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Entenda o Boko Haram, o grupo que aterroriza a Nigéria

Nos últimos meses, cerca de 900 mil pessoas deixaram seus lares por medo de ataques dos extremistas. Conheça aqui um pouco da trajetória e ambições deste grupo


	Rachel Daniel com a foto da filha Rose, uma das mais de 200 meninas sequestrada pelo Boko Haram, na casa da família em Maiduguri
 (Joe Penney/Reuters)

Rachel Daniel com a foto da filha Rose, uma das mais de 200 meninas sequestrada pelo Boko Haram, na casa da família em Maiduguri (Joe Penney/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 30 de abril de 2015 às 17h59.

São Paulo –Informações do governo da Nigéria revelam que, nos últimos meses, cerca de 900 mil pessoas deixaram seus lares por conta do medo de novos ataques do Boko Haram, o grupo radical islâmico que vem aterrorizando o país.

Liderados por Abubakar Shekau, um dos terroristas mais procurados pelos EUA, os militantes do Boko Haram têm espalhado terror pela região nordeste do país e são conhecidos pela crueldade de seus ataques.

No início do ano, por exemplo, o grupo varreu a região da cidade de Baga. Muito bem armados, dispararam contra a população local, queimaram edifícios e sequstraram dezenas de mulheres.

Estima-se que este triste episódio, que devastou 16 vilarejos, tenha deixado cerca de dois mil mortos. Dias depois, os militantes ultrapassaram as fronteiras da Nigéria e sequestraram 60 pessoas em Camarões

As tentativas de expansão do Boko Haram colocaram o grupo em pauta na Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta semana, a entidade se reuniu com países centro-africanos para debater planos de ação contra os jihadistas.

EXAME.com reuniu algumas das principais informações sobre o grupo, sua história e suas ambições. Confira abaixo.

Fundação

De acordo com analistas do Council on Foreign Relations (CFR), o grupo se formou nos idos de 2002 em Maidguri, capital do estado de Borno. Na época, era liderado por um extremista chamado Mohammed Yusuf.

Nome original

O nome original do grupo é “Jama'atu Ahlis Sunna Lidda'awati Wal-Jihad” que, segundo a rede de notícias CNN, significa “pessoas comprometidas em propagar os ensinamentos do profeta e o jihad”. Ganhou o apelido de “Boko Haram” que pode ser traduzido como “educação ocidental é pecado.”

Objetivo

A ideia do Boko Haram é a de consolidar a Nigéria como um país islâmico com a instalação de tribunais especializados na aplicação da sharia, as leis islâmicas. 

Táticas

Segundo reportagem do jornal britânico The Guardian, a estratégia do grupo é composta por três pilares: explosões em cidades de médio e grande porte, ataques por terra em cidades pequenas e vilarejos rurais e invasões em delegacias e bases militares.

Meios de financiamento

Ainda de acordo com o The Guardian, as principais fontes de renda do grupo são sequestros e o consequente pagamento de resgates, assaltos a bancos e saques em delegacias e bases militares para a obtenção de armas.

Caminho para a radicalização

Ainda segundo o CFR, até 2009, o Boko Haram não organizava levantes violentos contra o governo da Nigéria.

Ao longo dos anos, contudo, se tornaram frequentes os confrontos entre cristãos e muçulmanos, assim como aumentou a brutalidade policial. Enquanto o clima de violência e insegurança estremecia o país, o nordeste agonizava com a extrema pobreza.

O grupo passa então ganhar cada vez mais seguidores e torna-se o especialmente popular entre estudantes, religiosos e desempregados daquela região. O momento decisivo veio em 2009, quando militantes se recusaram a obedecer a uma lei que exigia que motociclistas usassem capacetes.

A repressão da polícia foi implacável e o episódio virou um sangrento confronto. Na ocasião, estima o CFR, 800 pessoas morreram. Yusuf, inclusive. Shekau, até então o número 2 do grupo, passou a assumir a liderança.

Ataques cada vez mais violentos

A partir da liderança de Shekkau, os ataques do Boko Haram foram se tornando cada vez mais violentos. Em 2013, 60 estudantes foram mortos enquanto dormiam em uma escola rural no estado de Yobe, enquanto que dezenas de caminhoneiros foram decapitados com motosserras.

Em abril de 2014, um ataque em um terminal de ônibus deixou cem mortos. Dias depois, invadiram uma escola para meninas e sequestraram mais de 200 estudantes. A maioria delas segue desaparecida e foi por conta deste caso que o mundo voltou as suas atenções para as atividades do grupo.

Laços com outros grupos terroristas

Nos últimos anos, analistas relataram que os ataques do Boko Haram e a forma como o grupo se organiza foram se sofisticando, o que sugere que seus militantes contam com alguma ajuda externa.

Para o governo dos Estados Unidos, há indícios de que os militantes nigerianos tenham laços com braços do Al Qaeda na região (Al Qaeda do Magreb Islâmico e Al Qaeda na Península Arábica) e também com os somalianos do al-Shabab.

E o que faz o governo da Nigéria?

Segundo analistas, a Nigéria por muito tempo fechou os olhos para a ameaça representada pelos extremistas e demorou até tomar atitudes contra o grupo.

Apenas na semana passada, por exemplo, poucos dias após o sangrento massacre em Baga, é que o presidente do país Jonathan Goodluck realizou uma visita ao estado de Borno, o mais atingido pelo Boko Haram. Há dois anos ele não colocava os pés na região.

O exército do país, por sua vez, tampouco está conseguindo combater os militantes com eficácia. E um dos motivos para tanto é o fato de que, após dezenas de saques feitos em bases militares, o Boko Haram está bem armado. 

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