Alessandra Perilli, atleta do tiro de San Marino: medalha de bronze e de prata nas duplas pelo pequeno país de 33.000 habitantes (Kevin C. Cox/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 2 de agosto de 2021 às 14h16.
Última atualização em 2 de agosto de 2021 às 20h58.
Até a tarde desta segunda-feira, 2, com mais de uma semana de disputa nos Jogos Olímpicos, os líderes do quadro de medalhas estão claros: China, Estados Unidos e Japão são os mais vitoriosos até agora, os dois primeiros com 60 medalhas cada, mais de 20 delas de ouro.
Mas e se o atual líder do quadro de medalhas fosse o pequeno território de San Marino, perto da Itália, seguido por Bermudas, na América Central?
Esse universo paralelo olímpico é possível no quadro de medalhas per capita, isto é, o número de medalhas por habitante.
A brincadeira foi pensada pelo cientista da computação da Nova Zelândia, Craig Nevill-Manning, que criou o site Medals per capita - Olympic glory in proportion (Glória olímpica em proporção, em inglês), onde atualiza diariamente os vencedores por habitante das Olimpíadas de Tóquio.
"Conforme você analisa a contagem de medalhas olímpicas, uma coisa se destaca: países maiores tendem a ganhar mais medalhas", diz Nevill-Manning, que é hoje diretor de tecnologia da startup de infraestrutura urbana Sidewalk Labs, do grupo Alphabet, dona do Google.
"Então quem lidera no mundo em número de medalhas se corrigimos [o ranking] por população?", questiona. O site mostra também rankings por produto interno bruto (PIB) e de Olimpíadas passadas.
Os destaques são, em todos os casos, países do Leste Europeu, a maioria ex-membros da União Soviética, antiga potência olímpica, e pequenas ilhas na Ásia e na América Central.
A teoria é que, quanto mais habitantes, maiores as chances de encontrar um atleta de alto nível em vários esportes, de modo que países menores sairiam em desvantagem.
San Marino, que tem pouco mais de 30.000 habitantes, assumiu a liderança depois de ganhar suas primeiras duas medalhas na história, uma prata e um bronze no tiro.
Já Bermudas, com só 60.000 habitantes, também fez história em Tóquio ao se tornar o menor país a ganhar uma medalha de ouro, no triatlo.
O fato de Nevill-Manning ser um cidadão da Nova Zelândia o incentivou a olhar para as medalhas per capita, diz. O cientista lembra que a Nova Zelândia é uma exceção entre países pequenos com grande número de medalhas — o país tem 5 milhões de habitantes, mas está sempre entre os primeiros no ranking olímpico oficial.
Nas Olimpíadas de Tóquio, a Nova Zelândia é a 12ª no quadro geral de medalhas, e o terceiro em medalhas per capita.
Outro destaque é Cuba, que está em 19º no quadro geral e em 19º per capita. A ilha tem 11 milhões de habitantes.
Países como Hungria ou Dinamarca também se destacam por estar entre os 20 melhores tanto no ranking per capita quanto no oficial.
Já os líderes históricos dos Jogos, como China e EUA, estão muito atrás no ranking per capita, por terem 1,4 bilhão e 330 milhões de habitantes, respectivamente.
Veja abaixo como estão os 20 melhores dos Jogos de Tóquio no ranking per capita:
Países muito grandes, como o Brasil, tendem a se sair pior no ranking per capita. Com 10 medalhas já ganhas em Tóquio, o Brasil está em 65º no ranking por habitante, embora em 18º no ranking geral.
Na Rio 2016, o Brasil levou seu maior número de medalhas na história, com 19 premiações.
O número foi o suficiente para colocar o país em 13º no ranking geral das Olimpíadas, mas só em 72º per capita.
A forma de contabilizar o quadro de medalhas olímpico também rendeu polêmicas neste ano em Tóquio. Veículos americanos, como a rede de televisão NBC e o jornal The New York Times, vêm contabilizando as medalhas pelo número total, e não com peso maior para o ouro, como faz o Comitê Olímpico Internacional historicamente.
Por esse método, os EUA estariam à frente da China, enquanto, no ranking do COI, estão atrás.