Retrato do chefe da Al Qaeda Ayman al-Zawahiri: dirigentes históricos do grupo continuam sendo perseguidos sem trégua (AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 07h58.
Washington - Os gritos de vitória lançados após a morte de Osama Bin Laden foram prematuros, e a rede islâmica Al Qaeda, com um papel preponderante na guerra síria, é hoje mais forte e perigosa do que nunca - avaliam especialistas e autoridades nos Estados Unidos.
Sobreviventes da campanha de eliminação lançada por Washington com aviões não tripulados (ou "drones"), os dirigentes históricos do grupo continuam sendo perseguidos sem trégua na região entre o Paquistão e o Afeganistão.
O movimento se reforçou, conquistou mais adeptos no Oriente Médio e na África e continua ameaçando a Europa e os Estados Unidos - afirmam os analistas.
Para o general da reserva James Mattis, que dirigiu de 2010 a 2013 o Comando Central americano, responsável pela proteção dos interesses de segurança dos Estados Unidos no Oriente Médio e no Sudeste Asiático, "as comemorações feitas há dois anos, depois que foi anunciada a morte da Al Qaeda (em consequência do fim de Bin Laden), foram prematuras e, hoje, ficaram desacreditadas".
Em uma intervenção durante um colóquio organizado pela Jamestown Foundation, em dezembro de 2011, ele afirmou: "A Al-Qaeda é forte, adapta-se. Seus dirigentes foram duramente atingidos, mas o movimento continua se expandindo. Possui uma quantidade crescente de santuários".
Em 2011, em meio à euforia após a eliminação de Bin Laden por uma força especial americana no Paquistão, uma das questões discutidas no mesmo encontro era: quando e como cantar vitória contra a Al-Qaeda?
Hoje, oficiais e especialistas são bem mais pessimistas.
Consultada no início de dezembro, a senadora Dianne Feinstein, presidente da Comissão de Inteligência do Senado, declarou que "o terrorismo está em alta no mundo". Segundo ela, "as estatísticas mostram isso, a quantidade de vítimas aumenta. Há mais grupos, mais radicais, mais jihadistas determinados a matar para alcançar seus objetivos".
Para o especialista Bruce Hoffman, da Georgetown University, o "oxigênio que alimenta a Al-Qaeda é sua forma de chegar a santuários e zonas, nas quais pode operar. E, infelizmente, nos últimos dois anos, foi capaz de se instalar em muitos lugares que não têm governo, ao longo de fronteiras em disputa, ou em países difíceis de controlar".
Para o movimento jihadista internacional, a guerra civil em curso na Síria é uma oportunidade que, para os panelistas no colóquio, não se via desde a insurreição antissoviética no Afeganistão.
"Os grupos afiliados à Al-Qaeda criaram na Síria uma aliança que conta com cerca de 45 mil combatentes, ou seja, o dobro da quantidade de combatentes do que no Afeganistão", comentou o australiano David Kilcullen, especialista em movimentos insurrecionais, recomendando um comando americano no Iraque.
"A Al-Qaeda se reforça em todas as frentes. Seu comando foi enfraquecido, mas não foi eliminado", acrescentou.
A presença de centenas de voluntários oriundos da Europa e de outros países ocidentais entre as fileiras de islamitas radicais na Síria é um tema que gera grande preocupação.
"Com o treinamento que recebem na Síria, há uma forte possibilidade de que, no decorrer dos próximos dois anos, estejam em condições de cumprir o último desejo de Osama Bin Laden de preparar um ataque como o de Mumbai, só que na Europa", acrescentou Hoffman.
Outro fator de fortalecimento do movimento jihadista foi o rumo tomado pelos eventos recentes nos países varridos pela Primavera Árabe.
"As teses da Al-Qaeda foram questionadas pela Primavera Árabe", explicou Bruce Riedel, ex-membro influente da CIA e que hoje integra a prestigiada Brookings Institution.
"A mudança não chegou por meio do terror, mas pelo Twitter. Hoje, tudo mudou. As teses da Al-Qaeda foram validadas em 2013, sobretudo, no Egito. A contrarrevolução triunfou, o Exército derrubou o governo eleito (...) Para os que querem se aliar ao movimento jihadista, os acontecimentos no Cairo e em Damasco validam o que a organização sempre pregou: a Jihad é a única solução para os problemas ligados às mudanças no mundo árabe de hoje".
"A expansão da Al-Qaeda, a que assistimos no mundo árabe, é realmente fenomenal, superior ao que vimos durante a primeira década de sua existência", concluiu.