Shake Shack: rede ofereceu batatas grátis aos vacinados em Nova York (Photo Illustration by Scott Olson/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 17 de maio de 2021 às 16h53.
Última atualização em 17 de maio de 2021 às 20h41.
Enquanto em boa parte do mundo a vacina contra o coronavírus é o item mais desejado do momento, alguns lugares nos Estados Unidos têm chegado ao ponto de pagar para que o restante de seus cidadãos aceite se vacinar.
O exemplo mais recente veio do estado de Ohio, que anunciou que sorteará 1 milhão de dólares toda semana — por cinco semanas consecutivas — entre quem aceitar se vacinar contra a covid-19, para os adultos com mais de 18 anos.
(Com cerca de 5 milhões de adultos em Ohio vacinados até agora, a chance de ganhar é de uma em um milhão.)
A quem tiver menos de 18 anos, o estado sorteará bolsas de estudo completas em universidades — um curso de quatro anos pode custar mais de 50.000 dólares só em mensalidades, além de outros gastos. Nos EUA, as vacinas estão liberadas para todos com mais de 12 anos de idade.
O governador de Ohio, o republicano Mike DeWine, tenta aumentar as taxas de imunização antes da data em que prometeu reabrir totalmente a economia, em 2 de junho.
Em Ohio, só 43% da população se vacinou com ao menos uma dose, abaixo da média dos EUA, em que 47% da população foi vacinada (quase 60% se contabilizados só os adultos).
Como no resto do país, a taxa de não vacinados em Ohio é especialmente preocupante entre os homens e os mais jovens, estando somente na casa dos 30% entre quem tem menos de 30 anos, mesmo com vacinas já disponíveis para esta faixa etária.
Ohio não é o pior dentre os lugares com poucos vacinados: os estados de Idaho, Wyoming, Arkansas, Geórgia, Carolina do Sul, Louisiana, Alabama e Mississippi têm todos menos de 40% da população vacinada.
Na outra ponta, estados como Vermont e Massachusetts chegaram a mais de 60% da população com ao menos uma dose. Quase todos os estados das costas do país, como Califórnia e Oregon na costa oeste e Nova York, Pensilvânia e Nova Jersey na costa leste, também têm mais de 50% vacinados.
Na busca por aumentar o número de vacinados, estados tem distribuído "brindes" dos mais variados. O estado da Vírgina Ocidental (onde 38% da população se vacinou) passou a oferecer a jovens entre 18 e 35 anos um título da dívida pública dos EUA no valor de 100 dólares. O local tem mais de 350.000 jovens nesta faixa etária, e o governo estima que gastará cerca de 28 milhões de dólares com a iniciativa.
Em Detroit, no estado do Michigan, quem convencer outra pessoa a se vacinar ganha um cartão pré-pago com 50 dólares — no melhor estilo "indique um amigo" das promoções comerciais.
No Alabama, um dos estados com menor taxa de vacinação, quem se vacinar ou aceitar ser testado em um evento do governo neste mês poderá ter a experiência de dirigir seu carro em uma pista da Nascar, categoria de automobilismo dos EUA. Em Memphis, no Tennessee, os vacinados também entram em um sorteio para ganhar um carro zero quilômetro de sua escolha.
Estados com a vacinação mais adiantada têm sido menos generosos nos brindes, mas ainda assim há vantagens levadas a cabo pelos governos locais. Em Nova Jersey, quem se vacinar ganha um copo de cerveja grátis (apenas para os maiores de 21 anos, idade a partir da qual passa a ser permitido beber nos EUA). Os vacinados em Connecticut também ganham um drink grátis.
Quem se vacinou na cidade de Nova York neste fim de semana pode concorrer a ingressos grátis dos Yankees e dos Mets, times de beisebol da cidade, e um passe livre e ilimitado para o metrô por sete dias. A rede de fast food Shake Shack também ofereceu batatas grátis aos vacinados. Já Chicago terá uma série de shows gratuitos que só serão abertos a quem se vacinar. E a lista segue.
Os jovens têm se mostrado um grupo mais difícil de convencer, uma vez que não se sentem tão ameaçados pela covid-19 quanto os mais velhos, segundo as pesquisas. Entre os idosos, a taxa de vacinação é maior e supera 85% entre os acima de 65 anos nos EUA.
Pesquisadores também começam a traçar algum paralelo entre divergências políticas e a confiança na vacinação. Os estados tidos como mais progressistas têm, por ora, maior taxa de vacinados.
Pesquisa do jornal Washington Post e da emissora ABC em abril mostrou que, dos mais de 100 milhões de americanos que ainda não haviam se vacinado até então, metade pretendia não fazê-lo. A maioria neste grupo era de americanos jovens e eleitores do Partido Republicano, do ex-presidente Donald Trump. Entre os jovens democratas, a taxa dos que não pretendiam se vacinar foi de somente 12%.
De todos os "subornos" possíveis para aumentar o número de vacinados, as estimativas indicam que a aposta de Ohio tende a ser mais barata do que parece: o custo dos sorteios de 1 milhão de dólares deve ficar entre cerca de 5 dólares por pessoa vacinada no estado, muito mais barato do que os 100 dólares por pessoa na Vírgina Ocidental.
Apesar disso, o governador republicano Jim Justice disse à ABC que o montante ainda vale mais a pena do que os 75 milhões de dólares gastos para testar pessoas no último ano.
No Brasil, a EXAME mostrou que só o custo para internar pacientes ao longo de parte do ano passado seria suficiente para comprar imunizantes para toda a população. Em todos os espectros políticos, a vacina seguirá sendo o melhor investimento.
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