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Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2015 às 21h20.
Miami - Um controverso programa que ensina mulheres em idade universitária a se prevenirem contra tentativas de estupro mostrou-se eficaz na redução do número de mulheres vítimas de abuso sexual no Canadá - indicou um estudo publicado nesta quarta-feira na revista New England Journal of Medicine.
Um editorial que acompanhou o estudo aplaudiu o rigor do mesmo, mas questionou as implicações da formação de mulheres para evitar a violência sexual - podendo desviar a responsabilidade dos estupradores para as próprias vítimas.
Pesquisas anteriores mostraram que uma em cada quatro mulheres são estupradas ou sofrem tentativas de abuso sexual enquanto cursam a universidade no Canadá.
As descobertas publicadas nesta quarta se baseiam num grupo de quase 900 mulheres em três diferentes instituições de ensino superior canadenses.
Durante quatro sessões de três horas, as universitárias tiveram contato com "informações, habilidades e práticas para avaliar o risco em conhecidos, superar barreiras emocionais na percepção do perigo e utilizar de maneira eficaz técnicas de auto-defesa verbal e física", disse o estudo.
O programa, conhecido como Programa Avançado de Reconhecimento e Resistência ao Abuso Sexual (EAAA, na sigla em inglês), está em desenvolvimento há mais de uma década pela professora Charlene Senn, da Universidade de Windsor.
Um ano após a conclusão do treinamento, as mulheres participantes do programa EAAA experimentaram 46% menos estupros e 63% menos tentativas de estupro do que as mulheres do grupo de controle.
O programa é o primeiro desenvolvido na América do Norte a ter um sucesso contra a prevenção do estupro que durasse mais do alguns meses, segundo Senn.
Ela também salientou que apenas os estupradores podem parar suas ações e que as mulheres não devem ser culpadas pelos abusos sexuais.
"O que isso nos mostra é que enquanto esperamos que aconteçam programas eficazes para os homens ou para mudanças culturais nas atitudes, há algo prático que podemos fazer para dar às mulheres jovens as ferramentas que elas precisam para melhor se protegerem da agressão sexual", justificou Senn.
Na crítica que acompanhou o estudo, a cientista comportamental e especialista em violência sexual nos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, Kathleen Basile, escreveu que a principal fraqueza do estudo é colocar "o ônus da prevenção nas possíveis vítimas, possivelmente obscurecendo a responsabilidade de seus autores e outros".
"O que acontece quando as mulheres que completam o treinamento não conseguem impedir com sucesso um estupro?", questionou Basile.
A especialista afirmou que os esforços para prevenir o estupro precisam incluir os potenciais estupradores, e devem começar em estágios anteriores da vida do que na universidade.
"Abordagens focadas apenas nas mulheres usadas isoladamente para a prevenção não só desviam a responsabilidade dos potenciais perpetradores, mas também representam uma solução parcial", explicou Basile.
"Nós podemos ter melhores resultados através de esforços combinados que também incidem sobre potenciais estupradores, espectadores e mais amplas influências a nível da comunidade", concluiu.