Moradores que fugiram de Ramadi cruzam uma ponte na divisa com Bagdá (Sabah Arar/AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2015 às 11h36.
Bagdá - Os Estados Unidos querem acelerar a formação militar de membros das tribos sunitas iraquianas, com o objetivo de reconquistar a cidade de Ramadi, nas mãos de jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Na terça-feira as milícias xiitas, mobilizadas pelo governo de Bagdá, começaram a se reunir às portas de Ramadi, a 100 km de Bagdá, para tentar reconquistar a cidade junto às tropas iraquianas, antes que os jihadistas a convertam em um de seus redutos.
Criticado após a queda de Ramadi no domingo, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, resolveu apelar a estas Unidades de Mobilização Popular, que desempenharam um papel chave no sucesso das operações contra o EI em diversas zonas ao norte de Bagdá.
No entanto, esta coalizão de milícias e voluntários majoritariamente xiitas havia sido mantida à margem na província de Anbar, cuja capital é Ramadi, para evitar a rejeição da população, em sua maioria sunita.
Os Estados Unidos, aliados de Bagdá, reconheceram que a queda de Ramadi representava um revés e que as milícias xiitas, algumas das quais têm o apoio do Irã, terão a partir de agora um papel desde que estejam sob o controle do governo iraquiano.
O presidente americano, Barack Obama, se reuniu na terça-feira com o Conselho de Segurança Nacional (NSC) para avaliar a situação no Iraque.
"Estamos avaliando como dar um melhor apoio às forças locais (na província de) Anbar, incluindo uma aceleração do treinamento e equipamento das tribos locais e o apoio a uma operação liderada pelo Iraque para recuperar Ramadi", disse à AFP o porta-voz do NSC, Alistair Baskey.
"Não se trata de uma mudança formal de estratégia", comentou Baskey, mas de um ajuste nos tempos para ajudar as tribos sunitas.
Fragilidade do exército iraquiano
Obama se negou até agora a enviar soldados americanos para travar combates em território iraquiano e prefere apoiar o exército local ou realizar bombardeios aéreos. O Pentágono sempre minimizou a importância militar de Ramadi, cujo controle é disputado pelo EI e pelas forças iraquianas há 18 meses.
No entanto, a queda da cidade ilustra a grande fragilidade do exército iraquiano, que no domingo se retirou em desordem de suas últimas posições. Imagens divulgadas pelo EI mostraram tanques, transportes de tropas e outros veículos militares, assim como armas e munições, abandonados nas bases do exército.
A perda de Ramadi, situada a apenas uma centena de quilômetros de Bagdá, representa o revés mais sério para o regime desde a ofensiva que permitiu ao grupo EI controlar vastos territórios em junho de 2014.
Por sua vez, sua conquista permite ao EI, que conta com milhares de homens no Iraque e na Síria, reforçar sua influência na imensa província de Anbar, fronteiriça com a Síria e com a Arábia Saudita, da qual Ramadi é a capital.
Na vizinha Síria, o exército governamental seguia enfrentando uma ofensiva do grupo EI em Palmira, uma cidade no centro do país com famosas ruínas monumentais.
Os combates prosseguiam nos arredores da cidade, perto da prisão, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede na Grã-Bretanha.
As forças do regime de Damasco estão em dificuldades, em particular na província de Idleb (noroeste), onde o exército perdeu seu último grande acampamento nas mãos de uma coalizão de rebeldes e membros da Al-Qaeda.
O regime perdeu nos últimos meses o controle das partes mais importantes desta província, fronteiriça com a Turquia.