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EUA entregam à Argentina 40 mil documentos sobre a ditadura

Os Estados Unidos começaram a entregar os documentos desclassificados sobre a ditadura argentina em 2016

Argentina: os documentos podem esclarecer a participação dos EUA na ditadura argentina (picture alliance / Contributor/Getty Images)

Argentina: os documentos podem esclarecer a participação dos EUA na ditadura argentina (picture alliance / Contributor/Getty Images)

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EFE

Publicado em 12 de abril de 2019 às 13h29.

Washington — O governo dos Estados Unidos entregou nesta sexta-feira ao ministro da Justiça da Argentina, Germán Garavano, 40 mil documentos desclassificados sobre a "guerra suja" da última ditadura argentina (1976-1983), o que poderia esclarecer até que ponto Washington conhecia e aprovava os abusos que foram cometidos.

O bibliotecário, David S. Ferriero, máxima autoridade na conservação de arquivos históricos nos EUA, entregou a Garavano seis discos compactos com 40 mil páginas de documentos desclassificados, dos quais 97% são públicos em sua totalidade, um percentual muito alto nestes casos.

"Em nome do presidente dos EUA, lhe entrego estes arquivos com a esperança de que possam ajudar a sanar seu país", disse Ferriero a Garavano enquanto entregava uma caixa cinza com os discos.

A entrega aconteceu diante de vítimas da ditadura argentina e diplomatas argentinos e americanos durante uma cerimônia em uma pequena sala do edifício do Arquivo Nacional, em Washington, a agência do governo encarregada de guardar documentos históricos.

Na cerimônia, Ferriero leu uma carta do presidente dos EUA, Donald Trump, dirigida ao presidente argentino, Mauricio Macri, na qual assegura que esta é "a maior desclassificação de documentos que os EUA entregam a um governo estrangeiro".

Em resposta ao reconhecimento dos EUA, Garavano expressou seu desejo de que a desclassificação ajude a "curar feridas" e "trazer uma justiça forte e verdadeira" à Argentina, onde 200 pessoas já foram julgadas e condenadas desde 2006 por envolvimento nos abusos da "guerra suja".

"Este é um fato histórico, a informação vai permitir que os processos judiciais continuem avançando e, talvez, nos permitirão conhecer o lado obscuro de um período tão sombrio como o que vivemos em nosso país", disse Garavano.

Esta é a última entrega de um projeto de desclassificação que começou em 2016 por ordem do então presidente Barack Obama (2009-2017) que, durante uma visita a Buenos Aires, prometeu que seu país assumiria a responsabilidade de "enfrentar o passado com honestidade e transparência".

Os documentos desclassificados desde 2016 provêm das bibliotecas presidenciais de quatro presidentes: o republicano Gerald Ford (1974-1977); o democrata Jimmy Carter (1977-1981); o republicano Ronald Reagan (1981-1989); e o também conservador George H.W. Bush (1989-1993).

Além disso, inclui documentos internos de 15 agências e departamentos de governo, além de comunicações militares e de inteligência e correspondência oficial.

Na Argentina, cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante a "guerra suja" travada pelo regime militar contra organizações armadas opositoras, partidos e sindicatos de esquerda, segundo estimativas de organizações de direitos humanos.

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