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Epidemia da síndrome de Paris atinge turistas chineses

Turistas de primeira viagem esperam uma cidade europeia pitoresca, rica e amigável, mas encontram metrôs lotados, garçons mal-educados e tentativas de furtos

Vista da Torre Eiffel, em Paris: cidade pode não ser tão amigável quanto parece (Mike Hewitt/Getty Images)

Vista da Torre Eiffel, em Paris: cidade pode não ser tão amigável quanto parece (Mike Hewitt/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2014 às 16h51.

Paris - Uma epidemia está afligindo os turistas chineses que vistam a capital francesa: a síndrome de Paris.

Assim como os japoneses, os chineses que visitam a cidade pela primeira vez – entusiasmados com relatos da mídia e filmes como “Sinfonia de Paris” e “O fabuloso destino de Amélie Poulain” – chegam esperando encontrar uma cidade europeia pitoresca, rica e amigável, com homens e mulheres elegantes que deixam um rastro de Chanel Nº 5.

Ao invés disso, eles descobrem o lado mais áspero de Paris – metrôs lotados, garçons mal-educados e tentativas de furtar os turistas com dinheiro na mão – que faz com que eles entrem num estado de choque psicológico.

Os chineses têm uma ideia romântica da França, conhecem a literatura francesa e as histórias de amor do país”, disse Jean-François Zhou, presidente da associação chinesa de agências de viagem da França. “Mas alguns terminam aos prantos, jurando que nunca mais vão voltar”.

Para a França, continuar atraindo os turistas chineses – a cada ano, cerca de um milhão deles visitam Paris – é fundamental para reanimar uma economia que estagnou no segundo trimestre, de acordo com as cifras divulgadas ontem pelo escritório nacional de estatísticas Insee.

O turismo foi responsável por 7,2 por cento do PIB da França em 2012, de acordo com a Conta Satélite de Turismo.

Agora, o boom de turistas chineses está começando a diminuir, em parte devido à relutância em gastar grandes quantias diante das medidas enérgicas anticorrupção do presidente Xi Jinping e em parte devido à preocupação com o que espera por eles em Paris, disse Zhou.

Compras em Paris

Os turistas chineses também contribuem para a economia como consumidores.

Em 2012, cerca de 60 por cento deles saíram de compras em Paris, de acordo com um relatório da secretaria de turismo da cidade, e adquiriram itens como bolsas Louis Vuitton e Chanel ou lenços Hermès.

Em média, eles gastaram 59 euros (US$ 79) por dia, um pouco mais do que os 56 euros desembolsados pelos japoneses e mais do que o dobro da média de 26 euros.

Como eles carregam grandes quantidades de dinheiro em espécie, os turistas chineses costumam ser alvo de furtos.

“Às vezes eles tentam comprar um sorvete com uma nota de 500 euros”, disse Zhou. Eles geralmente trocam grandes quantidades de yuan para restringir as taxas de câmbio, e o uso dos cartões de crédito não é tão comum na China quanto na Europa, disse.

A segurança é uma preocupação primordial para os chineses. Em 2012, Paris obteve excelentes avaliações de satisfação nos mais variados quesitos, da comida ao atendimento e aos eventos culturais.

Mas fracassou em duas categorias: segurança e limpeza. Esses dois aspectos tiveram níveis de satisfação de 58 por cento e 64 por cento, respectivamente, de acordo com uma pesquisa realizada pela Secretaria de Turismo de Paris.

“Não é só uma questão de segurança”, disse Michel Lejoyeux, diretor de psiquiatria do hospital Bichat, de Paris, em entrevista.

“Emoções excessivas, outro idioma, outra moeda: todas essas coisas fazem com que alguns turistas sintam que perderam o rumo próprio”, disse.

'Turistês'

Na verdade, os sentimentos relatados pelos visitantes de Paris não são exclusivos.

Lejoyeux indica a “síndrome de Florência”, descrita pelo romancista francês Stendhal no século 19, depois que ele ficou impressionado com a beleza do Davi de Michelangelo.

A “síndrome de Jerusalém” se refere às alucinações e aos eventos “místicos” que alguns visitantes experimentam na cidade sagrada.

A síndrome de Paris é diferente porque ocorre quando a realidade não corresponde às expectativas romantizadas. Os visitantes têm que enfrentar nativos antipáticos e profissionais do setor de turismo que nem sempre são acolhedores, disse Zhou.

Para mudar essa imagem, a Câmara de Comércio para o Turismo na região de Paris criou o programa “Você fala turistês?”, que oferece aos profissionais do setor capacitação on-line em idiomas e informações relativas às distintas nacionalidades.

Os chineses gostam de “um simples sorriso” e de “um ‘oi’ no idioma deles”, de acordo com o site.

No entanto, até agora os turistas chineses, como os japoneses antes deles, continuarão a enfrentar uma Cidade das Luzes que não tem o brilho da imagem idealizada que eles criaram.

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