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Escândalo envolvendo abuso sexual infantil joga Islândia em crise

Islândia caminha para uma nova eleição legislativa, a segunda em cerca de um ano, com o fim do governo mais jovem da sua história. Entenda

Primeiro-ministro da Islândia, o conservador Bjarni Benediktsson: político é acusado de tentar acobertar escândalo que envolvia seu pai (Geirix/Reuters)

Primeiro-ministro da Islândia, o conservador Bjarni Benediktsson: político é acusado de tentar acobertar escândalo que envolvia seu pai (Geirix/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 18 de setembro de 2017 às 12h56.

São Paulo – A Islândia caminha para uma nova eleição legislativa, a segunda cerca de um ano, depois que um escândalo envolvendo um antigo e famoso caso de abuso sexual infantil levou o governo ao colapso no final da semana passada e mergulhou o país em mais uma crise política.

O pleito, anunciou nesta segunda-feira o presidente Guðni Th. Johannesson, acontecerá no dia 28 de outubro. A decisão foi tomada depois de uma reunião com o primeiro-ministro conservador Bjarni Benediktsson, que pediu a dissolução do parlamento ao falhar em manter uma coalizão estável e capaz de controlar a maioria dos assentos.

As turbulências começaram na semana passada, quando uma carta assinada pelo pai de Benediktsson foi revelada pela imprensa. Nela, Benedikt Sveinsson pedia a restauração da reputação de um amigo pessoal e agressor sexual condenado, Hjalti Sigurjón Hauksson, que protagonizou um dos crimes mais horrendos da história da Islândia.

Em 2004, ele havia sido condenado pelas violências cometidas contra sua enteada, estuprada quase que diariamente por ele dos 5 aos 18 anos de idade. Hauksson foi preso, mas foi perdoado no mês passado junto com outro pedófilo, Robert Downey.

À luz da legislação da Islândia, pessoas que cumprem penas por crimes graves podem ter "a honra restituída" se cumprirem certas condições e uma delas é a apresentação de uma carta assinada por pessoas respeitadas na comunidade, tal qual a escrita por Sveinsson.

A libertação dos homens chocou o país e o público passou então a pressionar para que os autores das cartas fossem revelados, algo que não ocorreu. Os nomes só surgiram na semana passada em razão de uma decisão do comitê parlamentar que julgou que o governo estava violando leis de acesso à informação.

Assim que os nomes foram divulgados, veio à tona que Benediktsson sabia há meses do envolvimento do seu pai na libertação de Hauksson. Acusado de tentar acobertar o caso, o primeiro-ministro viu a frágil coalizão de centro-direita ir por água abaixo quando o partido Futuro Brilhante abandonou a aliança alegando a perda de confiança.

A coalizão se consolidou em janeiro e era ainda formada pelo Partido da Independência, que venceu as eleições em outubro passado, e o Partido Reformista. O grupo controlava 32 das 63 cadeiras do parlamento, das quais quatro eram do FB. Com apenas 9 meses de “vida”, este é agora o governo mais curto da história da Islândia.

Essa, no entanto, não é a única crise política que assolou as instituições do país nos últimos meses. Em abril de 2016, o então primeiro-ministro Sigmundur David Gunnlaugsson renunciou ao cargo ao ver seu nome ligado ao escândalo dos Panama Papers, um vazamento gigantesco de informações sobre o envolvimento de líderes políticos e celebridades com paraísos fiscais.

 

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