Bush, não significa que não façam advertências, lembrou Restrepo à AFP.
Em maio de 2011, Washington impôs sanções à companhia de petróleo estatal PDVSA por suas relações comerciais com o Irã.
A Venezuela é um dos cinco principais fornecedores de petróleo dos Estados Unidos. Para a PDVSA, o mercado americano representa 45% de suas exportações de cru, o que a torna ainda mais dependente.