A "onda de calor excepcionalmente precoce" causou "temperaturas até 20 graus acima do normal e recordes para o mês de abril (AFP/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 5 de maio de 2023 às 11h51.
Última atualização em 5 de maio de 2023 às 12h45.
A onda de "calor extremo" que atingiu a Espanha, Portugal e o norte de África no final de abril seria "quase impossível sem a mudança climática", afirma um relatório científico publicado nesta sexta-feira, 5.
A "onda de calor excepcionalmente precoce" causou "temperaturas até 20 graus acima do normal e recordes para o mês de abril superados em até 6 graus" em alguns lugares, disse o relatório do World Weather Attribution (WWA), um órgão global da rede de cientistas que avalia a relação entre eventos climáticos extremos e transtornos climáticos.
Uma massa de ar seco e quente vinda do norte de África na semana passada trouxe recordes históricos de temperaturas para abril em Portugal e na Espanha continental, com 36,9 ºC e 38,8 ºC, respectivamente, níveis mais típicos dos meses de verão (julho e agosto).
Em Marrocos, o termômetro ultrapassou os 41 graus pela primeira vez em abril em várias cidades, enquanto em pontos da Argélia ultrapassou a marca dos 40 ºC.
"A mudança climática provocada pelo homem aumentou em 100 vezes as probabilidades da onda que deixou recordes de calor na Espanha, Portugal, Marrocos e Argélia", em comparação com a época pré-industrial, diz o relatório de dez especialistas da WWA.
"Esse calor teria sido quase impossível sem a mudança climática", destaca o estudo, cujos resultados não seguem o longo processo de publicação em revistas científicas, mas são elaborados com base em uma metodologia científica.
As temperaturas foram "tão extremas que o evento foi incomum mesmo no clima atual mais quente", inclusive em uma região já acostumada com a multiplicação de ondas de calor "nos últimos anos", detalhou a WWA.
Os termômetros do final de abril marcavam níveis "3,5 ºC superiores aos que teriam sido registrados sem a mudança climática", segundo o grupo de cientistas, que elaborou o seu estudo em uma semana.
A região do Mediterrâneo Ocidental "terá ondas de calor mais frequentes e intensas no futuro, à medida que o aquecimento global avança", alertou Sjoukje Philip, pesquisadora do Instituto Meteorológico da Holanda e membro da WWA, em uma videoconferência com jornalistas.
O calor incomum também ocorreu em meio a "uma seca histórica de vários anos" nesta região, que "amplifica as temperaturas extremas", observou o relatório.
Na Espanha, conhecida como o pomar da Europa por suas regiões agrícolas, o principal sindicato de agricultores, o Coag, estima que 60% das terras agrícolas espanholas estão atualmente "sufocadas" pela falta de chuva.