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Estudo contesta eficácia do controle de ebola no desembarque

Ao invés de confiar em escudos em suas próprias fronteiras, autores afirmam que países deveriam ajudar Libéria, Guiné e Serra Leoa a identificar melhor casos

Aeroporto: controle na chegada exige recursos maiores para ser tão eficiente quanto o da origem (U.S. Customs and Border Protection/Josh Denmark/Handout via Reuters)

Aeroporto: controle na chegada exige recursos maiores para ser tão eficiente quanto o da origem (U.S. Customs and Border Protection/Josh Denmark/Handout via Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2014 às 18h41.

Controlar os passageiros na saída dos países afetados pelo ebola é mais eficaz do que monitorá-los na chegada, revelou um estudo publicado nesta terça-feira, no mesmo dia em que os Estados Unidos anunciaram medidas mais estritas no controle de passageiros vindos da região mais castigada pela epidemia.

Ao invés de confiar em escudos em suas próprias fronteiras, os autores do estudo afirmam que os países deveriam ajudar Libéria, Guiné e Serra Leoa - os países mais afetados pela epidemia - a melhorar sua capacidade de identificar casos de ebola.

"A melhor abordagem para minimizar os riscos para a comunidade internacional é controlar a epidemia na origem", afirmou Kamran Khan, do Hospital Saint Michael, em Toronto, Canadá.

"Ainda que controlar os viajantes que chegam aos aeroportos fora do oeste da África possa dar uma impressão de segurança, a medida teria benefícios marginais, na melhor das hipóteses, e poderia desviar recursos valiosos de intervenções mais eficazes de saúde pública", prosseguiu.

A pesquisa, publicada na revista The Lancet, destaca que o controle feito no embarque deveria vincular o monitoramento a apenas três aeroportos internacionais: em Conacri (Guiné), Monróvia (Libéria) e Freetown (Serra Leoa).

Mas o controle na chegada exigiria recursos muito maiores para se tornar tão eficiente quanto aquele feito na origem.

O estudo apontou dezesseis aeroportos em 15 países que recebem voos diretos de Libéria, Guiné e Serra Leoa.

Estes, por sua vez, oferecem voos de conexão para 1.238 cidades, onde apenas um em cada 2.500 passageiros seria originário destes três países africanos.

Os cientistas analisaram os cronogramas de voo de 2014 e padrões de trânsito de passageiros em 2013 para antecipar o risco de o vírus pegar carona com um passageiro.

Estatisticamente, sem o controle na saída, três passageiros infectados com ebola embarcariam mensalmente em um voo internacional procedente da região afetada.

Os especialistas não quantificaram o impacto provável de medidas de controle na saída, mas afirmaram que os ganhos obtidos com controles adicionais na chegada seriam "insignificantes".

"O ideal é que todo viajante sintomático fosse identificado no controle de saída", declarou à AFP Marisa Creatore, do Instituto de Conhecimento Li Ka Shing, no Hospital Saint Michael, em Toronto.

"No entanto, devido ao vírus ebola ter um longo período de incubação durante o qual as pessoas não estão doentes e não apresentam sintomas (entre 8 e 10 dias, em média, e até 21 dias no máximo), a maioria dos viajantes infectados não seria sintomática e provavelmente, nem saberia que se infectou", prosseguiu.

"Se não apresentam sintomas, não serão detectados por escâneres térmicos ou outras intervenções, tanto na saída quanto na entrada", acrescentou.

Na semana passada, ministros da Saúde europeus concordaram em lançar uma revisão das medidas de controle em passageiros que deixam Libéria, Guiné e Serra Leoa.

Mas muitos países fora da região afetada têm intensificado os controles em suas próprias fronteiras, com o temor despertado pelos três casos (um na Espanha e dois nos Estados Unidos) de infecção doméstica de enfermeiras que cuidaram de pacientes infectados pelo ebola.

Nesta terça, Washington anunciou que todos os passageiros procedentes de um dos três países mais afetados pela epidemia com destino aos Estados Unidos serão direcionados para um dos cinco aeroportos americanos especialmente equipados para detectar uma possível contaminação pelo vírus: John Fitzgerald Kennedy e Newark, que atendem Nova York; Dulles, em Washington; e os de Atlanta e Chicago.

Segundo o estudo, mais da 50% dos passageiros procedentes dos três países mais afetados pela epidemia viajam para apenas cinco destinos: Acra, em Gana (17,5%); Dacar, no Senegal (14,4%); Londres (7,7%), Banjul, em Gâmbia (6,8%), e Paris (6%).

Nova York foi a 21ª cidade da lista, com 0,5%.

Mais de 60% das pessoas procedentes dos três países viajaram para países de renda baixa e média-baixa, onde os controles no desembarque podem ser precários.

"Uma vez que estes países têm limitados recursos médicos e de saúde pública, eles podem ter dificuldade em identificar rapidamente e responder de forma eficaz a casos importados de ebola", disse Khan.

"Os riscos para a comunidade internacional aumentariam ainda mais se o vírus ebola se espalhasse para e dentro de outros países com fracos sistemas de saúde pública", acrescentou.

A epidemia de ebola já matou mais de 4.500 pessoas, sobretudo no oeste da África, desde o começo do ano.

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