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Erdogan luta contra "vírus" golpista na Turquia

Seis mil militares foram detidos preventivamente, enquanto cerca de três mil mandatos de prisão foram expedidos contra juízes e procuradores


	Apoiadores do presidente da Turquia, Tayyip Erdogan: golpe frustrado deixou pelo menos 290 mortos
 (Chris McGrath/Getty Images)

Apoiadores do presidente da Turquia, Tayyip Erdogan: golpe frustrado deixou pelo menos 290 mortos (Chris McGrath/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2016 às 18h00.

São Paulo - O regime do presidente Recep Tayyip Erdogan começou a enterrar seus "mártires" neste domingo, dois dias após a tentativa frustrada de golpe militar, enquanto intensificou sua luta contra o "vírus" golpista, atraindo para a Turquia os olhares da comunidade internacional.

Seis mil militares foram detidos preventivamente, enquanto cerca de três mil mandatos de prisão foram expedidos contra juízes e procuradores, após o golpe frustrado que deixou pelo menos 290 mortos, segundo um novo balanço oficial, divulgado na noite deste domingo, entre os quais mais de cem golpistas.

O presidente Erdogan evocou neste domingo o possível restabelecimento da pena de morte na Turquia, oficialmente abolida em 2004 no contexto da candidatura de adesão de Ancara à União Europeia, diante de uma multidão de simpatizantes, que repetiam: "nós queremos a pena de morte".

"Nós ouvimos a solicitação de vocês", respondeu o chefe de Estado. "Nosso governo vai discuti-la com a oposição e uma decisão será tomada, sem dúvida nenhuma", afirmou, em Istambul.

Centenas de generais, juízes e promotores foram presos em toda a Turquia por seu suposto apoio à tentativa de derrubar o regime, no que parece ser uma vasta purga após o fracassado golpe de Estado.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan garantiu que irá "eliminar o vírus" no Estado após o golpe.

"A grande limpeza continua", declarou, por sua vez, o ministro da Justiça, Bekir Bozdağ, citado pela agência Anadolu sobre as prisões em curso. "Há cerca de 6.000 pessoas sob custódia", informou.

O governo já havia anunciado no sábado a prisão de cerca de 3.000 soldados por suposto envolvimento na tentativa de derrubar Erdogan na sexta-feira. O golpe foi abortado no sábado de manhã, depois de uma noite de violência que deixou centenas de mortos em Ancara e Istambul.

O ministro dos Assuntos Europeus, Omer Celik, apelou neste domingo no Twitter os turcos - mobilizados em massa pelo regime para esta "vitória da democracia" - para que permaneçam nas ruas.

Uma oração será feita em memória de todos os "mártires" neste domingo em 85.000 mesquitas do país.

A imprensa aclamava de forma unânime o fracasso do golpe, comemorado no dia anterior por milhares de turcos, especialmente em Istambul, Ancara ou Izmir.

O jornal pró-governamental Sabah falou de uma "epopeia democrática", enquanto o jornal Habertürk lembrou que os quatro partidos representados no Parlamento assinaram uma declaração conjunta no sábado, numa rara atitude de consenso.

Mas o jornal de oposição Cumhuriyet expressou preocupação com a brutalidade nas ruas, exibindo a imagem de um homem açoitando com um cinto soldados que se renderam sobre a Ponte do Bósforo, enquanto vários casos de linchamento, com pelo menos uma morte, foram relatados.

Ofensiva do governo

Depois de advertir os rebeldes de que eles "pagariam um preço alto", o governo lançou uma ampla ofensiva em toda a Turquia, onde 3.000 soldados, dezenas de generais, juízes e promotores foram presos, segundo informou a imprensa.

Esta purga, que começou imediatamente após o fracasso do golpe, tem provocado preocupação no exterior.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lembrou a Turquia da "necessidade vital" de que todas as partes interessadas "atuem no âmbito do Estado de Direito".

O chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, declarou, neste sentido, que a tentativa de golpe não é "um cheque em branco" para o presidente turco. "Queremos que o Estado de Direito funcione plenamente na Turquia", afirmou na televisão francesa.

Já o presidente russo, Vladimir Putin, telefonou neste domingo a Erdogan e desejou um rápido retorno à estabilidade.

De acordo com a televisão NTV, 34 generais foram presos até agora. Entre eles estaria Erdal Ozturk, comandante do Terceiro Exército, e Adem Huduti, comandante do Segundo Exército.

Além deles, um militar graduado da Aeronáutica, o general Bekir Ercan Van, e uma dúzia de oficiais, foram presos na base aérea de Incirlik (sul), utilizada pela coalizão internacional para seus ataques contra os extremistas na Síria.

Uma autoridade turca indicou à AFP que Ancara suspeita que a base de Incirlik, que permanecia fechada neste domingo, foi utilizada para o reabastecimento de aviões de combate utilizados pelos golpistas sexta à noite.

A limpeza não se limita às Forças Armadas, a agência Anadolu relatou que mandados de prisão foram emitidos contra 2.745 juízes e promotores em toda a Turquia. Mais de 500 foram presos, segundo a televisão NTV.

O número total de prisões era difícil de estimar, mas a agência Dogan informou que 44 juízes e promotores foram presos durante a noite na cidade de Konya (centro) e 92 na de Gaziantep (sudeste).

A investigação sobre o golpe foi confiada aos promotores de Ancara e as pessoas detidas são suspeitas de ligações com o imã exilado nos Estados Unidos Fethullah Gulen.

Acusado por Erdogan de tramar a tentativa de golpe, o clérigo negou veementemente qualquer envolvimento na ação frustrada e chegou a sugerir que a tentativa de golpe teria sido orquestrada pelo próprio presidente.

O presidente Erdogan pediu a extradição de seu inimigo a Washington, enquanto o ministro do Trabalho Suleyman Soylu foi mais longe. "Por trás deste golpe, existem os Estados Unidos. Os Estados Unidos têm a obrigação de nos entregar Fethullah Gulen", ressaltou.

Neste contexto, Erdogan deverá se reunir na primeira semana de agosto com Vladimir Putin, segundo anunciou neste domingo a agência Anadolu. O encontro será o primeiro entre os dois chefes de Estados desde a crise bilateral em novembro quando um caça russo foi abatido pela Turquia perto da fronteira síria.

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