Civis deixam Bakhmut, na Ucrânia, com seus pertences em mãos (Anna Malpas/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 15 de agosto de 2024 às 08h17.
Última atualização em 15 de agosto de 2024 às 08h23.
O Exército ucraniano avança na região russa de Kursk e pretende criar uma "zona tampão" e corredores humanitários, afirmou Kiev nesta quarta-feira, 14, quando sua grande operação em território russo completou oito dias. Confrontada há dois anos e meio pela invasão de Moscou, Kiev surpreendeu seu inimigo em 6 de agosto com a maior incursão de um Exército estrangeiro no país desde o final da Segunda Guerra Mundial.
"Estamos avançando na região de Kursk. De um a dois quilômetros em diferentes zonas desde o início do dia. Mais de 100 militares russos adicionais foram capturados no mesmo período", indicou no Telegram o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
À noite, o presidente reiterou que suas tropas prosseguiam "bem" em seu avanço. "Estamos alcançando nosso objetivo estratégico", ressaltou.
A incursão obrigou à retirada de mais de 120 mil pessoas, causou a morte de 12 civis e mais de cem feridos, segundo autoridades russas.
O Exército russo indicou que suas forças terrestres, apoiadas pela aviação, drones e artilharia, "repeliram as tentativas dos grupos móveis inimigos a bordo de blindados de penetrar profundamente em território russo".
A zona tampão, ou zona de amortecimento, é uma área controlada por forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) que divide dois Estados em guerra.
Nesta quarta, a ministra da Reintegração dos Territórios Temporariamente Ocupados, Iryna Vereshchuk, e o ministro ucraniano do Interior, Igor Klymenko, em declarações separadas, anunciaram que a operação foi projetada para proteger as regiões fronteiriças ucranianas, como uma espécie de "zona de segurança" ou "zona tampão" no território russo.
A ex-república soviética, independente desde 1991, escolheu a estratégia para "proteger nossas comunidades fronteiriças dos bombardeios hostis diários", anunciou Klymenko. Iryna Vereshchuk anunciou que as tropas de seu país planejam "abrir corredores humanitários para a retirada de civis: tanto na direção da Rússia como da Ucrânia", e autorizar o acesso de organizações humanitárias internacionais. A ministra explicou que há civis nessa área e que eles estão "protegidos pelo direito humanitário".
"[Os militares ucranianos] conduziriam operações humanitárias para dar suporte aos civis dentro da zona mencionada", explicou a ministra, acrescentando que também seriam criados corredores para os civis se deslocarem. Até o momento, mais de 120 mil russos deixaram suas casas.
Zelensky mencionou na terça-feira combates "difíceis e intensos" na região de Kursk e afirmou que 74 localidades estavam sob controle de Kiev. Também disse que "centenas" de russos foram feitos prisioneiros.
O governador da vizinha Belgorod, Viacheslav Gladkov, decretou estado de emergência nesta quarta-feira pelos intensos bombardeios ucranianos.
O comandante ucraniano, Oleksander Sirski, reivindicou a tomada de 1.000 km² de território russo.
Autoridades russas afirmaram na segunda-feira que perderam o controle de 28 localidades e que a incursão estende-se por 40 quilômetros de largura e 12 de profundidade no território russo.
Segundo cálculos realizados na terça-feira pela AFP a partir dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com base em fontes russas, as tropas ucranianas avançaram 800 km2 na região de Kursk.
A título de comparação, a Rússia ocupou 1.360 km2 de território ucraniano desde 1º de janeiro de 2024, segundo a mesma fonte.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores ucraniano, Georgy Tiji, garantiu na terça-feira que Kiev não deseja anexar nenhum território tomado em Kursk e que cessará se Moscou aceitar uma "paz justa".
Desde fevereiro de 2022, a ex-república soviética enfrenta uma ofensiva de Moscou, que ocupa até 20% de seu território, incluindo a península da Crimeia, anexada em 2014.
As negociações estão estagnadas pela dificuldade de conciliar as exigências.
Zelensky afirma que tenta desenvolver um plano antes das eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos, seu principal aliado, para servir de base em uma cúpula de paz que inclua o Kremlin.
Seu homólogo russo, Vladimir Putin, estabeleceu como condição para as negociações que Kiev desista dos territórios ocupados por Moscou e renuncie à adesão à Otan, requisitos inaceitáveis para a Ucrânia e seus aliados ocidentais.
Na terça-feira, o presidente americano, Joe Biden, disse que a ofensiva ucraniana "cria um verdadeiro dilema para Putin".
Russos, entre a ansiedade e o desdém
Para a Ucrânia, a incursão levanta a moral de suas tropas, após meses na defensiva e cedendo terreno ao inimigo com mais armas e soldados.
Em Moscou, o sentimento é de angústia. "Estamos muito preocupados", disse Olga Raznoglazova, que vive a 30 km da usina nuclear de Kursk
"Pelo que sabemos, a ofensiva foi controlada e nossos soldados estão tomando as medidas necessárias e nos defendendo", afirmou.
Imagens capturadas pela AFP mostram o que seriam soldados do exército russo, capturados pelas forças ucranianas, sendo transportados amarrados e com os olhos vendados em uma caminhonete. O Exército ucraniano iniciou em 6 de agosto uma ofensiva surpresa em Kursk, uma região que faz fronteira com o país, tomando cerca de 74 localidades (ou quase 30, segundo Moscou) e provocando a fuga de dezenas de milhares de civis. Após Kursk ter declarado situação de emergência, Belgorod, outra região russa, fez
declaração similar nesta quarta-feira, com informações de que Moscou está retirando soldados da Ucrânia para tentar conter a ofensiva dentro de seu território.
No vídeo, os prisioneiros vestiam uniformes militares russos e estavam sendo levados em um veículo militar para longe da passagem de fronteira, em direção à cidade de Sumy, uma cidade ucraniana na fronteira com Kursk. Vídeos que circularam ainda no início da invasão mostram o momento em que soldados russos são capturados.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, informou nesta quarta-feira que as tropas ucranianas capturaram "mais de 100 militares russos" durante a ofensiva na região fronteiriça de Kursk, que segue pelo oitavo dia. A captura, segundo o presidente, "aceleraria o retorno de nossos meninos e meninas para casa", indicando uma possível troca entre prisioneiros de guerra.
Zelensky também informou que as tropas seguiam "avançando", enquanto o Ministério da Defesa russo alega que suas tropas continuam a "repelir uma tentativa de invadir o território da Federação russa" e que teriam conseguido impedir novos avanços das tropas ucranianas.