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EUA anuncia cessar-fogo de 72 horas no Sudão

O secretário de estado dos EUA está em contato com os dois generais rivais e com múltiplos atores regionais

Sudão: o êxodo em massa de estrangeiros se intensificou hoje no país (AFP/AFP)

Sudão: o êxodo em massa de estrangeiros se intensificou hoje no país (AFP/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 25 de abril de 2023 às 06h59.

O secretário de estado americano, Antony Blinken, disse que os generais do Sudão rivais concordaram com um cessar-fogo de três dias a partir desta terça-feira, 25, para tentar encerrar os combates.

"Após negociações intensas nas últimas 48 horas, as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (FAR) concordaram com um cessar-fogo em todo o país a partir da meia-noite de 24 de abril, que irá durar 72 horas", declarou Blinken duas horas antes da entrada em vigor da trégua. "Neste período, os Estados Unidos esperam que o Exército e as FAR respeitem plena e imediatamente o cessar-fogo".

Blinken está em contato com os dois generais rivais e com múltiplos atores regionais e informou que trabalha com aliados para o início de "uma comissão" que seria responsável por negociar um fim permanente das hostilidades no Sudão.

As Forças da Liberdade e Mudança, principal bloco civil que ambos os generais tiraram do poder com um golpe em 2021, disseram que a trégua permitirá "dialogar nas modalidades de um cessar-fogo permanente".

Evacuações e fechamento de embaixadas no Sudão

Com o Sudão "à beira do precipício", como alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, o êxodo em massa de estrangeiros se intensificou hoje no país, em meio a combates entre o Exército e um grupo paramilitar.

Explosões, bombardeios e disparos acontecem de modo incessante há 10 dias na capital sudanesa, Cartum, e em outras regiões, e já deixaram 427 mortos e mais de 3,7 mil feridos, segundo as agências da ONU.

Potências internacionais conseguiram, no entanto, negociar com os dois lados beligerantes a retirada de funcionários diplomáticos e cidadãos. Esta espiral "corre o risco de uma conflagração catastrófica dentro do Sudão que poderia envolver toda a região e além", disparou Guterres nesta segunda-feira.

Apesar deste alerta, o enviado da ONU no Sudão, Volker Perthes, permanecerá no país, ao contrário de muitos diplomatas e outros cidadãos estrangeiros. Ao todo, mais de 1.000 cidadãos da União Europeia (UE) foram retirados do país, afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell. 

A Espanha anunciou a saída de 100 pessoas, incluindo espanhóis e latino-americanos. Já o governo dos Estados Unidos, por sua vez, retirou funcionários do serviço diplomático, menos de 100 pessoas, em helicópteros.

A China e países árabes também retiraram centenas de cidadãos. O Japão anunciou nesta terça-feira, 25, o fechamento de sua embaixada e a retirada de 45 cidadãos.

Cerca de 700 funcionários da ONU, embaixadas e organizações internacionais "foram retirados para Porto Sudão", cidade às margens do Mar Vermelho, informaram as Nações Unidas.

Os confrontos, que se desenvolvem principalmente em Cartum e Darfur, no oeste do país de 45 milhões de habitantes, eclodiram entre 15 de abril entre o exército do general Abdel Fatah al-Burhan, governante de fato do Sudão desde o golpe de Estado de 2021, e seu grande rival, o general Mohamed Hamdan Daglo, líder das paramilitares FAR.

Conflito

Os mais de cinco milhões moradores da capital não têm acesso a água e energia elétrica há dias e a comida começa a faltar. Os moradores de Cartum só têm um pensamento: abandonar a cidade, que está mergulhada no caos.

Os dois lados trocam acusações sobre ataques contra prisões para libertar centenas de detentos, assim como de roubos a casas e fábricas. Também foram registrados confrontos nas proximidades de agências bancárias, que foram esvaziadas.

Em um país onde a inflação já supera três dígitos em períodos normais, o preço do arroz ou da gasolina atingiu níveis recordes. "À medida que os estrangeiros fogem, o impacto da violência em uma situação humanitária já crítica no Sudão se agrava", alertou a ONU. 

No meio do fogo cruzado, as agências das Nações Unidas e outras organizações humanitárias suspenderam suas atividades no país. Cinco trabalhadores humanitários - quatro deles da ONU - morreram e, de acordo com o sindicato dos médicos, quase 75% dos hospitais estão fora de serviço.

Os combates violentos entre as forças dos dois generais não apresentam sinais de trégua. Os tiroteios são intensos na capital e seus arredores. Caças sobrevoam a região e os blindados paramilitares avançam.

A disputa entre Burhan e Daglo começou com os planos de integrar as FAR ao Exército oficial, um requisito crucial do acordo para a restauração da democracia no Sudão após o golpe militar que derrubou o ditador Omar al Bashir em abril de 2019.

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