França: Esquerda enfrenta impasse para nomear primeiro-ministro após vitória sem maioria; vetos de Macron e Le Pen complicam o cenário (François WALSCHAERTS/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 12 de julho de 2024 às 18h46.
A Nova Frente Popular (NFP), aliança da esquerda francesa que conquistou o maior número de assentos nas eleições parlamentares, mas sem maioria absoluta, ainda não conseguiu chegar a um acordo sobre quem será seu candidato a primeiro-ministro. O grupo — que inclui ambientalistas, socialistas, comunistas e a esquerda radical — havia anunciado que apresentaria um nome até esta sexta-feira, mas voltou atrás, admitindo o impasse que mantém o país em um limbo político.
Justiça da França abre investigação sobre financiamento da campanha presidencial de Le Pen em 2022"Prefiro não estabelecer um prazo", disse Manuel Bompard, coordenador do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI, em francês), ao canal TF1, observando que "talvez seja necessário mais tempo".
Segundo ele, as negociações podem se estender até 18 de julho, o dia da primeira sessão da Assembleia Nacional.
"Não é porque a questão do primeiro-ministro ainda não foi decidida que não houve progresso", disse a líder dos Verdes, Marine Tondelier. "É normal que leve um pouco de tempo".
Uma fonte dos socialistas disse que o LFI propôs quatro nomes, incluindo o ex-candidato à Presidência Jean-Luc Mélenchon, que já entrou em embates com o presidente Emmanuel Macron e provoca dúvidas entre as forças.
Os socialistas estão apostando no líder do partido, Olivier Faure, que, segundo eles, seria aceito como primeiro-ministro por uma ampla gama de parlamentares, da esquerda à centro-direita.
"Faure ou Mélenchon? Essa é a verdadeira questão", disse uma autoridade socialista sênior, falando sob condição de anonimato à AFP.
Desde que o presidente Macron antecipou as eleições legislativas na esteira da vitória da extrema direita francesa na votação para o Parlamento Europeu, o país vive um cenário de indefinição política. Em mais de 300 distritos, a centro-direita macronista e a frente de esquerda se uniram para barrar a extrema direita, representada pelo partido da deputada Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional (RN), que aparecia em primeiro em quase todas as pesquisas de intenção de voto, com chances de obter a maioria absoluta.
Ao final, a Nova Frente Popular (NFP) conquistou 193 assentos; a centro-direita macronista 164; e a extrema direita, 143 — nenhum com a maioria absoluta de 289 deputados.
Nesta semana, Macron disse, em uma carta à nação, que "ninguém venceu as eleições", e pediu a formação de uma "ampla coalizão" no Parlamento que inclua o centro, a direita e a esquerda, mas não o RN ou o LFI — que durante toda campanha foram equiparados pelo líder centrista como dois "extremos".
A proposta, no entanto, ignora que dentro da aliança esquerdista, foi justamente A França Insubmissa que conquistou a maior parte dos assentos. Por outro lado, parte do tradicional partido de direta Republicanos se fragmentou durante as eleições e se uniu à extrema direita em alguns distritos, seguindo a orientação do presidente da sigla, Éric Ciotti.
Marine Le Pen, que já anunciou que liderará a bancada do RN no Parlamento, advertiu que seu grupo apresentaria uma moção de censura contra qualquer governo que incluísse ministros do LFI ou dos Verdes.
A ameaça contra o LFI foi reiterada por várias lideranças do bloco centrista, incluindo o atual primeiro-ministro, Gabriel Attal — que voltou atrás no seu pedido de renúncia após as eleições a pedido do presidente, visando a "estabilidade" do país durante os Jogos Olímpicos, que acontecerão em Paris de 26 de julho a 11 de agosto. Nesta sexta-feira, Attal se comprometeu a "proteger os franceses de qualquer governo que inclua ministros do RN ou do LFI".
Na prática, para um primeiro-ministro ser eleito na França não é necessário a aprovação pela maioria do Parlamento. O nomeado só não pode sofrer uma "moção de desconfiança", ou seja, a rejeição por ao menos 289 deputados. A dificuldade no cálculo político se dá, em parte, porque o veto da extrema direita somado ao da centro-direita ao LFI chegaria a 307 votos.
Com isso, o país veria o mesmo macronismo que se uniu à esquerda para afastar a extrema direita votando junto com a extrema direita para barrar a esquerda radical, que foi a sigla mais votada dentro da aliança vencedora.
O sindicato CGT, o maior da França, conclamou a população a ir às ruas em 18 de julho, dia da primeira sessão da Assembleia Nacional, "para que o resultado das eleições seja respeitado".