Protestos: manifestantes protestam contra os Estados Unidos no Irã (Nazanin Tabatabaee/Reuters)
AFP
Publicado em 5 de novembro de 2019 às 11h47.
Última atualização em 5 de novembro de 2019 às 11h51.
São Paulo — Teerã e Washington voltaram a evidenciar seu enfrentamento nesta segunda-feira, no 40º aniversário da tomada de reféns na embaixada dos Estados Unidos em Teerã, com manifestações antiamericanas em várias cidades do país e a adoção de mais sanções por parte dos EUA.
Em Teerã, milhares de pessoas se reuniram durante a manhã diante do prédio que abrigava a representação diplomática americana no centro da cidade.
"Os Estados Unidos são como um escorpião com veneno mortal, que continua te importunando quando já está esmagado", declarou o general de divisão Abdolrahim Musavi, comandante do exército iraniano.
"A única via para seguir avançando é manter o espírito revolucionário, baseado na prudência e na obediência ao guia" supremo iraniano Ali Khamenei", completou o militar.
Negociar com Washington seria o equivalente a aceitar a "submissão e a derrota", declarou, ao repetir as palavras do aiatolá Khamenei.
A emissora de TV estatal exibia imagens ao vivo de manifestações similares em várias cidades iraniana, em especial em Mashhad (norte) e Isfahan (centro), a segunda e terceira maiores localidades do país, respectivamente, assim como em outras regiões do território iraniano.
A agência Mehr, próxima dos conservadores, afirmou que "milhões de pessoas participam nas manifestações em todo o país".
Em Teerã, mulheres - a maioria de shador - e crianças exibiam cartazes em inglês e persa com a frase "Morte aos Estados Unidos, morte a Israel, vitória para o islã, além de outras que ironizavam o presidente americano Donald Trump.
Nesta segunda-feira, os Estados Unidos incluíram em sua lista negra nove membros do entorno do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, que ocupam cargos em várias instituições-chave.
"Esta medida reduz ainda mais a capacidade do líder supremo de implementar sua política de terror e de opressão", disse o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, avaliando que as pessoas sancionadas estão "vinculadas a um grande número de atos nefastos realizados pelo regime".
O governo de Donald Trump já tinha sancionado o aiatolá Khamenei em junho. Desta vez, dispôs medidas punitivas contra vários funcionários nomeados por ele, que terão os bens congelados nos Estados Unidos e serão proibidos de fazer negócios com os americanos.
Entre os sancionados nesta segunda estão o chefe do sistema judiciário, Ebrahim Raisi, e Mojtaba Khamenei, segundo filho do líder supremo, a quem o pai teria delegado parte de suas responsabilidades, segundo o Tesouro americano.
O chefe de gabinete de Khamenei, Mohamad Mohamadi Golpayegani, e Vahid Haghanian, que é frequentemente apresentado como o braço-direito do aiatolá, também foram incluídos na lista negra, junto com outros assessores.
Estas sanções se somam a uma longa lista de medidas tomadas pelos Estados Unidos para cortar o apoio financeiro a Teerã desde que o presidente Trump denunciou, em maio de 2018, o acordo internacional destinado a impedir que a República islâmica desenvolvesse a bomba atômica.
Nos protestos no Irã, várias faixas exibiam a frase "Abaixo Estados Unidos" e muitos cartazes citavam o discurso de domingo de Khamenei sobre a necessidade de impedir que os Estados Unidos "coloquem um pé no Irã".
Em 4 de novembro de 1979, menos de nove meses depois da queda do último xá do Irã, um grupo de estudantes partidários da revolução islâmica invadiu a embaixada americana em Teerã, chamada na época de "ninho de espiões" pelos simpatizantes do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica.
Para liberar os reféns, os estudantes exigiam que Washington extraditasse o xá para que ele fosse julgado em Teerã.
A crise acabou 444 dias depois, com a morte do xá Mohammad Reza Pahlavi no Egito e com a libertação de 52 funcionários americanos.
As relações diplomáticas entre Washington e Teerã foram rompidas na ocasião e nunca foram retomadas.
O 40º aniversário da tomada de reféns na embaixada acontece em um momento de grande tensão entre os dois países, sobretudo após a retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo internacional sobre o programa nuclear do Irã, assinado em 2015, e com a política de "pressão máxima" de Washington contra Teerã.
"Os documentos encontrados (dentro da embaixada dos Estados Unidos em 1979) confirmaram as afirmações dos estudantes revolucionários de que Washington utilizava o imóvel para estimular complôs contra a nascente República Islâmica", afirmou a agência Mehr.
No sábado, as autoridades inauguraram novos murais antiamericanos no complexo que abrigava a embaixada dos Estados Unidos em Teerã, denunciando a "arrogância" de um país apresentado como sedento por guerra para sustentar seu domínio sobre o mundo.
Quarenta anos depois, a tomada de reféns de diplomatas americanos ainda envenena as relações entre a República Islâmica e os Estados Unidos.
Gary Sick, professor universitário e que integrava na época o Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a crise dos reféns em 1979 é "provavelmente o que melhor explica por quê estamos nesta espécie de impasse em que nos encontramos agora".
"Se você olha para tudo o que o Irã fez ou que nós fizemos neste tempo, o tipo de punição que está sendo aplicada ao Irã é totalmente desproporcional", declarou à AFP.