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Estudo identifica influência das variações climáticas em guerras civis

Segundo a pesquisa, regiões tropicais afetadas por El Niño ou La Niña têm mais chances de terem conflitos internos

Campo de Refugiados na Somália: crise alimentar na região é exemplo dos cientistas (John Moore/Getty Images)

Campo de Refugiados na Somália: crise alimentar na região é exemplo dos cientistas (John Moore/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2011 às 17h24.

Paris - Variações climáticas como o El Niño e La Niña têm impacto sobre conflitos nas regiões afetadas por estes fenômenos, que correm o risco de se agravar com a emissão de gases da era industrial, afirma um estudo publicado na edição desta quarta-feira da revista Nature.

Os países tropicais, que sofrem com tempestades causadas pelo fenômeno El Niño, são duas vezes mais suscetíveis a terem conflitos internos do que países afetados pelo La Niña, mais úmida e menos quente.

A fome, que dobrou na Somália por causa de uma guerra civil e castiga o Chifre da África, é um exemplo dos efeitos das variações do clima, que intensificam a seca e as tensões de sociedades já fragilizadas, segundo os autores da pesquisa. Eles acrescentam que estes riscos aumentarão com o aquecimento global causado pela emissão de gases estufa.

"O estudo mostra inegavelmente que, mesmo no nosso mundo moderno, as variações climáticas têm impacto sobre a propensão das pessoas à violência", explica Mark Cane, pesquisador do clima do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, em Nova York.

Conhecido pela sigla ENSO (El Niño-Southern Oscillation), o fenômeno atinge o Hemisfério Sul e é um ciclo que aparece a cada dois ou sete anos e dura entre nove meses e dois anos, provocando fortes perdas na agricultura, pesca e extrativismo florestal.

O fenômeno decorre do acúmulo de massas d'água quente na parte ocidental do Pacífico tropical e atravessa o oceano. Pode provocar modificações drásticas nos ciclos de chuvas e nas temperaturas, gerando ondas de calor, ventos secos e violentos na África, parte sul da Ásia e sudoeste da Austrália.

Já o ciclo inverso, o La Niña, causado por um resfriamento das massas de água na parte oriental do Pacífico, favorece fortes chuvas nessas regiões.

Os autores do estudo examinaram os dois fenômenos climáticos no período de 1950 a 2004 e os cruzaram com as informações sobre conflitos internos que causaram no mínimo 25 mortos por ano durante o mesmo período.

Cento e setenta e cinco países e 234 conflitos, dos quais mais da metade matou mais de mil mortos nos confrontos, também foram analisados.


Durante o período de observação do La Niña, a probabilidade de um conflito acontecer era de 3%, enquanto durante o El Niño esta porcentagem subia para 6%, o dobro segundo o estudo. E o risco de um conflito em países que não são afetados por nenhum dos dois fenômenos era de 2%.

Segundo os pesquisadores, o El Niño pode ter tido influenciado 21% dos casos de guerras civis pelo mundo, uma cifra que chega a 30% nos países especialmente afetados pelo fenômeno.

Solomon Hsiang, principal pesquisador do estudo, afirmou que o El Niño é um fator invisível, mas que provoca perdas nas colheitas, favorece as epidemias após as tempestades, intensifica a fome, o desemprego e as desigualdades que, por sua vez, alimentam a discórdia e o descontentamento.

Outros fatores que podem influenciar no nível de risco de uma guerra civil são o crescimento demográfico, a prosperidade e a capacidade de os governos controlarem os eventos ligados ao El Niño.

Segundo Hsiang, a crise atual na Somália, que não foi incluída no estudo, é um "exemplo perfeito" das consequências indiretas do El Niño.

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