Mundo

EUA e outros países retiram seus cidadãos do Sudão, onde os combates continuam

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 420 pessoas morreram e 3.700 ficaram feridas até agora

O exército alemão anunciou que removeu 101 pessoas do Sudão com um avião militar (KHALIL MAZRAAWI/Getty Images)

O exército alemão anunciou que removeu 101 pessoas do Sudão com um avião militar (KHALIL MAZRAAWI/Getty Images)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 24 de abril de 2023 às 06h55.

Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e Espanha, entre outros, começaram a retirar, neste domingo, 23, seus cidadãos e pessoal diplomático do Sudão, onde combates sangrentos entre o exército e paramilitares entraram em sua segunda semana.

A violência neste país do nordeste africano, de cerca de 45 milhões de pessoas, eclodiu em 15 de abril entre o exército do general Abdel Fatah al-Burhan, governante de fato do Sudão desde o golpe de 2021, e seu rival, o general Mohamed Hamdane Daglo, líder das Forças de Apoio Rápido (FAR).

Os violentos confrontos acontecem essencialmente em Cartum, a capital, e na região de Darfur, no oeste do país. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 420 pessoas morreram e 3.700 ficaram feridas até agora.

Os presos foram libertados de pelo menos uma prisão, disseram os advogados, enquanto outras fontes relatam, sem verificação independente, ataques a outras duas prisões, principalmente a de Kober, que abriga todos os presos políticos, incluindo o ditador deposto Omar al-Bashir.

A violência também deslocou dezenas de milhares de pessoas para outros estados no Sudão ou nos vizinhos Chade e Egito.

Vídeos gravados pela AFP mostram dezenas de veículos das Nações Unidas saindo da capital rumo a Porto Sudão, cidade às margens do Mar Vermelho, de onde 150 pessoas partiram no sábado.

Retirada complexa e rápida

O exército alemão anunciou que removeu 101 pessoas do Sudão com um avião militar.

"O primeiro Airbus A400M está a caminho da Jordânia com seus 101 evacuados", informou o exército via Twitter, acrescentando que outros dois aviões foram enviados ao país africano para participar das operações de remoção.

A França lançou uma "operação de evacuação rápida", disse o Ministério das Relações Exteriores neste domingo. A iniciativa inclui também cidadãos europeus e de países aliados. Um primeiro voo levou uma centena de pessoas.

Também neste domingo, a Itália retirou todos os cidadãos que pediram para sair do Sudão, anunciou a primeira-ministra Giorgia Meloni, que pediu o "fim da guerra e início das negociações".

"Todos os nossos cidadãos que pediram para sair foram evacuados", declarou em um comunicado. "Junto com eles, há também cidadãos estrangeiros", acrescentou.

A Espanha, por sua vez, evacuou cerca de 100 pessoas em um avião militar, sendo cerca de 30 espanhóis e outras 70 de nacionalidades europeias e latino-americanas, informou o Ministério das Relações Exteriores na noite de domingo.

"O avião militar espanhol decolou de Cartum pouco antes das 11 da noite (18h de Brasília) com cerca de 100 passageiros", indicou o comunicado, que afirmou que o avião está a caminho de Djibouti.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, informou que o exército de seu país realizou uma "retirada complexa e rápida" de diplomatas britânicos e suas famílias.

Soldados sauditas distribuem chocolates e flores para evacuados do Sudão na chegada a Jidá em 22 de abril de 2023

Os Estados Unidos também evacuaram seu pessoal diplomático de Cartum com helicópteros, disse o presidente Joe Biden em um comunicado. Os combates acirrados entre as forças dos dois generais no poder não cessam.

Os tiroteios se agravam na capital e arredores. Aviões de combate sobrevoam a área enquanto os blindados paramilitares avançam.

Os ataques já destruíram ou forçaram o fechamento de "72% dos hospitais" nas zonas de combate, alertou o sindicato dos médicos.

Nas ruas, os embates deixam seus rastros. Os postes de iluminação estão caídos no chão, enquanto algumas lojas incendiadas continuam exalando colunas de fumaça.

Moradores entrincheirados

Moradores do sul de Cartum carregam barris de água em carroças puxadas por burros devido à escassez no Sudão em 22 de abril de 2023

Para o pesquisador Hamid Jalafallah, “pedir corredores seguros para evacuar os estrangeiros sem ao mesmo tempo pedir o fim da guerra seria terrível”.
“Os atores internacionais terão menos peso quando saírem do país: façam o que puderem para sair com segurança, mas não deixem os sudaneses para trás sem proteção”, apelou.

Em Cartum, população de 5 milhões de pessoas, o conflito deixou civis aterrorizados em suas casas. Muitos temem uma intensificação da violência após a partida dos estrangeiros.

Presos entre os combates, eles carecem de água e eletricidade, enquanto as reservas de alimentos estão se esgotando. As redes de Internet e telefonia funcionam de forma intermitente.

A primeira evacuação foi possível devido ao declínio dos combates na sexta-feira, primeiro dia do festival Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, entre outros, começaram a retirar, neste domingo, seus cidadãos e pessoal diplomático do Sudão, onde combates sangrentos entre o exército e paramilitares entraram em sua segunda semana. No Vaticano, o papa Francisco pediu por 'diálogo' diante da 'grave' situação no país africano.

A disputa entre Burhan e Daglo surgiu devido aos planos para integrar as FAR ao exército regular, um requisito fundamental do acordo para restaurar a democracia no Sudão após o golpe militar que derrubou o governante autocrático Omar al-Bashir em abril de 2019.
O Programa Mundial de Alimentos alertou que milhões podem passar fome devido à violência, no terceiro maior país da África, onde um terço da população precisa de ajuda humanitária.

Acompanhe tudo sobre:SudãoEstados Unidos (EUA)EuropaGuerras

Mais de Mundo

Líder supremo do Irã pede sentença de morte contra Netanyahu

Hezbollah coloca Tel Aviv entre seus alvos em meio a negociações de cessar-fogo

Israel e Hezbollah estão a poucos dias de distância de um cessar-fogo, diz embaixador israelense

Exportações da China devem bater recorde antes de guerra comercial com EUA