Antonio Guterres, secretário-geral da ONU: "Estamos diante de um momento perigoso" (Murad Sezer/Reuters)
Repórter
Publicado em 22 de junho de 2025 às 17h31.
Última atualização em 22 de junho de 2025 às 22h46.
A escalada das tensões entre os Estados Unidos e o Irã levou o Conselho de Segurança da ONU a se reunir na sede em Nova Iorque em uma sessão de emergência para analisar os impactos do bombardeio realizado pelos EUA contra instalações nucleares iranianas. A operação militar, que atingiu locais como Fordow, Natanz e Isfahan, gerou preocupações globais sobre uma possível guerra prolongada e o risco de destruição da ordem internacional.
Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, falou sobre as consequências do ataque e os próximos passos a serem tomados pela comunidade internacional.
"Esse apelo por paz não foi ouvido", afirmou Guterres, referindo-se ao fracasso das negociações diplomáticas. "Estamos diante de um momento perigoso", disse o secretário, enfatizando que as hostilidades entre os dois países podem levar a uma retaliação em cadeia. Guterres destacou que, para evitar o pior, a diplomacia precisa prevalecer.
"O povo não suportará outro ciclo de destruição. A segurança dos civis e a navegação marítima precisam ser garantidas”, disse Guterres. Ele pediu aos membros da ONU que ajam com calma, reforçando a necessidade de um processo diplomático para resolver o impasse.
Outra autoridade que se manifestou durante o encontro foi Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Na oportunidade, Grossi destacou que o bombardeio ameaça comprometer mais de 50 anos de segurança nuclear internacional. "Nós temos uma janela de oportunidade para voltar ao diálogo", afirmou, alertando que se essa janela se fechar, a violência pode alcançar níveis inimagináveis.
Ele fez um apelo para que os Estados Unidos e o Irã voltem à mesa de negociações, permitindo que os inspetores da AIEA tenham acesso às instalações nucleares para avaliar o nível de urânio enriquecido presente nos locais atingidos.
"Essa escalada militar coloca em risco o regime global de não proliferação nuclear e ameaça a paz internacional", disse Grossi. Ele acrescentou que a Agência está pronta para ajudar a evitar mais destruição e garantir a segurança das instalações nucleares.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, se pronunciou sobre os ataques de forma incisiva, reforçando a posição de Israel, de que a operação foi necessária para proteger o país.
"Não faremos mais do que o necessário", disse, referindo-se aos danos causados pelas bombas de penetração em instalações subterrâneas. Apesar de afirmar que não deseja uma guerra mais grave com o Irã, Netanyahu deixou claro que a campanha contra o programa nuclear iraniano continuará até que os objetivos de Israel sejam alcançados.
O posicionamento mais duro do encontro contra os ataques dos Estados Unidos veio de Vasily Nebenzya, embaixador da Rússia na ONU. Ele criticou o que chamou de "hipocrisia" da liderança americana e destacou que as ações dos EUA, como os bombardeios em instalações nucleares iranianas, representam uma violação da lei internacional e podem resultar em consequências imprevisíveis para a segurança global.
Nebenzya apontou que, embora os Estados Unidos se apresentem como "juízes supremos" no cenário internacional, eles ignoram as resoluções das Nações Unidas, como a Resolução 2231, que visa a desescalada do conflito e a diplomacia, em favor da escalada militar. O embaixador russo também ressaltou que o Irã, que assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), tem o direito de desenvolver seu programa nuclear de forma pacífica, mas que o Israel, que não assina o TNP, continua a ser um ponto fora da curva.
O embaixador russo também alertou que, sem um controle maior das ações militares e diplomáticas, a escalada de violência pode levar a um desastre nuclear e prejudicar toda a estabilidade internacional. “Lamento que alguns de vocês não condenem os Estados Unidos”.
Em resposta, Dorothy Shea, embaixadora dos Estados Unidos na ONU, reiterou o apoio dos Estados Unidos a Israel e a sua preocupação com a ameaça representada pelo Irã, destacando que o país continua a avançar em seu programa nuclear de maneira clandestina e não está cumprindo com suas obrigações internacionais. Ela defendeu as ações militares como uma medida necessária para proteger os interesses dos Estados Unidos e de seus aliados na região. “Irã escondeu programa nuclear e fugiu das negociações”, disse.
O encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Irã e o presidente russo Vladimir Putin em Moscou, previsto para esta segunda, 23, pode oferecer uma nova oportunidade para as negociações. No entanto, o governo iraniano já declarou que não há espaço para negociações diplomáticas no momento, o que pode dificultar ainda mais os esforços de mediação internacional.