Mundo

Entrevista de Sean Penn com El Chapo prejudica Peña Nieto

Poucas coisas deram certo para o presidente do México depois que ele transmitiu que forças de segurança tinham recapturado o traficante mais procurado do mundo


	O presidente do México, Enrique Peña Nieto: episódio degringolou em mais um possível constrangimento para o presidente
 (Alfredo Estrella/AFP)

O presidente do México, Enrique Peña Nieto: episódio degringolou em mais um possível constrangimento para o presidente (Alfredo Estrella/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2016 às 19h31.

Poucas coisas deram certo para o acuado presidente do México, Enrique Peña Nieto, depois que ele transmitiu ao mundo pelo Twitter na sexta-feira que suas forças de segurança máxima tinham recapturado o traficante de drogas mais procurado do mundo.

Em vez de servir como o tão necessário estímulo que parecia ser, o episódio degringolou em mais um possível constrangimento para o presidente, cuja popularidade sofreu com uma sequência de escândalos e com uma economia engasgada.

No sábado, poucas horas depois do tiroteio que levou à prisão de Joaquín “El Chapo” Guzmán, o ator Sean Penn disse ter entrevistado secretamente o traficante de drogas nas montanhas da região norte do México meses antes.

Essa revelação gerou críticas ao modo como o governo lidou com essa caçada humana e suscitou dúvidas sobre a possibilidade de grandes falhas do serviço de inteligência.

O México informou a Guzmán no domingo que está tomando medidas para extraditá-lo para os EUA, uma decisão que, embora diminua o risco de que ele escape da prisão pela terceira vez, também contradiz as promessas anteriores de mantê-lo no México como uma questão de soberania nacional. Nessa decisão está implícita a dúvida de que o governo mexicano consiga de fato mantê-lo preso, disse Andrew Selee, vice-presidente executivo do Woodrow Wilson International Center for Scholars.

“Não é uma ‘missão cumprida’”, disse Vanda Felbab-Brown, membro sênior da Brookings Institution em Washington, citando as palavras que Peña Nieto utilizou quando anunciou a notícia na sexta-feira. “É apenas um estilhaço dos enormes problemas da violência criminosa no México”.

Mais de 150.000 pessoas foram assassinadas no México desde que o país começou sua guerra contra os cartéis de drogas em dezembro de 2006 e cerca de 26.000 estão desaparecidas, de acordo com as Nações Unidas.

O encontro entre Penn e Guzmán em outubro representa um “problema grave”, disse Felbab-Brown, se o México só soube dele depois de o ator ter entrado no país. Autoridades de segurança disseram à mídia que o encontro ajudou a levá-las à zona rural do estado de Durango em outubro, onde atacaram Guzmán, embora não tenham conseguido capturá-lo. Não está claro se as autoridades sabiam do encontro com antecedência.

Penn está sendo investigado pela entrevista realizada para a revista Rolling Stone e Kate del Castillo, a atriz mexicana que, segundo Penn, ajudou a organizar o encontro, também está sendo investigada. Penn conversou com Guzmán durante sete horas e realizou outras entrevistas depois por telefone e por vídeo, de acordo com seu artigo publicado no sábado pela Rolling Stone.

Pedido de extradição

O fraco sistema de justiça mexicano será testado novamente à medida que o processo de extradição prometido pelo governo for realizado, de acordo com Mike Vigil, diretor internacional de operações do Departamento Antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) aposentado.

O advogado de Guzmán agora tem três dias para apelar a extradição e 20 dias para fornecer argumentos justificativos.

O processo de extradição enfrenta riscos, como extensos procedimentos jurídicos em que medidas judiciais provocam anos de atrasos, disse Vigil. Os tribunais mexicanos também poderiam ser susceptíveis a intimidações tanto de Guzmán quanto das autoridades federais, disse ele.

Guzmán foi preso pela primeira vez na Guatemala, em 1993, e extraditado para o México. Ele fugiu de uma prisão de segurança máxima no estado de Jalisco em 2001, foi recapturado em fevereiro de 2014 e escapou da prisão El Altiplano, perto da Cidade do México, em julho. Depois da dramática captura na sexta-feira, após horas de perseguição por oficiais da Marinha, ele foi levado novamente à prisão El Altiplano, onde a segurança foi reforçada para evitar outra fuga.

“O governo mexicano se tornou muito bom em perseguir líderes de organizações criminosas”, disse Andrew Selee, vice-presidente executivo do Woodrow Wilson Center. “O problema é que o restante do sistema de justiça criminal não evoluiu do mesmo modo”.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCrimeMéxicoseguranca-digital

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado