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Escândalos e impostos afastam os alemães das igrejas

Os impostos e os escândalos que afetam a igreja cristã alemã afastam os fiéis, mostra relatório

Igreja na Alemanha: 179 mil católicos deixaram de ser crentes durante 2013 (Getty Images)

Igreja na Alemanha: 179 mil católicos deixaram de ser crentes durante 2013 (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2014 às 10h16.

Berlim - Os impostos e os diversos escândalos que afetam a igreja cristã alemã afastam os fiéis, segundo revela o relatório que a Conferência Episcopal Alemã (DBK) realiza todos os anos sobre a situação em suas dioceses.

Cerca de 179 mil católicos deixaram de ser crentes durante 2013, o que significou 60 mil a mais do que no ano anterior, quando menos de 120 mil pessoas abandonaram a igreja.

Isto fez com que o saldo total de católicos na Alemanha caísse de 30,3% a 29,9%, com cerca de 24,2 milhões fiéis recenseados.

O número é especialmente chamativo porque remonta aos níveis de 2010, quando deixaram a igreja mais de 181 mil pessoas no que foi o pior dos últimos 20 anos, e rompe com dois anos consecutivos nos quais esta evolução tinha decrescido.

A ascensão das baixas na Igreja Católica coincidiu agora com o escândalo do bispo da diocese de Limburgo (oeste), Franz-Peter Tebartz-van Elst, que gastou 40 milhões de euros em sua nova residência episcopal frente aos 5,5 milhões de orçamento inicialmente previstos.

Perante o alvoroço causado no país, Tebartz foi afastado de seu cargo temporariamente até que em 26 de março o papa Francisco aceitou definitivamente sua renúncia.

Questionada sobre este ponto pela Agência Efe, a Conferência Episcopal alemã se referiu ao comunicado enviado por seu presidente, o arcebispo de Munique, Reinhard Marx, quando o resultado foi anunciado.

Então, Marx reconhecia que os números mostrados pelo estudo eram "dolorosos" e que deveriam ser levados a "sério", ao mesmo tempo em que encorajava os membros da Igreja Católica a enfrentar este "desafio".

"Devemos assumir o alto número de baixas, de modo que voltemos a recuperar a confiança em todos os níveis através de um trabalho bom e convincente" escreveu Marx.

No entanto, segundo afirmou nesta semana a imprensa alemã, não só os escândalos põem em risco o número de fiéis, mas aponta a nova regulamentação dos impostos eclesiásticos como uma dor de cabeça para as igrejas católica e evangélica do país.

Este "imposto eclesiástico" é pago pelos contribuintes registrados como crentes em uma das duas igrejas, o que equivale a 9% de seu salário.

Até agora, a retenção não era automática, mas era cada contribuinte que devia fazê-la efetiva, o que não acontecia em muitos casos.

Por isso, uma nova regulação obrigará que a partir de 1º de janeiro a taxa seja retida diretamente extraída dos rendimentos, medida que originou alguns protestos e teme-se que origine uma nova leva de baixas.

Segundo publicaram os meios de comunicação alemães, alguns membros eclesiásticos temem que o novo sistema de arrecadação possa ser confundido com uma suposta "cobiça insaciável" por parte das autoridades religiosas.

Estes impostos reportaram em 2013 cerca de 5,4 bilhões de euros à igreja católica, enquanto a evangélica obteve pouco mais de 4,84 bilhões de euros.

A igreja evangélica, da qual ainda não há números oficiais, contava em 2012 com mais de 23,35 milhões de membros, ano no qual perdeu mais de 138 mil fiéis, apesar deste número obedecer a uma tendência descendente no número de baixas, desde que em 2008 foi registrado um pico de quase 169 mil indivíduos desvinculados da igreja.

Apesar destes números, o porta-voz da Igreja Evangélica Alemã (EKD) Carsten Splitt, manifestou à Agência Efe que, segundo seus estudos, "uma grande parte dos membros tem um grande afeto por sua igreja", embora tenha admitido que a mudança nos impostos "pode ter um efeito no curto prazo" no número de baixas.

O representante da EKD reconheceu que "cada renúncia dói e comove a igreja e as dioceses", ao mesmo tempo em que lamentou que os escândalos de outras confissões possam afetar também a confiança dos membros da igreja evangélica.

No entanto, Splitt lembrou que a "Alemanha é um país marcadamente cristão" como demonstra uma pesquisa de 2012, em que 62% da população se declarou membro de uma igreja desta religião.

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