"Não parece razoável que países tão potentes como o Brasil fiquem sem um acordo preferencial quando seus países irmãos da América Latina foram capazes de avançar no tema", declarou José Manuel García-Margallo (Congreso de la República de Perú/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2012 às 13h34.
Luxemburgo - O ministro de Relações Exteriores e Cooperação da Espanha, José Manuel García-Margallo, apresentou nesta segunda-feira aos países da União Europeia (UE) a possibilidade de o bloco continuar a negociação de um acordo de associação com o Mercosul sem a Argentina, após a decisão do governo de Cristina Kirchner de expropriar a companhia petrolífera YPF.
"É algo que nós e os países do Mercosul temos que estudar", declarou García-Margallo em entrevista coletiva, após participar de um Conselho de Ministros de chanceleres da UE em Luxemburgo.
García-Margallo debateu hoje com outros ministros de Relações Exteriores europeus a desapropriação de 51% das ações da YPF pertencentes à companhia espanhola Repsol por parte do governo argentino, e na reunião foram abordadas as possibilidades de resposta da União Europeia.
Além das medidas propostas pelo Parlamento Europeu na semana passada, como reivindicações na Organização Mundial do Comércio (OMC) e a exclusão da Argentina do Sistema Geral de Preferências (SGP, de vantagens tarifárias) antes de janeiro de 2014, García-Margallo afirmou que "deveria haver uma reflexão" sobre a negociação com o Mercosul.
O ministro espanhol ressaltou que a possibilidade de continuar os debates sem a Argentina está "aberta", e lembrou o "precedente" aberto com o avanço na negociação de um tratado de livre-comércio apenas com Peru e Colômbia após a UE constatar a impossibilidade de conseguir um completo acordo de associação com a Comunidade Andina de Nações (CAN).
"É provável que isso seja uma solução, que interesse ao Brasil, que interesse ao Uruguai, ao Paraguai", cogitou, acrescentando que a medida poderia "desbloquear a negociação" com o Mercosul "para que todo o bloco não fique paralisado pelo lento progresso de um país, a Argentina, que parece que neste momento escolheu uma via original na América Latina".
"Não parece razoável que países tão potentes como o Brasil fiquem sem um acordo preferencial quando seus países irmãos da América Latina foram capazes de avançar no tema", declarou, citando os acordos com Peru, Colômbia e Chile.
O chanceler espanhol indicou ainda que tanto os integrantes do bloco europeu como os do Mercosul deverão se pronunciar logo sobre o assunto.
Em todo caso, García-Margallo defendeu que as partes cheguem a uma solução negociada no caso da YPF, e pediu aos parceiros da Espanha na UE e aos países latino-americanos "que sirvam de ponte neste tema para evitar um litígio" que considera ruim para todos.