Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e secretário de Estado dos EUA, John Kerry, chegam para reunião em Moscou (Maxim Shemetov/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2013 às 10h37.
Moscou/Beirute - A Rússia e os Estados Unidos concordaram em fomentar o diálogo entre as partes envolvidas na guerra civil síria, mas líderes da oposição demonstraram ceticismo na quarta-feira, temendo que a iniciativa ajude o presidente Bashar al-Assad a se aferrar ao poder.
Em visita a Moscou, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que a Rússia concordou em organizar uma conferência já neste mês.
Numa semana em que aviões israelenses bombardearam posições do governo sírio, Washington está sob crescente pressão para armar os rebeldes que tentam derrubar Assad -que tem na Rússia o seu principal aliado internacional.
O impasse entre as duas potências impede que o Conselho de Segurança da ONU tome qualquer medida que possa interromper um conflito que já matou estimadas 70 mil pessoas em dois anos.
Além disso, os ódios sectários e faccionais sírios estão mais acirrados do que nunca, e não está nada claro que as partes em conflito estejam dispostas a negociar entre si. A maioria das personalidades da oposição descarta negociações se Assad e seu círculo íntimo não forem excluídos de um futuro governo de transição.
"Nenhuma posição foi decidida, mas acredito que a oposição irá achar impossível negociar com um governo que ainda tenha Assad como seu chefe", disse Samir Nashar, membro da Coalizão Nacional da oposição.
"Antes de tomarmos quaisquer decisões, precisamos saber qual seria o papel de Assad. Esse ponto ficou vago, acreditamos que intencionalmente, a fim de tentar arrastar a oposição para negociações antes que uma decisão seja tomada." No passado, os EUA apoiaram a exigência da oposição sobre a exclusão de Assad, ao passo que a Rússia diz que essa decisão deve caber aos sírios -uma fórmula que a oposição teme que possa ser usada para manter Assad no poder.
Membros da oposição se disseram preocupados com as declarações de Kerry em Moscou, ecoando a Rússia e dizendo que a decisão sobre quem participará do governo transitório é algo que deveria caber aos sírios.
"Os sírios estão temerosos de que os Estados Unidos estejam promovendo seus próprios interesses com a Rússia, usando o sangue e o sofrimento do povo sírio", disse Ahmed Ramadan, membro da Coalizão Nacional. "Estamos em contato com os EUA e precisamos ter garantias de que não há mudança na sua posição com relação a Assad." Dentro do país, onde os grupos rebeldes são numerosos e têm visões díspares, um comandante militar no norte, Abdeljabbar al-Oqaidi, disse à Reuters que desejaria saber detalhes do plano dos EUA e Rússia antes de assumir uma posição. "Mas", acrescentou, "se o regime estiver presente, não acredito que iremos querer participar".