Agência de notícias
Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 13h12.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2025 às 13h25.
A administração do presidente americano, Donald Trump, planeja designar mais de meia dúzia de grupos criminosos com raízes na América Latina como organizações terroristas estrangeiras, segundo cinco autoridades dos Estados Unidos com conhecimento do assunto ouvidas pelo New York Times. Várias comissões do Congresso já teriam sido informadas sobre as próximas designações, que podem ser oficialmente anunciadas ainda nesta semana.
A medida, que será conduzida pelo Departamento de Estado, segue um decreto assinado pelo republicano ainda em 20 de janeiro, logo após sua posse para um segundo mandato. A ordem determinava uma ofensiva contra os principais cartéis, um dos temas centrais da campanha do republicano no ano passado. No total, a designação deverá ser aplicada a oito grupos, embora a lista possa mudar antes do anúncio público.
O decreto diz que os cartéis “constituem uma ameaça à segurança nacional além daquela representada pelo crime organizado tradicional”, e que os Estados Unidos garantiriam a “eliminação total” desses grupos. As autoridades que comentaram a medida ao The Times falaram sob condição de anonimato porque a ação ainda não foi tornada pública.
Trump deu ao seu secretário de Estado, Marco Rubio, duas semanas para fazer as designações em consulta com vários membros do gabinete. Os grupos criminosos e seus membros podem ser rotulados como organizações terroristas estrangeiras ou terroristas globais especialmente designados. Essas designações permitem que o governo americano imponha amplas sanções econômicas aos grupos e às pessoas e entidades ligadas a eles.
O decreto fazia referência, em geral, aos cartéis do México. Mas também mencionava o Trem de Arágua — organização com origem na Venezuela que atua em ao menos oito países sul-americanos, segundo a Interpol — e Las Maras Salvatrucha (MS-13) — gangue criminosa fundada em Los Angeles, mas que tem origem em organizações criminosas de El Salvador e que desempenha um papel menor no tráfico transnacional de drogas.
Além desses dois grupos, o Departamento de Estado planeja designar o Clã do Golfo, com sede na Colômbia, e outros cinco grupos no México. As organizações mexicanas que devem ser designadas são o Cartel de Sinaloa, o Cartel Jalisco Nova Geração, o Cartel do Nordeste, a Família Michoacán e os Cartéis Unidos, segundo autoridades americanas.
O Clã do Golfo trabalha há mais de duas décadas com cartéis mexicanos, fornecendo cocaína para que eles a contrabandeiem para os Estados Unidos. Após a queda no preço da cocaína em 2017, o cartel colombiano passou a atuar agressivamente no tráfico de migrantes para compensar suas perdas financeiras. Trump descreve os cartéis como uma ameaça ao “Hemisfério Ocidental” e à segurança nacional do país.
Uma autoridade com conhecimento da lista de designações afirmou que o Clã do Golfo provavelmente foi incluído por seu envolvimento no tráfico de migrantes. O grupo controla amplamente o Darién, a estreita faixa de terra que liga a América do Sul à América do Norte. Migrantes frequentemente voam para países sul-americanos mais permissivos antes de seguir para Darién em sua jornada rumo aos Estados Unidos.
A lista com as novas designações deveria ter sido finalizada na semana passada, mas pode ter sido adiada porque o Departamento de Estado a expandiu em relação aos grupos mencionados no decreto do mês passado, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. A inclusão ou não de grupos do crime organizado envolvidos no tráfico de migrantes foi amplamente discutida, contribuindo para o atraso.
Rubio completou sua primeira viagem como secretário de Estado neste mês, visitando cinco países da América Latina. Ele conversou com seus homólogos sobre questões de migração e segurança, embora não tenha visitado o México. Em entrevista ao podcast da apresentadora Megyn Kelly em 30 de janeiro, Rubio falou sobre a necessidade de desmantelar os cartéis de drogas mexicanos, afirmando que “há partes do México onde o governo não controla”.
"Essas áreas são controladas pelos cartéis de drogas", continuou ele. "Eles são a força mais poderosa no local e estão avançando em direção aos Estados Unidos. Eles estão facilitando a migração ilegal, mas também trazendo fentanil e drogas mortais para o nosso país. Isso é uma ameaça à segurança nacional, e isso precisa parar".
Em uma ligação com seu homólogo na Argentina na segunda-feira, Rubio discutiu “prioridades de segurança compartilhadas na região, incluindo o combate a organizações transnacionais”, segundo o Departamento de Estado. Já no México, autoridades têm mantido negociações prolongadas com a administração Trump para evitar a designação de terroristas aos cartéis e grupos que operam no país, de acordo com fontes ouvidas pelo The Times.
Dos oito grupos designados, porém, cinco são mexicanos. Os Cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração são os maiores do país e dominaram grande parte do mercado de fentanil nos Estados Unidos, produzindo o opioide sintético no México antes de contrabandeá-lo para o norte. Uma quantidade crescente de fentanil também tem sido consumida por cidadãos mexicanos, levando a um aumento nas taxas de dependência no país.
Como o fentanil se tornou a principal justificativa para as tarifas de Trump contra outros paísesA lista de designações inclui um cartel menor, o Nordeste, e dois grupos mexicanos que, segundo autoridades americanas, se assemelham mais a organizações criminosas: a Família Michoacana e os Cartéis Unidos. Esses grupos costumam atuar como braço armado dos cartéis mexicanos, ajudando-os a expandir seu controle territorial.
Um grupo do crime organizado é considerado um cartel apenas se controlar uma parte significativa do tráfico de drogas a ponto de determinar o preço de uma determinada substância em mercados como Nova York ou Londres. Os lucros líquidos das operações internacionais dos cartéis mexicanos podem chegar a US$ 20 bilhões por ano, representando quase 2% do PIB do México, segundo uma autoridade americana.