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EUA escutam pela primeira vez vítimas de drones

Familiares de uma vítima civil de um ataque de aviões não tripulados testemunharam perante Congresso americano pela primeira vez


	Drone: guerra no Paquistão causou 2.200 mortes na década passada
 (AFP)

Drone: guerra no Paquistão causou 2.200 mortes na década passada (AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2013 às 22h23.

Washington - Os familiares de uma vítima civil de um ataque de aviões não tripulados, conhecidos como drones, dos Estados Unidos no Paquistão testemunharam nesta terça-feira perante o Congresso americano pela primeira vez para pedir o fim dos ataques.

Rafik ur Rehman, um professor do primário na região do Waziristão do Norte, fronteiriça com o Afeganistão, e seus dois filhos, Zubair, de 13 anos, e a pequena Nabila, de nove, falaram hoje no Capitólio sobre a tarde em que a avó das crianças morreu em um bombardeio com drones.

Rafik fez inclusive com que a tradutora chorasse quando se perguntou perante um reduzido grupo de congressistas: "Meu trabalho é educar, mas como posso explicar algo como isto? Como explico algo que nem sequer eu entendo? Como garantir às crianças que um drone não virá e os acabará matando?".

A família de Rafik foi destroçada em 24 de outubro de 2012 quando um drone supostamente operado pela CIA matou sua mãe e avó de seus filhos, Momina Bibi, de 67 anos, na véspera da festividade muçulmana de Eid.

Rafik e seus filhos são vítimas da guerra dos Estados Unidos contra militantes radicais islâmicos em remotas regiões do Paquistão, que segundo a Anistia Internacional causou 2.200 mortes na década passada no país, 400 delas civis e possivelmente outras 200 vítimas não combatentes.

O testemunho de hoje foi organizado e apoiado pelo congressista Alan Grayson, que lembrou que a luta contra o extremismo radical com drones tem na população um efeito contrário, já que alimenta o radicalismo e põe os EUA em perigo.

O jovem Zubair, que foi ferido gravemente na perna, disse em seu testemunho que agora prefere os dias nublados porque sabe que os drones não voltarão.

"As crianças já não brincam tão frequentemente e muitos deixaram de ir à escola", contou o adolescente. Rafik lembrou no Capitólio que dezenas de pessoas de sua tribo perderam entes queridos nos bombardeios, entre eles crianças e mulheres inocentes.

"No final o que peço ao povo americano é que nos tratem como iguais, que se assegurem que seu governo nos outorga os mesmos direitos humanos que a seus cidadãos. Nós não damos o tratamento que os EUA dão ao povo do Waziristão nem ao nosso gado", concluiu.

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