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Erdogan reclama de lei francesa sobre genocídio armênio

Primeiro-ministro turco disse que a lei que proíbe a negação sobre o massacre de armênios é discriminatória

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan: país não reconhece o genocídio de armênios (Adem Altan/AFP)

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan: país não reconhece o genocídio de armênios (Adem Altan/AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2012 às 15h21.

Ancara - A lei aprovada pelo Parlamento francês que pune a negação do genocídio armênio durante o Império Otomano é "discriminatória" e "racista", declarou nesta terça-feira o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, denunciando um "massacre da liberdade de pensamento".

"O projeto (de lei) adotado na França é discriminatório e racista", declarou Erdogan no Parlamento turco. O Parlamento francês adotou definitivamente na segunda-feira, depois de uma última votação no Senado, um projeto de lei que pune com um ano de prisão e uma multa a negação do genocídio armênio, um termo rechaçado pela Turquia.

Erdogan afirmou que esta lei é completamente nula e sem valor para a Turquia e afirmou que seu país imporá "etapa por etapa" as sanções contra a França que havia anunciado, "sem voltar atrás".

"Vamos anunciar nosso plano de ação em função da evolução deste tema", advertiu, afirmando que "a Turquia ainda está em uma etapa de paciência".

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, que propôs este projeto de lei que provocou uma grave crise entre Ancara e Paris, tem a princípio quinze dias para promulgá-lo.

O chefe de governo turco, que em seu discurso utilizou em relação a Paris um tom mais moderado do que o esperado, manifestou a esperança de que a França "corrija seu erro" e criticou as ambições de Sarkozy às vésperas da eleição presidencial francesa de maio para seduzir um eleitorado de origem armênia e não a França em geral, aliada de Ancara na Otan e sócia estratégica, comercial e política.

O presidente turco, Abdullah Gul, disse, por sua vez, que espera que "sessenta senadores franceses ajam" para anular o texto, e advertiu que se este for promulgado "certamente as relações entre turcos e franceses não serão as mesmas".


No momento, o embaixador da Turquia na França permanece em seu posto, mas Ancara, que o convocou brevemente para consultas após uma primeira votação dos deputados franceses em 22 de dezembro, pretende desta vez retirar o diplomata e reduzir seu nível de representação na França quando o texto ganhar poder de lei, frisou uma fonte ligada à questão.

Depois da votação em primeira instância, Ancara anunciou o congelamento da cooperação político-militar com a França e ameaçou com uma segunda onda de retaliações.

Um partido nacionalista turco convocou manifestações para esta terça-feira diante da embaixada da França em Ancara e do consulado francês em Istambul para criticar a votação. "O genocídio armênio é uma mentira imperialista", estava escrito em uma faixa.

Frente a essas reações, o chanceler francês, Alain Juppé, pediu "sangue frio" à Turquia.

A Armênia, principal interessada, agradeceu à França: "É um dia histórico para os armênios no mundo inteiro", comemorou o presidente Serge Sarkisian em uma carta enviada a Sarkozy.

Mas o Azerbaijão, país em conflito com a Armênia pela região do Alto Karabaj, e a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), dirigida por um turco, rejeitaram o texto que pune com um ano de prisão e 45.000 euros de multa a negação de todos os genocídios reconhecidos pela França, entre eles o dos armênios.

A Turquia rejeita o termo genocídio, embora reconheça que houve massacres e que cerca de 500.000 armênios morreram na Anatólia entre 1915 e 1917, sob o Império Otomano. Os armênios dizem que houve 1,5 milhão de mortos.

* Matéria atualizada às 15h04

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