De Mistura: as grandes potências, cada vez mais envolvidas no conflito, acordaram um cessar-fogo que deveria entrar em vigor nesta semana (Michael Dalder / Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2016 às 11h54.
O enviado da ONU para a Síria tentava nesta terça-feira, em Damasco, salvar o acordo de cessar-fogo entre o regime de Bashar al-Assad e grupos rebeldes, apesar da abertura de novos fronts com os bombardeios da Turquia contra posições curdas.
Na segunda-feira, cerca de 50 civis, incluindo várias crianças, morreram em bombardeios contra hospitais e escolas nas províncias de Idlib e Aleppo, no norte do país, segundo a ONU.
Um ataque condenado por União Europeia, França e Estados Unidos e que uma ONG atribui à Rússia.
No entanto, Moscou negou categoricamente ter participado desta ação e o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse nesta terça-feira que são acusações infundadas.
As grandes potências, cada vez mais envolvidas no conflito, no qual apoiam o regime ou a oposição, acordaram na sexta-feira um cessar-fogo que deveria entrar em vigor nesta semana, assim como o acesso da ajuda humanitária às cidades sitiadas.
Mas nos últimos dias o conflito ganhou em intensidade. Por um lado o regime intensificou sua ofensiva na província de Aleppo contra grupos islamitas e rebeldes da Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda.
Por outro lado, na mesma região a Turquia começou a bombardear com artilharia, a partir de seu território, as milícias curdas do outro lado da fronteira.
Além disso, um responsável turco disse que seu governo é favorável a uma operação terrestre na Síria, mas apenas se outros países participarem. "Não haverá uma operação unilateral da Turquia", afirmou.
No sábado a Turquia já havia dito que poderia realizar uma intervenção terrestre contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI) junto à Arábia Saudita.
Neste contexto cada vez mais complexo, o emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, se reuniu nesta terça-feira em Damasco com o ministro das Relações Exteriores, Walid Mouallem.
"Falamos em particular do acesso da ajuda humanitária a todas as regiões cercadas, não apenas pelo governo, mas também pela oposição e pelo grupo Estado Islâmico", afirmou Mistura, que anunciou novas reuniões durante o dia.
Auspiciadas pela ONU, as negociações de paz com representantes do regime e da oposição começaram no início de fevereiro em Genebra, mas foram suspensas poucos dias depois e Mistura espera retomá-las no dia 25.
Ofensiva do regime em Aleppo
"Se uma organização terrorista rejeita a trégua, quem a responsabilizará? Na prática falar (de trégua) é difícil", declarou nesta segunda-feira o presidente Assad, que classifica de terroristas todos os seus inimigos.
No dia 1º de fevereiro o regime lançou uma grande ofensiva na província de Aleppo, segundo Assad para bloquear as vias de abastecimento a partir da Turquia aos rebeldes que controlam vários bairros desta cidade de mesmo nome.
Se conseguir, o leste da cidade ficará isolado com milhares de pessoas em seu interior.
A ofensiva já levou milhares de civis a sair da zona e estão refugiados na fronteira turca, que até o momento segue fechada.
Preocupada pelo avanço das milícias curdas na Síria, a Turquia seguia nesta terça-feira pelo quarto dia consecutivo com seus ataques de artilharia contra posições curdas no norte de Aleppo.
De madrugada a artilharia turca bombardeou a cidade de Tall Rifaat, um reduto rebelde agora nas mãos dos curdos, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
As Unidades de Proteção do Povo (YPG), as milícias curdas na Síria, seguem avançando na província de Aleppo aproveitando a debilidade dos rebeldes diante da ofensiva do regime.
Os Estados Unidos, muito envolvidos no conflito porque lideram a coalizão contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI), pediram na segunda-feira que Rússia e Turquia evitem uma escalada.
A Rússia denuncia ações agressivas da Turquia na Síria e a acusa de "apoio direto ao terrorismo internacional".
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, respondeu acusando a Rússia de bombardeios "bárbaros" e "covardes" e advertiu que se ela prosseguir haverá "uma resposta extremamente decidida".
Desde que a guerra na Síria começou, em 2011, mais de 260.000 pessoas morreram e milhares de sírios fugiram do país.