Cuba deverá resolver seus desafios econômicos dentro da uma complicada lógica: diminuição da força de trabalho, com o envelhecimento, e aumento das despesas sociais (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2011 às 15h11.
Havana - O governo de Cuba enfrenta um dilema entre políticas sociais e econômicas, tendo em vista o ritmo de envelhecimento e diminuição da população da ilha, onde pela primeira vez foi realizado um estudo que revela detalhes sobre as condições de vida dos maiores de 60 anos.
Nos últimos 25 anos, o envelhecimento na ilha aumentou em 6,5%. Em 2010, a população da terceira idade superou a média compreendida entre 0 e 14 anos, alcançando 17,8% do total dos 11,2 milhões de habitantes.
Divulgado recentemente, um estudo do Escritório Nacional de Estatísticas (ONE) prevê que Cuba, em 2025, terá diminuído sua população em mais de 203 mil pessoas. Nessa mesma data, a idade média dos cubanos passará de 38 para 44 anos.
A Pesquisa Nacional de Envelhecimento Populacional, que foi realizada entre dezembro de 2010 e março de 2011, apresentou indicadores como saúde, redes de apoio e segurança econômica.
O diretor do Centro de Estudos de População e Demografia da ONE, Juan Carlos Alfonso Fraga, declarou à Agência Efe que o estudo nacional é o primeiro com essas características, considerado 'uma ferramenta imprescindível para a tomada de decisões' em Cuba.
Segundo a pesquisa, um em cada dois adultos cubanos 'sente medo ou incerteza' em relação à situação econômica e de saúde no futuro.
Ao avaliar o nível de vida de acordo com a renda que recebem, 60% dos entrevistados disseram ter 'privações e carências', enquanto quatro entre cada dez pessoas responderam que 'podem viver entre 'bem' e um 'pouco apertado''.
No documento da ONE, a maior parte dos que afirmaram ter dificuldades econômicas escolheram opções específicas que mostram que, com suas rendas, vivem 'mal' ou 'quase não conseguem viver'.
Dos entrevistados, 71,2% disseram que suas rendas provêm da aposentadoria ou pensão, enquanto 15% precisam contar com a 'ajuda de familiares residentes em Cuba ou no exterior'. Estima-se que 54% dos cubanos maiores de 60 anos sejam aposentados ou pessoas que não trabalham e nem buscam ocupação.
A pesquisa indica que os idosos cubanos gastam seus salários basicamente com despesas médicas (remédios) e com as contas de serviços como eletricidade, gás e água. Porém, só 44% conseguem arcar com todas as despesas alimentícias.
Em geral, o estudo destaca que Cuba apresenta um 'crescimento populacional muito baixo', com índices de natalidade abaixo do nível de substituição, baixa mortalidade infantil, elevada média de vida (78 anos) e um saldo negativo da migração externa, uma preocupação já reconhecida pelo presidente Raúl Castro.
Em 2008, o Parlamento aprovou uma nova lei de Seguridade Social, que aumentou a idade mínima de aposentadoria em cinco anos (60 para mulheres e 65 para homens) e modificou o sistema de cálculo a partir dos salários mais altos recebidos.
O pacote de reformas econômicas, que o general Castro se refere como uma 'atualização' do socialismo, inclui medidas que pretendem continuar alterando as aposentadorias e os salários gerais com base no aumento da produtividade.
Essas reformas também incluem a eliminação gradual de 'gratuidades indevidas e subsídios excessivos', a redução das estatais e a abertura do setor privado para concentração de recursos do Estado.
No entanto, Cuba deverá resolver seus desafios econômicos dentro da uma complicada lógica: diminuição da força de trabalho, com o crescente envelhecimento, e aumento das despesas sociais e geriátricas.
Como característica particular, a grande maioria dos idosos da ilha possui filhos vivos e dizem viver em um ambiente propício na família, onde ocupam posições de 'maior hierarquia'.
A maioria dos entrevistados reclama da falta de iluminação, higiene e do estado precário das ruas, tendo a televisão e o rádio como suas principais fontes de lazer.
Perguntados sobre 'o que mais desejam fazer e não podem por razões econômicas', 42,5% mencionaram que desejam adquirir ou regularizar seus imóveis, e 16,2% disseram que gostariam de aproveitar férias com viagens e excursões.