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Estreia do voto obrigatório deu força à oposição no Chile, diz analista

País adotou exigência pela primeira vez na eleição deste domingo, e comparecimento quase dobrou


Apoiadores de José Antonio Kast, durante apuração em Santiago, no domingo, 16
 (Marvin Recinos/AFP)

Apoiadores de José Antonio Kast, durante apuração em Santiago, no domingo, 16 (Marvin Recinos/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 18h04.

A eleição presidencial do Chile, que teve o primeiro turno neste domingo, 16, teve uma vitória clara da oposição. A candidata governista, Jeannette Jara, teve 26,85% dos votos, enquanto nomes de oposição e antissistema somaram mais de 50%.

O conservador José Antonio Kast ficou em segundo lugar, com 23,92% dos votos, e disputará o segundo turno com Jara, em 14 de dezembro.

Juan Pablo Lavín, fundador do Panel Ciudadano, entidade que faz pesquisas eleitorais no Chile, o número elevado de votos contra o governo tem relação, além da baixa aprovação do presidente Gabriel Boric, em uma mudança eleitoral: pela primeira vez, o voto foi obrigatório.

"Nesta eleição, votaram mais de 13 milhões de pessoas, e a média desde o retorno da democracia era de 7 milhões de votos [por eleição]. É quase o dobro, e é muito provável que os resultados surpreendentes de Franco Parisi [candidato antissistema, que ficou em terceiro lugar, com 19,71%] e os números baixos de Jara sejam explicados por isso", disse Lavin, em um debate virtual organizado pelo think tank Atlantic Council.

"Os eleitores que votaram por obrigação, que são céticos quanto ao jeito tradicional de fazer política, tendem a votar em Parisi, que é um candidato que concentra sua comunicação em não ser de esquerda, direita ou centro e não seguir nenhuma ideologia", afirma.

"Esses eleitores obrigados [a votar] são pessoas que pensam a curto prazo, não seguem grandes ideologias e votam por emoção. E ele [Parisi] foi o candidato que capturou esse tipo de emoção contra o establishment", disse.

"Essas pessoas estão votando contra quem estiver no poder, e isso será muito importante para o segundo turno", afirma.

Onda de insatisfação

"A mensagem dos eleitores ontem foi super clara. O desemprego tem permanecido acima de 8% por quase três anos. O investimento está estagnado há muito tempo. Ao fim do dia, a eleição foi menos sobre ideologia e mais sobre resultados", disse Sergio Urzúa, professor de economia da Universidade de Maryland, no mesmo debate.

"As prioridades agora estão no crescimento econômico. Trazer investimentos de volta ao país e criar empregos serão fundamentais", afirma.

Para ele, a candidata governista, que foi ministra do Trabalho de Boric, terá dificuldades para apresentar suas propostas na área econômica, dada a onda de insatisfação.

Urzúa apontou, ainda, que o governo terá de debater a proposta de Orçamento para 2026 nas próximas duas semanas, o que gerará uma situação curiosa. O governo terá de apresentar uma nova versão do plano de gastos, pois a primeira foi rejeitada pelo Congresso.

"Não está claro se o ministro das Finanças irá dobrar a aposta na visão otimista de suas projeções, mas será uma situação muito estranha, em que as disputas políticas poderão escalar rapidamente e dominar a discussão econômica", diz o professor. "Serão duas semanas fascinantes se considerarmos a relação entre o debate econômico e a política."

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