Torres de observação da prisão de Bagram, no Afeganistão: as autoridades afegãs, por sua vez, nunca deixaram de reivindicar o controle da instituição, alegando uma violação de sua soberania nacional. (AFP / Massoud Hossaini)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2013 às 14h39.
Bagram - O Exército americano anunciou nesta segunda-feira que cedeu ao Exército afegão o controle total da polêmica prisão de Bagram, apelidada de "Guantánamo afegã", após longas negociações.
Poucas horas depois, o secretário de Estado americano, John Kerry, chegou a Cabul para uma visita surpresa com o objetivo de apaziguar as tensões entre os dois países no momento em que negociam uma parceria estratégica de longa duração.
A prisão foi alvo de tensas discussões bilaterais. Os Estados Unidos temiam que prisioneiros talibãs fossem liberados quando a prisão estivesse sob controle afegão.
De fato, cerca de 26 prisioneiros foram liberados nesta segunda-feira, segundo o general afegão Ghulam Farouq Barakzai, encarregado de Bagram.
As autoridades afegãs, por sua vez, nunca deixaram de reivindicar o controle da instituição, alegando uma violação de sua soberania nacional.
A transferência "está concluída", e representa "uma parte importante de todo o processo de transferência da segurança para as forças afegãs", considerou o general americano Joseph Dunford, comandante das forças internacionais da Otan no Afeganistão.
A cerimônia de transferência das responsabilidades, nesta segunda-feira em Bagram, "destaca um Afeganistão mais confiante, capaz e soberano", prosseguiu Dunford.
Originalmente programada para 9 de março, a transferência completa da prisão havia sido adiada no último minuto após as declarações do presidente Hamid Karzai, que havia afirmado que havia "inocentes" entre os presos sob controle americano, e que eles seriam libertados sob controle afegão.
No início de setembro, 3.000 presos, incluindo supostos membros do Talibã e da Al-Qaeda, foram confiados às autoridades afegãs. Mas os prisioneiros estrangeiros e afegãos capturados pelas forças da Otan desde então em operações das forças especiais permaneceram sob a custódia de soldados dos Estados Unidos.
Quase mil deles foram transferidos entre setembro e hoje, revelou o general Barakzai. "Os poucos que ainda permanecem nas celas da coalizão serão transferidos em uma semana", disse.
Alguns dos detidos, caso sejam libertados, serão "uma ameaça real", se voltaram para o campo de batalha, advertiu o general Dunford.
Mais de 11 anos após a derrubada dos talibãs do poder, a força internacional iniciou sua retirada do Afeganistão e a transferência da responsabilidade à polícia e ao exército local da segurança e instituições do país.
Apesar dos mais de 130.000 soldados estrangeiros, mais o reforço de 330.000 soldados e policiais afegãos, as tropas internacionais nunca conseguiram acabar com a rebelião talibã.
Os insurgentes, mesmo que menos numerosos, continuam a infligir pesadas perdas às forças estrangeiras e afegãs. Muitos afegãos temem um novo aumento da violência no país, que há 35 anos vive em meio à seguidas guerras, uma vez concluída a retirada das Otan no final de 2014.
Instalada ao lado da imensa base americana de Bagram, a prisão de mesmo nome foi alvo de organizações dos direitos humanos, que denunciam detenções abusivas e tortura.
Sua transferência aos afegãos é um obstáculo a menos nas difíceis negociações de uma parceria estratégica de longa duração entre Cabul e Washington.
Esta parceria deve definir as modalidades da presença americana após o fim das operações das forças internacionais, uma questão muito sensível em um país historicamente alérgico a toda invasão estrangeira prolongada.
Os Estados Unidos fracassaram em concluir um acordo deste tipo no Iraque, por não conseguir do governo uma garantia de imunidade para os soldados. O exército americano resolveu então retirar todas as suas tropas do país.