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Enterro de George Floyd em Houston ganha aspecto de campanha eleitoral

A entrada da questão racial na campanha eleitoral americana explica, em parte, a liderança do democrata Joe Biden, que subiu para 14 pontos porcentuais

"Não podemos ignorar o racismo, o abuso sistemático que ainda flagela a vida americana", disse Biden (David J. Phillip-Pool/Getty Images)

"Não podemos ignorar o racismo, o abuso sistemático que ainda flagela a vida americana", disse Biden (David J. Phillip-Pool/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de junho de 2020 às 07h16.

O enterro de George Floyd, negro morto por um policial branco no dia 25, ganhou ontem um forte caráter eleitoral. A cerimônia foi comandada pelo reverendo Al Sharpton, ativista dos direitos civis, e contou com mensagem de vídeo de Joe Biden, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. "Não podemos ignorar o racismo que está impregnado na nossa alma, o abuso sistemático que ainda flagela a vida americana", disse Biden.

As imagens que mostram a morte de Floyd, asfixiado pelo joelho do policial Derek Chauvin, em Minneapolis, provocaram uma onda de protestos contra o racismo nos EUA e em várias cidades do mundo. Todos os 50 Estados americanos, incluindo Utah e Virgínia Ocidental, onde a maioria branca é esmagadora, registraram protestos.

Livros como White Fragility ("Fragilidade Branca"), de Robin DiAngelo, e How to be an Antiracist ("Como Ser um Antirracista") de Ibram Kendi, subiram ao topo da lista de mais vendidos da Amazon e do New York Times. Uma pesquisa do instituto SSRS, divulgada pela CNN na segunda-feira, mostrou que 42% dos americanos agora consideram a questão racial como importante na hora de votar em novembro - à frente da pandemia (31%), do sistema de saúde (39%) e da economia (40%).

A pesquisa indica que 8 em cada 10 americanos acham os protestos justificáveis. Na mesma sondagem, a aprovação de Trump caiu 7 pontos porcentuais, de 45%, em maio, para 38%, em junho - a reprovação subiu de 51% para 57%, no mesmo período. A entrada da questão racial na campanha explica, em parte, a liderança de Biden, que era de 5 pontos porcentuais (51% a 46%), no mês passado, e subiu para 14 pontos porcentuais (55% a 41%).

Pressionado até por alguns aliados para tentar adotar um tom mais conciliatório, Trump virou alvo no funeral. Uma das críticas mais duras veio da sobrinha de Floyd, Brooke Williams, que questionou se algum dia os EUA foram realmente "grandes" - uma referência ao slogan de campanha de Trump, "Make America Great Again". "Meu nome é Brooke Williams, sou sobrinha de George Floyd e eu consigo respirar", disse a jovem, lembrando as últimas palavras do tio - "Não consigo respirar". "Enquanto eu estiver respirando, haverá justiça."

Trump também foi criticado por Sharpton, que o acusou de estar mais interessado em conter os protestos, colocando vidas em risco, do que em acabar com a violência policial. "Vocês têm o voto", disse o reverendo. Mais cedo, o pastor William Lawson afirmou que a morte de Floyd iniciou um movimento global, mas que antes era necessário "limpar a Casa Branca".

Biden, que permanece recluso em sua casa em Wilmington, no Estado de Delaware, em razão da pandemia, mandou uma mensagem de vídeo. "Sei que você tem muitas perguntas, querida", disse o democrata, se dirigindo a Gianna, filha de 6 anos de Floyd. "Sei que nenhuma criança deveria ter de fazer as perguntas que muitas crianças negras fazem há gerações. Mas não podemos fugir."

O ex-vice-presidente dos EUA teve a vida marcada por tragédias pessoais: sua primeira mulher Neilia e sua filha Naomi morreram em um acidente de carro em 1972, logo após ele ser eleito para seu primeiro mandato de senador. Em 2015, seu filho Beau morreu de câncer no cérebro.

Apesar de a cerimônia ter sido privada, apenas para amigos e parentes, o funeral foi transmitido ao vivo pelo site da Igreja Fountain of Praise, que Floyd frequentava até se mudar para Minneapolis. As mães de Eric Garner e Michael Brown, negros mortos pela polícia em 2014, também estavam presentes.

Pressão

Aconselhado a moderar o tom, Trump ainda não deu sinais de que amenizará o discurso. Ontem, ele defendeu a tese de que um idoso ferido pela polícia de Buffalo, no Estado de Nova York, na semana passada, pode ter encenado o episódio. Martin Gugino, de 75 anos, foi empurrado por policiais e se feriu na queda.

As cenas foram gravadas e causaram uma onda de indignação, pois a versão oficial era de que Gugino havia "tropeçado". Dois policiais foram suspensos e, em represália à punição, 57 agentes pediram demissão, criando uma crise na polícia da cidade. "O manifestante de Buffalo pode ser um provocador da antifa", escreveu Trump no Twitter, referindo-se ao movimento antifascista que ele acusa de fomentar a violência nos EUA.

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