Mundo

Este jovem saudita pode ser decapitado a qualquer momento

Entidades internacionais pedem por clemência pela vida de um jovem alvo de uma prisão feita com base em acusações duvidosas e um julgamento permeado de falhas

Ali Mohammed Baqir al-Nimr: jovem foi condenado à morte por decapitação e terá seu corpo exibido em praça pública na Arábia Saudita (Divulgação/Facebook)

Ali Mohammed Baqir al-Nimr: jovem foi condenado à morte por decapitação e terá seu corpo exibido em praça pública na Arábia Saudita (Divulgação/Facebook)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 24 de setembro de 2015 às 15h40.

São Paulo – Ali Mohammed Baqir al-Nimr tinha apenas 17 anos quando se envolveu nos protestos da Arábia Saudita que fizeram parte do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe e que tomou conta do norte da África e do Oriente Médio nos idos de 2011.

Preso desde fevereiro de 2012 por acusações em torno da sua participação nas manifestações e de ter atacado forças policiais, foi condenado à morte em maio. Sua pena, explicou a BBC, será a de decapitação seguida da exposição de seu corpo em praça pública numa espécie de crucificação.

Porém, todo o processo ao qual al-Nimr foi submetido, desde a sua prisão até a condenação, tem sido alvo de ceticismo por parte de organizações internacionais como a Anistia Internacional, a Human Rights Watch (HRW) e a Organização das Nações Unidas (ONU), além de ter gerado a comoção entre governos.

Um dos pontos mais polêmicos é o fato de a Arábia Saudita ser signatária de uma convenção internacional que proíbe a aplicação de penas capitais por crimes cometidos por uma pessoa enquanto menor de 18 anos. Outro problema é que essas entidades têm indícios para crer que o jovem teria sido torturado e que não teve direito a um julgamento justo. Além disso, ele não teria sido acompanhado por um advogado durante os trâmites iniciais do caso.

A HRW obteve acesso aos autos do processo e alega ter detectado inúmeras falhas. Durante o julgamento, por exemplo, foi dito que al-Nimr teria confessado ter participado de marchas contra o Estado e cantado músicas de protesto. Teria ainda ameaçado policiais com coquetel molotov e dado cobertura para pessoas procuradas pelas autoridades.

A acusação, contudo, não comprovou se as ações resultaram em ferimentos aos policiais e o jovem negou todas as alegações. Disse ainda ter sido torturado. De acordo com a HRW, a corte pecou em não investigar melhor o caso. 

Para completar, há suspeitas de que a pressão sobre o jovem tenha motivações políticas. Fontes ouvidas pela rede de notícias CNN disseram que a prisão de al-Nimr é uma vingança contra seu tio, Nimr al-Nimr. Clérigo conhecido por ser crítico do regime saudita, ele atuava na liderança dos protestos e está preso desde 2012.

A crueldade da pena, as falhas de julgamento e as possíveis motivações para o tratamento que o jovem vem recebendo na Arábia Saudita também chamaram a atenção de diferentes governos como a França, que enxerga o caso com preocupação e fez parte do coro daqueles que pedem que a sentença seja cancelada. 

Execuções

A quantidade de execuções no país aumentou ferozmente em 2015 na comparação com todo o ano passado. Até o momento, 135 pessoas foram mortas pelo regime saudita. Em 2014, no total, o número de mortes não ultrapassou a marca de 88.

“A Arábia Saudita está em uma maratona de execuções em 2015”, disse um diretor da HRW, “mas decapitar uma criança que passou por um julgamento injusto é baixo demais”, completou ele. “O rei Salman precisa anular a condenação de al-Nimr”.

Arábia Saudita x direitos humanos

Mas a possível execução de al-Nimr não é nem de perto a única polêmica na qual o país se envolveu nesse ano. Há poucos meses, outro caso que gerou comoção foi o do blogueiro Raif Badawi, que foi condenado a dez anos de prisão e mil chicotadas pelo crime de apostasia.

Ainda assim, esse país que é um forte aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, ainda conseguiu galgar o lugar de líder em um painel internacional que discutirá direitos humanos. “Apesar do seu péssimo histórico, a Arábia Saudita conseguiu de algum jeito se tornar a líder de um painel da ONU”, criticou o analista Ken Roth, da HRW. 

Acompanhe tudo sobre:Arábia SauditaDireitosDireitos HumanosPena de morte

Mais de Mundo

Manifestação reúne milhares em Valencia contra gestão de inundações

Biden receberá Trump na Casa Branca para iniciar transição histórica

Incêndio devastador ameaça mais de 11 mil construções na Califórnia

Justiça dos EUA acusa Irã de conspirar assassinato de Trump; Teerã rebate: 'totalmente infundado'