Nicolas Maduro: (Pedro MATTEY / AFP)
Agência de notícias
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 14h09.
Última atualização em 8 de agosto de 2025 às 14h45.
O governo dos Estados Unidos dobrou a recompensa anunciada no final de julho por informações que levem à prisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusando-o de ser “um dos maiores narcotraficantes do mundo”. O valor passou de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões (cerca de R$ 271 milhões), anunciou a procuradora-geral americana, Pam Bondi, na quinta-feira.
Maduro, que assumiu mais um mandato em janeiro após uma eleição presidencial marcada por denúncias de fraude e rejeitada por grande parte da comunidade internacional, foi diretamente ligado por Washington a operações de tráfico de drogas. Segundo Bondi, o presidente venezuelano teria coordenado ações com grupos como o Trem de Arágua — declarado organização terrorista pela gestão de Donald Trump — e com o cartel de Sinaloa, no México.
A procuradora afirmou que a DEA, agência antidrogas americana, apreendeu 30 toneladas de cocaína ligadas a Maduro e seus aliados, sendo quase 7 toneladas associadas diretamente ao presidente. Bondi afirmou que Maduro “usa a cocaína como arma para inundar os EUA”, repetindo acusações feitas pelo Departamento de Justiça durante o primeiro mandato de Trump, quando Maduro e outros altos funcionários foram denunciados por narcoterrorismo, corrupção e tráfico.
Nesta sexta-feira, porém, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou que seu governo não tem provas de que o venezuelano tenha vínculos com o cartel de Sinaloa. Sheinbaum pediu para que as provas, caso existam, sejam apresentadas a ela — e disse ser a primeira vez que ouviu falar sobre o tema, acrescentando que não há, por parte das autoridades mexicanas, "nenhuma investigação sobre isso".
O chanceler venezuelano, Yvan Gil, classificou o anúncio como “patético” e “propaganda política”, acusando Bondi de tentar criar uma “distração desesperada” em meio à repercussão negativa da condução do caso do empresário Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais.
— Não nos surpreende, vindo de quem vem — afirmou.
Em julho, os EUA também sancionaram o chamado Cartel de los Soles, grupo criminoso venezuelano que, segundo o Departamento do Tesouro, é comandado por Maduro. A medida foi oficializada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), responsável por aplicar sanções com base na política externa americana. Segundo o órgão, o cartel é "liderado por Nicolás Maduro Moros e outros indivíduos venezuelanos de alto escalão do regime Maduro".
Em junho, Hugo Carvajal, ex-chefe da inteligência militar venezuelana, foi condenado nos EUA por tráfico de drogas. Conhecido como El Pollo, Carvajal fugiu da Venezuela depois de pedir que os militares apoiassem um candidato opositor. Preso em Madri e extraditado, inicialmente negou as acusações, mas depois se declarou culpado, alimentando especulações de que teria feito um acordo com autoridades americanas para reduzir a pena em troca de informações comprometedoras sobre Maduro.
Ainda em janeiro, o governo do então presidente Joe Biden elevou de US$ 15 milhões (R$ 91 milhões) para US$ 25 milhões (R$ 152 milhões) a recompensa por informações que possam levar à captura do líder chavista "por crimes relacionados à conspiração para distribuir cocaína, tráfico de drogas e corrupção". O mesmo valor foi oferecido por informações sobre o ministro do Interior, Diosdado Cabello, considerado o número 2 do regime e também acusado pelos EUA de narcoterrorismo.
Apesar disso, no início do mês, Trump selou um acordo — cujos detalhes ainda não foram revelados — com a ditadura de Maduro. Após uma forte pressão da companhia petroleira Chevron, a licença para que ela possa continuar operando na Venezuela, vencida em maio, foi renovada. Segundo analistas dentro e fora da Venezuela, o entendimento evidenciou o pragmatismo que marca atualmente uma relação bilateral que foi turbulenta no primeiro mandato de Trump.
— Embora eu não acredite que Trump e Maduro negociam diretamente entre eles, como disse o número 2 do regime, Diosdado Cabello, a verdade é que estamos vendo uma nova fase na relação, uma fase transacional — disse Phil Gunson, analista senior para a região andina do Crisis Group, baseado em Caracas. — Hoje Trump não parece estar buscando uma mudança de regime na Venezuela, como fez no primeiro mandato. Ele não quer mais investir capital político nisso.
O acordo com a Chevron aconteceu após a libertação, por parte da ditadura, de dez cidadãos americanos presos na Venezuela. Em paralelo, o governo de El Salvador, aliado da Casa Branca, enviou para Caracas 252 presos venezuelanos que foram deportados pelos EUA. Tratou-se de uma negociação ampla, que foi além do petróleo.
As reações foram divididas. A ala mais radical na Venezuela, liderada por María Corina Machado, defende mais sanções e mais pressões que, na visão da opositora, poderiam levar a uma mudança de regime. Opositores mais moderados entendem que é preciso buscar uma maneira de negociar uma futura transição política no país, como aconteceu quando chegou ao fim a ditadura de Augusto Pinochet no Chile, por exemplo, e acham que a atitude de Trump poderia ajudar nesse sentido.
Segundo fontes locais, a situação interna da Venezuela se agrava a cada dia. Embora a escassez de alimentos já não seja o foco central, o regime enfrenta graves dificuldades financeiras — a ponto de a China, de acordo com as mesmas fontes, ter suspendido seus financiamentos ao país. Assim como nunca quitou a dívida superior a US$ 1 bilhão com o Brasil, o governo venezuelano também acumularia débitos com Pequim.
No poder desde 2013, quando sucedeu Hugo Chávez, Maduro é acusado por organismos internacionais e por opositores de reprimir manifestações e silenciar críticos, inclusive com o uso da força. Ele sobreviveu a uma onda de protestos após as eleições contestadas do ano passado e mantém controle sobre o país. O Reino Unido e a União Europeia impuseram sanções ao governo venezuelano no início deste ano.
(Colaborou Janaína Figueiredo)