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Equipe de Trump rejeita temores sobre recessão e inflação e adota tom desafiador sobre tarifas

Apesar de temores do mercado, equipe econômica do republicano prevê "boom econômico" após tarifas

Presidente dos EUA, Donald Trump, exibe ordem executiva assinada por ele que impõe tarifaço global  (Foto: SAUL LOEB / AFP)

Presidente dos EUA, Donald Trump, exibe ordem executiva assinada por ele que impõe tarifaço global (Foto: SAUL LOEB / AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 6 de abril de 2025 às 19h44.

Os principais assessores econômicos do presidente Donald Trump minimizaram os temores dos investidores sobre inflação e recessão, não pediram desculpas pela turbulência nos mercados provocada pelas amplas tarifas globais e insistiram, de forma desafiadora, que um "boom econômico" está no horizonte.

Após fortes quedas nos mercados de ações ao redor do mundo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e outros, se posicionaram firmemente neste domingo, 6, e declararam que Trump manterá sua agenda tarifária, independentemente da reação dos mercados.

“As tarifas estão chegando”, disse Lutnick no canal CBS, acrescentando que Trump “anunciou isso e não estava brincando”.

“Não vejo razão para precificarmos uma recessão”, disse Bessent na NBC, apesar de economistas do JPMorgan afirmarem na sexta-feira que agora esperam que os EUA entrem em recessão ainda este ano.

Enquanto Trump publicava vídeos jogando golfe na Flórida, Peter Navarro, um dos assessores mais próximos do republicano para assuntos comerciais, disse que os investidores deveriam acreditar na determinação de Trump, mesmo que os níveis das tarifas mudem ao longo das negociações.

Já Bessent afirmou que mais de 50 países já haviam contatado o governo, mas que qualquer negociação levará tempo. “Eles têm sido maus atores por muito tempo. E não é o tipo de coisa que se negocia em dias ou semanas”, disse Bessent. Os EUA precisarão primeiro determinar se as ofertas de outros países são “críveis”.

“Vamos ter que ver qual é o caminho. Porque, veja, depois de 20, 30, 40, 50 anos de má conduta, não dá pra simplesmente passar uma borracha.”

Em uma publicação nas redes sociais no sábado, Trump incentivou seus seguidores: “AGUENTEM FIRME, não será fácil, mas o resultado final será histórico.”

Bessent, ex-gestor de fundo que construiu sua fortuna com o Key Square Group e na Soros Fund Management, minimizou o estrago nos mercados, que descreveu como “animais orgânicos”.

“O mercado subestima constantemente Donald Trump”, afirmou.

Menos otimismo

Navarro previu que a atual queda nos mercados de ações eventualmente se transformará em uma forte recuperação. “Vamos encontrar um fundo rapidamente neste mercado”, disse ao programa Sunday Morning Futures, da Fox News. “Vamos bater 50 mil no Dow com facilidade até o fim deste mandato.”

Fora do governo Trump, outros demonstraram menos otimismo. O ex-secretário do Tesouro Larry Summers disse que a queda da semana passada foi o quarto maior movimento em dois dias desde a Segunda Guerra Mundial, atrás apenas do crash de 1987, da crise financeira de 2008 e da pandemia de Covid em 2020.

“Uma queda dessa magnitude sinaliza que há problemas à frente, e as pessoas deveriam ser muito cautelosas”, disse Summers, professor da Universidade de Harvard, em uma postagem na rede X.

Os comentários da equipe de Trump vieram um dia após a entrada em vigor de uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações dos EUA no sábado. Tarifas específicas de até 50% estão programadas para entrar em vigor na quarta-feira sobre importações de cerca de 60 países. As tarifas anunciadas levarão os impostos de importação dos EUA ao seu nível mais alto em mais de um século.

Preços devem subir

Kevin Hassett, chefe do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, reconheceu que os preços ao consumidor nos EUA “podem subir um pouco”, mas sugeriu que a preocupação entre economistas, o Federal Reserve e alguns parlamentares estava sendo exagerada.

Falando na ABC, Hassett também disse que os americanos eventualmente se beneficiarão com os cortes de impostos e gastos que Trump pretende aprovar no Congresso. Tanto Bessent quanto Hassett minimizaram as preocupações de que a onda tarifária vá alimentar a inflação, abrindo espaço para um embate contínuo com o Federal Reserve e economistas de Wall Street.

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse na sexta-feira que está “ficando claro que o aumento das tarifas será significativamente maior do que o esperado”, o que provavelmente levará a uma inflação mais alta e crescimento mais lento.

As declarações unificadas dos principais assessores econômicos de Trump neste domingo reforçaram a percepção de que o presidente pretende tornar as tarifas uma medida permanente, vendo qualquer dor econômica como um preço a se pagar por uma transformação de longo prazo da economia americana.

Trump acredita no esforço tarifário e o vê como parte de seu legado de reindustrialização dos EUA, segundo um funcionário do governo. Trump queria fazer isso no primeiro mandato e nunca conseguiu, e trata-se de uma convicção que ele defende desde os anos 1980, disse a fonte.

O mesmo funcionário acrescentou que, considerando o escopo e a escala do que a Casa Branca anunciou, a reação do mercado poderia ter sido pior.

Agenda em risco

Trump afirmou que está se movendo para remodelar a economia global em benefício dos EUA, argumentando que as tarifas estimularão uma onda de investimentos, com empresas construindo novas fábricas nos EUA, trazendo empregos e riqueza de volta ao país.

O principal alvo de sua indignação é o déficit comercial dos EUA em bens, que superou US$ 1 trilhão no ano passado. Eliminar esse déficit, dizem Trump e sua equipe, é uma prioridade de segurança nacional e vai “tornar a América rica novamente.”

Marc Short, que atuou como diretor de assuntos legislativos no primeiro mandato de Trump e depois como chefe de gabinete do vice-presidente Mike Pence, disse que os mercados assumiram que Trump usaria as tarifas como ferramenta de barganha, como na primeira administração. Mas, desta vez, Trump tem ouvido conselhos diferentes.

Short, que assim como Pence não apoia as tarifas, disse em entrevista no sábado que espera uma “capitulação” eventual do governo em resposta aos mercados. “Mas não acho que será em breve,” afirmou. “E quando acontecer, será apresentada como uma vitória.”

Como evidência, Short apontou o anúncio de Trump na sexta-feira de que pode conversar em breve com o líder do Vietnã sobre um acordo para reduzir barreiras comerciais. O Vietnã, que foi alvo de uma tarifa de 46%, ofereceu no fim de semana remover todas as tarifas sobre importações dos EUA.

Short também afirmou que uma possível recessão colocaria em risco outros elementos da agenda de Trump, incluindo as negociações no Congresso para estender os cortes de impostos do primeiro mandato, caso os republicanos enfrentem pressão dos eleitores sobre o aumento do custo de vida.

A busca por justificativas para as tarifas fez com que alguns funcionários do governo neste domingo tivessem que recorrer a explicações inusitadas.

Questionado sobre por que os EUA estavam impondo tarifas à Ilha Heard e às Ilhas McDonald — um território remoto entre a Austrália e a Antártida, habitado apenas por pinguins —, Lutnick citou Trump: “Olha, não posso deixar que nenhuma parte do mundo seja um ponto de entrada para a China ou outros países enviarem seus produtos.”

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